Da Apocalíptica ao Mundialismo hebraíco/sionista
Don Curzio Nitoglia
[Tradução: Gederson Falcometa]
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«Quem quer fazer Teologia não pode ignorar o problema hebraico e quem faz política non pode não recorrer a Teologia».
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Literatura apocalíptica
· A Apocalíptica não é para ser confundida com o Apocalipse de São João, que «no século XVIII foi um dos maiores alvos da crítica anti-religiosa do iluminismo intelectualista». A Literatura Apocalíptica é o «complexo de escritos pseudônimos judaicos surgidos entre o séc. II a. C. e o séc. II d. C. ». A Apocalíptica nasce no tempo em que o Helenismo pagão triunfa em Israel, que é oprimido e o Templo é profanado (168-164 a. C.). Então, depois do sucesso de Antíoco Epífanes (+ 164 a. C.), a conquista da Judeia por parte de Roma com Pompeu (63 a.c.) e a destruição do Templo com Tito (70 d.C) e da Judeia com Adriano (135 d.C.) se acende sempre mais a esperança do resgate nacional judaico sob a guia dos “falsos profetas” preditos por Jesus. A Apocalíptica apócrifa, para reforçar este revanchismo nacionalista, se serve dos Profetas canônicos do Antigo Testamento e lhes enriquecem de predições imaginativas que descrevem o triunfo de Israel sobre Pagãos ou não hebreus (goyjim): «Israel será libertado e vingado, e, guiado por Jahweh e pelo seu Messias, se saciará na paz e na abundância; as 12 Tribos voltaram para imperar sobre os Gentios domados e pisados». A Apocalíptica apócrifa judaica tem um caráter eminentemente “esotérico” e é atribuída comumente aos Essênios. Monsenhor Antonino Romeo escreve que a matéria da Apocalíptica é ideológica, política e escatológica, essa trata « da vingança final divina sobre as forças do mal triunfantes atualmente; da vingança sobre os Gentios e da restauração gloriosa de Israel. […]. O Reino de Deus reveste geralmente o aspecto nacionalista-terreno: esmagante vingança de Israel, cumulado para sempre de prosperidade e de domínio». O reino de Israel ou do Messias, que coincide com a Nação judaica, “será deste mundo, […], e trará de volta o Éden aqui embaixo. Em tal concessão judaica, a pessoa humana conta bem pouco: Israel se torna realidade absoluta e transcendente, a redenção é coletiva em vez de individual, antes cósmica mais que antropológica. […]. O Messias é representado como um rei e um herói militante. […]. Jamais o Messias é vislumbrado como redentor espiritual, expiador dos pecados do mundo”. Em breve «o tema supremo aparecerá em função exclusiva da glorificação de Israel, a ‘fé’ é a impaciente espera pela ansiada vingança sobre os Gentios. A aspiração a união com Deus, o amor de Deus e do próximo estão completamente fora destes escritos Apocalípticos, que fomentam a paixão da vingança e do domínio mundial […]. Para os Gentios os Apocalípticos são implacáveis: toda compaixão por eles passaria por debilidade na fé. […]. Os ‘videntes’ da Apocalíptica enraivecem, com voluptuosidade feroz e ódio insaciável Os “apocalipses” assumem um lugar decisivo na odiosa propaganda contra os Gentios; são armas de guerra […]; ao contrário do Evangelho (Mt. VI, 34), a religião Apocalíptica tem uma só preocupação e ânsia: o Futuro […] os Impérios dos Gentios se aniquilarão um após o outro até que o domínio universal não passe a Israel». Daí resulta «o particularismo judaico condenado pelo Evangelho. O mais ambicioso nacionalismo encarece as suas pretensões. Os Gentios são mais desprezadas e odiados do que nunca: o fosso entre Israel e esses se transforma em um abismo». Segundo alguns exegetas (J. Klausner) a Apocalíptica “atua como um elo de ligação entre o Velho Testamento e o Talmude” e o “seu esoterismo se aproxima da Cabala (Romeo/Spadafora, cit.). Todavia, especifica Monsenhor Romeo, «a Apocalíptica falsificou o Velho Testamento e, abaixando o ideal messiânico dos Profetas, obstruiu as vias do Evangelho e preparou os Judeus para rejeitar Jesus. Apresentando um Messias que restaura em Israel a independência política e lhe procura o domínio universal, a Apocalíptica acentuou o particularismo nacionalista e impulsiona Israel a rebelião contra Cristo e contra Roma, e então ao desastre».