DON CURZIO NITOGLIA: SALAZAR FILÓSOFO DA POLÍTICA E VERDADEIRO HOMEM DE GOVERNO



[Extratos]
PADRE CURZIO NITOGLIA
[Tradução: Gederson Falcometa]
22 de julho de 2010
 

 Ai dos povos que não suportam a superioridade de seus grandes homens! Mais desventurados ainda aqueles onde a política não é ordenada de modo a permitir  aos homens de raro valor a servirem as suas nações […]. Mas quase em toda parte os homens parecem hoje inferiores aos acontecimentos. Ao invés de lhes fazer frente, esses tentam fugir. Eles se sentem fora de forma, incapazes de reagir de forma tão poderosa contra as forças desencadeadas”. (Salazar)

Prólogo

JACQUES PLONCARD D’ASSAC,     que foi por muitos anos o confidente de Salazar, escreveu uma biografia (Salazar, Paris, Edition de la Table Ronde, 1967; tr. It., Milão, Le Edizioni del Borghese, 1968), na qual traça também a linha do pensamento político do estadista português. No presente artigo me baseio sobre o escrito do celebérrimo contra-revolucionário francês (autor entra tantos outros livros, também de Doctrines du Nationalisme, 1959; L’Etat corporatif, 1960; L’Eglise occupée, 1975; Le secret des Francs-Maçons, 1979; Apologia della reazione, Milão, Edições de Borghese, 1970, quando reassume em um capítulo a figura de Mons. Humberto Benigni e a doutrina do Sodalitium Pianum fundado por ele para combater o modernismo e os modernistas).


Vida

Salazar nasce em 28 de abril de 1889 em Vimiero as três da tarde e seu nome completo era ANTÔNIO DE OLIVEIRA SALAZAR. Em 1900 entra no Seminário e onde ficou até 1909, quando, aos dezenove anos, o deixou para empreender os estudos de jurisprudência na Universidade de Coimbra. Portugal em 1910 passa por uma onda de revoltas, depois do assassinato do rei Manuel II feito por dois maçons em 1º de fevereiro de 1908 e em 5 de outubro de 1910 vem ser proclamada a República filo-maçônica e anti-cristã. Este acontecimento levou o nosso jovem estudante de leis a ocupar-se atentamente dos eventos políticos e ler a luz do ensinamento do sistema tomista e do Magistério Eclesiástico, que havia recebido no Seminário.

Filosofia política tomista conhecida e vivida

Salazar desde o inicío escreve que “o problema nacional é primeiro um problema de educação e pouco importa mudar o regime ou partido se não se inicia antes de tudo a mudar os homens. Necessitamos de verdadeiros homens e é necessário educar-los”. A sua filosofia política é muito diferente daquela de CHARLES MAURRAS. Por isto precisa ocupar-se antes de tudo da política (“politique d’abord”), enquanto o Português havia entendido que é necessário primeiro ocupar-se do homem: se não tem verdadeiro homem, animal racional e livre, equipado de inteligência reta para conhecer o verdadeiro e refutar o falso e de vontade livre para fazer o bem e fugir do mal, se este homem, que é também animal social, não é educado a ser dono de seu corpo, de seus sentimentos e de suas paixões e a realizar a sua finalidade na sociedade na qual vive, não vale nada uma “estrutura política” ou a forma de governo. Antes de tudo a formação do único homem, da família que ele faz parte e então se poderá organiza corretamente a Sociedade civil, que está junto da família. Como não se pode edificar uma casa se não se colocam os singulares tijolos um sobre o outro, assim não se pode organizar o Estado, a societas ou a polis, se primeiro não se educa o homem e as famílias que a constituem. Para Salazar “são as idéias que governam e dirigem os povos, e são os verdadeiros e os grandes homens que possuem as verdadeiras e grandes idéias”, mas para haver os verdadeiros grandes homens, que realizam a natureza de animais inteligentes deles, livres e sociáveis, é preciso educar-los, formá-los; então é necessário preparar um sério método de educação integral do homem, no seu físico, na sua sensibilidade, na sua racionalidade livre e responsável, chamada a realizar-se em sociedade com outros homens. Para toda a sua vida política (1926-1970) Salazar procurará formar verdadeiros homens, verdadeiras familiar e uma verdadeira Sociedade, Nação ou Pátria.
·         Se Salazar não é maurrassiano, não queria nem mesmo a criação em Portugal de uma “Democracia Cristã” do tipo do Sillon francês, mas trabalhou para o inserimento dos princípios católicos na vida social e política de seu país, contrariando o espírito católico liberal. Ele é a “prova provata” que se pode ser integralmente católico, sem ser maurrassiano.

Fidelidade ao magistério

·         O “pecado da Monarquia”, a saber ou reter que a única forma possível de governo seja aquela monárquica, como pensavam os inimigos de Leão XIII na França em 1892 e depois os maurrassianos em 1926, não há nunca tocado a inteligência formada no tomismo e nas diretivas do supremo Magistério pontifício, de Salazar: “a forma de governo é secundária. Aquilo que conta são os homens”. Em 1918 se forma e é nomeado professor de Ciência de Doutrina Econômica na Universidade de Coimbra. Ele inicia o ensinamento com a ideia diretriz de toda sua vida:”quer ser formador de homens, acredita na virtude do ensinamento, o faz passar para ação política e a disto faz depender o futuro do renascimento politico do seu país”. Segundo nossa fonte, para Salazar “apenas a ação dos partidos políticos não podem resolver os grandes problemas que nos cercam. […] A solução dos quais – costumava dizer – se encontra muito mais em cada um de nós que na cor política dos ministros. Eu trabalho para fazer dos meus estudantes, homens, no mais alto significado dos termos e do bom português. […] O problema nacional aquele da educação e do desenvolvimento integral e harmonioso de todas as faculdades do indivíduo e não apenas da inteligência”. Certamente a política, como virtude prudência social, é importante para Salazar, mas vem somente depois de haver formado o homem, como a societas ou a polis se formam somente depois que várias famílias se unirem em vista um fim e embaixo de uma autoridade.
·         Salazar é candidato do “Centro Católico” ao Parlamento, é eleito e em 2 de setembro de 1921 participa pela primeira e última vez de uma sessão parlamentar. Dali permanece chocado. Na verdade um ministro português do partido conservador, do qual fazia parte a maioria, depois de ter dito que na França os progressistas haviam vencido as eleições, lhes disse: “Não podemos fazer nada. É o momento da esquerda!”. Ele vê – naquele instante – toda a inutilidade e vacuidade da vida parlamentar. O governo tinha a maioria, mas se sentia impotente de governar porque em um país estrangeiro a esquerda havia vencido as eleições. “O nosso futuro depende só de nós, comenta Salazar, o presente ainda é nosso”, e na mesma noite revisa a renúncia do cargo de deputado. Apreciava a política como prudência social, mas não a partidária parlamentarista e o democratismo rosseauniano.

As três formas de governo

Em 1922 enfrenta o problema da forma política a ser dada a Portugal como filósofo da política e não como parlamentar. Ele se guia pelo ensinamento que em 18 de dezembro de 1919 Bento XV na Epístola ao Cardeal Patriarca de Lisboa Celebérrima evenisse  tinha dado aos portugueses retomando a Carta Encíclica que Leão XIII havia escrito aos Franceses, em 1892 (Au milieu des sollicitude). Papa Giacomo Dalla Chiesa exortava os católicos portugueses a submeterem se a autoridade da República, porque todas as formas de governo em si são licitas; o que a faz boa ou ruim são as leis que elas fazem.
Ora a monarquia em Portugal foi derrubada em 1909 e não sem nenhuma possibilidade de vitória. Portanto os católicos devem fazer de modo que a República portuguesa tenha um parlamente que legisle conforme de acordo com o direito divino-natural: “Que os fiéis obedeçam as autoridades, qualquer que seja o ordenamento do Estado. Disso depende o bem comum, que é a suprema lei do Estado. […]. É dever cristão a fiel submissão ao poder constituído, como ensinou admiravelmente Leão XIII na Carta Encíclica Au milieu des sollicitudes de 16 de fevereiro de 1892. […]. A Igreja recentemente tem renovado relações mútuas com a República Portuguesa, os católicos de valor, por sua vez submetem-se com boa vontade ao poder civil como agora constituído”. A política do “re-avizinhamento” em Portugal teve bom êxito, porque os católicos portugueses obedeceram ao Papa e seu pensador era Salazar; na Itália a política de “Reconciliação” de 1929 teve bom êxito (ver Motu Proprio Non Abbiamo Bisogno de Pio XI), porque era Chefe do governo um homem que não tinha os preconceitos da escola liberal do ressurgimento de absoluta separação entre Estado e Igreja,  como declarou ele e o Papa Pio XI; somente na França o “Ralliement” falha, porque o galicanismo não aceitou o conselho do Papa e se agravou sobre Pio XI em 1926 com Maurras, que era ateu e tendia para a separação entre Estado e Igreja, entre a política e a moral. O essencial para a Igreja e para Salazar é que a República reconheça que “a autoridade vem de Deus” (São Paulo) remotamente e do povo somente como canal, o qual designa um nome e lhe transmite, como  um “canal”, a potestas quae est nisi a Deo como “fonte”. Também a República não hipoteca o democratismo igualitarista e contratualista de Rousseau, mas aceita a hierarquia natural como meio necessário ao homem, que vive em sociedade, para alcançar o bem comum temporal subordinado àquele espiritual. Outro tema importante de filosofia política, tocado naquele por Salazar, é aquele da legitimidade do poder. Ele se baseia na finalidade do poder, que deve fazer leis conforme ao fim da sociedade; uma lei deformada daquela divina e natural non est lex sed corruptio legis.

Governo “de fato” constituído e legítimo

Salazar se pergunta, e responde de acordo com a doutrina católica, sublimada em SANTO TOMÁS DE AQUINO, na segunda escolástica espanhola e portuguesa (JOÃO DE SANTO TOMÁS); o governo simplesmente constituído, que não seja ainda legítimo, deve ser obedecido? Ora, “constituído” equivale a “eleito, fundado, unido, estabelecido ou presente” (N. ZINGARELLI). Se isto não viola a lei divina e natural, se lhe deve obediência e, se legisla não para o bem comum ou em vista do fim da sociedade, a revolta é licita somente com a condição que seja a extrema ratio, que se esteja certo do sucesso do sucesso do golpe de Estado e que a situação posterior não seja igual ou pior aquela do governo derrubado (V. “Tirannide e tirannicio”, neste mesmo site). O governo português não obrigava os súditos a violar a lei divina e podia estando “legalmente constituído” tornar-se “moralmente legítimo” por modum facti; por isso foi necessário – segundo o nosso estadista filósofo – entrar na arena política e fazer o parlamento socialmente ou politicamente bom, que fez, o que é, das  leis conforme aquela divino-naturale e correspondente ao fim sociedade civil. Para Salazar a política do “Re-avizinhamento” era lícita e também louvável, também porque “é necessário subordinar a preferência e a atividade política a defesa da religião […]. Os católicos, então, devem obedecer ao poder constituído e a princípio aquele legítimo” em tudo que não é contrário a lei de Deus. Ora a forma de governo republicana não é má em si. Então se pode e deve sustentar a República portuguesa no governo desde 1910 e buscar fazê-la sempre em maior conformidade ao Reino social de Cristo. Para o nosso estadista filósofo, “é mais urgente e importante dentro do atual regime constituir a liberdade fundamental da Igreja e das almas que substituir um regime (república) por um outro (monarquia). […]. O que conta é o interesse da Nação e da Igreja, o bem comum temporal e espiritual. A transformação em melhor República portuguesa será interna, com a proibição dos partidos e organizações corporativas, […] superando o individualismo partidário do parlamentarismo democrático com a ordem corporativa”.

Democracia aristotélica-tomista

Como se vê, a “democracia” segundo Salazar é aquela clássica de Aristóteles e Santo Tomas e não aquela de Jean Jacques Rousseau. A “política” é a prudência social e  não a “partidária”, que leva divisão a sociedade ao invés de uní-la em vista do bem comum. Hoje, infelizmente, a tendência é confundir “política” com “partido” ou democracia parlamentar; Nada mais falso. O homem naturalmente é um animal social; nada mais “inatural abstrato e falso que o homem isolado”ou que o individualismo liberal, assim como o coletivismo pan-estadismo totalitário. Como se vê, a concessão política de Salazar é a filosofia social; da Igreja, dos Padres Eclesiásticos e dos Escolásticos, especialmente de Santo Tomás de Aquino. A sua práxis política e de governo deriva e segue como conclusão prática desta filosofia. Salazar foi comparado a Sólon, a Mentor (o sábio conselheiro de Ulisses na Odisséia) ou a Platão, ele é “mais um filósofo que um ditador, um daqueles sábios da antiga Grécia que velavam sobre a sorte dos homens, como protetores e moderadores, ou que escreviam as leis” (Gabriel Boissy, La Tribune des Nations, 30 de abril de 1936). Sem dúvidas ele é um pensador, um contemplativo completado por um homem de ação.

A questão operária: nem liberalismo e nem comunismo

A questão operária, agitada pelo social-comunismo, foi resolvida por Salazar segundo os princípios dados por Leão XIII na Carta Encíclica Rerum Novarum de 1891 e retomados por Pio XI na Quadragesimo anno em 1931: “é errado crer que somente os operários trabalham e produzam; que as outras classes vivam do seu esforço como parasitas. Há uma hierarquia no trabalho: trabalho de invenção, de organização, de direção e de execução. […]. Há uma desigualdade natural. […]. Há uma riqueza-egoísmo, destinada ao consumo e ao pagamento das necessidades criadas artificialmente da sociedade consumistas [ crematística (ciência que se ocupa da riqueza), logística ou monetária]; há uma riqueza-sacrifício, que exige previdência, a economia e o espírito de sacrifício [economia ou “prudência familiar”]”. Salazar evita as escolhas do socialismo e do liberalismo, fundando-se sobre a doutrina social da Igreja. Em 1926, diante do perigo de um golpe de estado comunista o general Carmona, toma o poder e nomeia Salazar ministro das Finanças, da guerra, em seguida do interior, finalmente Presidente do Conselho, sem parlamentarismo, em um Estado Nacional corporativo a saber em uma ditadura pro tempore. Salazar, antes de ser um estadista é um homem de governo, e um filósofo da política; era usual ele dizer: “ai dos povos nos quais os governos não podem definir os princípios superiores, uma doutrina econômica e também uma filosofia, a qual obedeça sua administração pública”. Preciso “voltar as costas ao liberalismo, que desmembrou o indivíduo da sua família e da sociedade, […] para voltar me em direção a um Estado corporativo e social em estreita relação com a constituição natural da Sociedade civil: as famílias, as paróquias, as comunidades, as corporações, que formam a Nação”. A doutrina econômica, antes que a Universidade e do Magistério eclesiástico, Salazar aprendeu com sua mãe. Ele o confessou respeito ao “milagre da recuperação econômica portuguesa”: “Eu aprendi com a minha mãe. Administro o Estado como um hotel, com decisões e espírito de economia”. O liberalismo, ao invés, confunde a economia ou prudência doméstica com a logística ou arte de enriquecer, que faz da riqueza o fim e não um meio.

Salazar e Franco

Salazar em 1935 deve enfrentar o problema da revolução comunista na Espanha e a reação do generalíssimo FRANCISCO FRANCO (1892-1975). Ele se colocou aberta e imediatamente ao lados dos Caudilhos, embora Inglaterra, França e Estados Unidos eram hostis. Pelo contrário, desde que a Espanha republicana tinha tentado, mediar a infiltração da maçonaria internacional em Portugal, para derrubar o legítimo governo, Salazar aproveitou a ocasião para dissolver a maçonaria nove anos depois da sua tomada do poder. A maçonaria o condenou a morte. LÉON DE PONCINS (Le portogal renait) o escreve a letras claras. Ele se encontrava em Lisboa, em maio de 1935 e constatava que “a polícia prendeu, neste dia, no porto, um conhecido terrorista, Quin Marinheiro, escapado do exterior em 1921 e agora de volta em Portugal para organizar um atentado contra o Presidente da República Carmona, o Primeiro Ministro Salazar e contra Cabral, autor da lei contra a maçonaria”. Em 13 de julho de 1936 foi assassinato, provavelmente por Dolores Ibarruri o líder monárquico espanhol Calvo Sotelo. O terror se espalha em toda Espanha. Franco se levanta contra a judaico-maçonaria e o bolchevismo anticristão em uma verdade e própria cruzada. Salazar declara:”se for necessário, imitaremos a heroica juventude da Itália e da Germânia. Lutaremos com as armas em punho” e funda a “Legião portuguesa”, um corpo de voluntários prontos a combater con a idéia e com a espada, com o livro e o mosquete. Ele “se faz sempre mais conta que a guerra civil da Espanha é somente um pretexto que já prepara o grande choque final: a “cruzada” da democracia contra o fascismo”. Domingo 4 de julho de 1937 uma bomba vem a explodir a três metros de Salazar que permanece incólume e se foi tranquilamente para a Missa e depois se coloca ao trabalho comentando: “Deus não permitiu que eu morresse, então volto a trabalhar. Somos indestrutíveis porque a Providência decidiu assim”.

As causas do mal estar que agitam os povos

Salazar procura a causa de tanto mal estar que agita a Europa e o seu Portugal. Constata “um perturbamento mental e moral da Europa. […]. Enquanto as forças ao serviço da ordem agissem dispersas, existe um acordo, tácito ou formal, entre os elementos que se dedicam a desordem. […]. O posto desta batalha é mesmo a civilização européia”. Tais agitações preludiem a atividade do “partido de guerra, que procuram um choque global entre a democracia e o fascismo. Ora as democracias não se preparam nunca para a guerra se não quando a tenham já declarado. Então se começará por procurar um pretexto para se declarar a guerra. […]. Por trás da França esta a Inglaterra; por trás da Inglaterra está os Estados Unidos, e em qualquer lugar está a “cruzada” Internacional da democracia”. Salazar, enquanto sendo geo-politicamente vizinho a Inglaterra, via claro e bem longe. Com a desculpa a ditadura fascista se estava preparando o eixo Moscou-Londres-Washington, que trouxe uma nova ordem mundial, no qual a Europa, expulsa das suas colonias na África, teria sempre menos peso e vantagem que a URSS e os Estados Unidos. 


Judaísmo, americanismo e bolchevismo

Então embaixador dos Estados Unidos em Inglaterra, Joseph Kennedy, pai do futuro Presidente americano, havia escrito: “Chamberlain me disse: “A América e o judaísmo internacional tem levado com a força a Inglaterra em guerra”. E a história continua. Salazar esta consciente desta contradição, mas realisticamente sentencia que, se “moralmente Portugal é ligada a Europa até que essa continua a ser o “cérebro e o coração do mundo”, geo-politicamente é banhado pelo Atlântico, vizinho da Inglaterra, que domina os mares, os quais devem ser atravessados para Portugal ir as suas Colonias na África e na Índia”. Todavia a Inglaterra não tardará (cedendo a Índia, assim como a França a Algéria e a Bélgica o Congo), a desiludir-se deixando que as Colonias portuguesas caiam em mãos de revoltosos utopistas, sem piscar os olhos.

A crise da Europa

·         “Crise européia, crise do espírito – adverte Salazar – crise do espírito, crise de civilização. No seio da Europa nasceu a civilização greco-latina e cristã. Na provável ruína da Europa se encontrará lugar ainda para a verdade, a honra e a justiça ?”. A Rússia comunista começou a espalhar seus erros, ainda que adaptada as circunstâncias, no mundo e particularmente na Europa dos anos Vinte-Trinta” (se pensa a “Escola de Frankfurt”). Em 1968 Salazar verá a explosão paroxística de tais erros, que fará uma limpeza dos valores em que a Europa foi fundada e cresceu, e exclamou: “a guerra passada foi um mal, mas há para os povos males maiores, porque superaram a morte e a pobreza, e são a desonra e o niilismo”. Certamente o 1968 e o Concílio Vaticano II foram bem piores que a II guerra mundial.
·         A frase de Salazar relaciona acima do artigo: Ai dos povos que não suportam a superioridade de seus grandes homens! Mais desventurados ainda aqueles onde a política não é ordenada de modo a permitir  aos homens de raro valor a servirem as suas nações !” é muito atual e válida que mais do que nunca, não só para as Nações, mas também no âmbito eclesial, onde, é licito adotar o adágio “quando não há cavalos, os trote dos burros tem fãs”, nunca deveria valer “os burros na frente e os cavalos atrás”. Infelizmente, ao invés, se vê que isto segundo o provérbio também começa a tomar lugar em ambientes católicos “tradicionais”. E Salazar continua: “…os homens parecem hoje inferiores aos acontecimentos. Ao invés de lhes fazer frente, esses tentam fugir”. Se ontem o perigo mais aparente era o comunismo e o Estado não era capaz de contrapor a ele uma doutrina positiva, superior e contrária; hoje o é o judaísmo, também no campo religioso. Isto entrou mesmo na mentalidade dos homens da Igreja, também dos mais altos, com a shoah e Nostra aetate, e, se qualquer um tenta colocar remédio, é perseguido e tachado de antissemitismo.
Não se pode fugir do problema político, social, econômico e sobretudo teológico colocado pelo judaísmo nos primeiros anos depois da guerra e durante o Vaticano II até Bento XVI, precisa enfrentá-lo e reagir com igual força e poder assim desencadeados. “Contra malitiam, militia!”. Infelizmente os homens de valor não são colocados em grau de servir a Igreja e a verdade, ,mas são impedidos por “meios homens, que professam “meias verdades” (“agere sequitur esse”). Mao Tse Tung o havia planificado: “faz do homem uma meia mulher e da mulher um meio homem. Assim governará facilmente sobre meias coisas”. Nos ambientes eclesiásticos fizeram dos “monsenhores”, meios “mon-senhores” e assim a “Sinagoga de Satanás” (Apoc., II,9)  pode governar sobre “meias coisas”, a saber um híbrido o “judaico-cristianismo”. “Mala tempora currunt, sed bona tempora veniant”. Pio XII tinha intuído: “é todo um mundo a ser refeito desde o fundamento”. A restauração da Missa tradicional é um bem, mas não basta; não fugimos da realidade e não nos refugiemos na ilusão. É necessária uma mudança total de rota, no campo dogmático, moral, ascético, disciplinar e metafísico. Salazar não se fazia iludir sobre a luta naturalmente ímpar, mas queria continuar a dizer a verdade, ainda que como “uma voz que fala no deserto”, porque sobrenaturalmente “com ajuda de Deus não se sabe nunca aonde pode chegar os ecos de uma voz”.

Comunismo e colonialismo

·         Quanto ao colonialismo, veremos Salazar, nos anos Sessenta, a caminho com Inglaterra, a América e a França, que tolamente “se curvou aos ventos da história” proveniente da África e eles foram “sonhadores”. Salazar atribuía esta queda de estilo, sobretudo na Inglaterra que tinha cedido a Índia, a “falta de formação doutrinal, as verdades incompletas, as idéias muito vagas, a intoxicação de palavras e ao sentimentalismo indefinido, que sugeriam aos Estados e que não podiam não produzir outra coisa que não contradições”.
·         Um dos perigos que ameaçavam a Europa e a civilização do mundo inteiro era, para o Nosso estadista filósofo, o comunismo soviético, que tinha substituído a hegemonia alemã e que estupidamente tinha sido mantido vivo, financiado e reforçado pelos Estados Unidos. A natureza do bolchevismo o levava inevitavelmente ao desejo de domínio mundial, do qual a primeira vítima seria a Europa, a qual lutou para se opor ao nazismo enquanto havia suportado um perigo muito maior: “era pouco significativa a vitória de uma guerra, se perdiam-se os princípios especulativos e moral que apenas poderiam fundar uma civilização”. O comunismo e a subversão em gênero não se vence só com bombas, mas com uma doutrina superior e contrária ao erro materialista, que crie condições de vida adversas ao proselitismo do comunismo. O Japão tinha sido substituído pelo Estados Unidos, que, dada a sua concepção liberal e libertária de sociedade, não podia competir adequadamente com a disciplina férrea do comunismo, até que estes entrariam em colapso ab intrínseco pela deficiência inatural de seu sistema econômico, produtor de pobreza, coisa que ocorreu no fim dos anos Oitenta, a saber vinte anos depois da morte de Salazar. O solo “anticomunismo negativo” americano e das democracias europeias, sem propor uma alternativa doutrinal e prática positiva, não poderia derrotar o marxismo; na verdade não basta ser negativamente “contra” qualquer coisa, mas é preciso também ser positivamente “para” uma determinada alternativa.
·         O outro perigo era a renúncia as Colonias na África, que – segundo Salazar – era a continuação da Europa. Enquanto a URSS e os EUA primavam para a descolonização, não por motivo humanitária, os quais estavam sem bandeira única pública e exteriormente, mas realmente e em segredo para abater aquilo que restava das potências europeias, a qual não seria mais competitiva com os dois blocos (americano e russo) sem as Colonias na África e na Índia. Infelizmente a França, a Inglaterra e a Bélgica renunciaram, intoxicadas pelo democratismo americanista,  a suas Colonias e que decretou o declínio econômico, politico e militar do “Velho (mas sábio) Continente”. Também se o comunismo não desejava implantar-se na África, terá vencido, porque terá levado a desordem. É a mesma lição que aprendeu e colocou em prática hoje no Oriente Médio, a América. A “guerra travada” com o Iraque foi perdida, como aquela com o Afeganistão, ao invés conseguiu – como “guerra psicológica ou ideológica” – “vencer” colocando em caos e desordem ao menos no Iraque e espera de exportá-la ao mundo árabe inteiro, partindo do Irã, Síria, Líbano e Palestina. Todavia uma grave incógnita se ergue de fronte do judeu-americanismo do Estado de Israel: a Turquia de Kemal Ataturk (1881-1938), armada até os dentes por EUA e por Israel, com 80 milhões de habitantes e um dos exércitos mais poderosos do mundo, acaba de passar, com Recep Erdogan, ao campo inverso.
·         Salazar tinha também vislumbrado o perigo do islamismo. Em Julho de 1959 o NEGUS NEGHESTI em Lisboa encontra Salazar e declara: “A Etiópia, que tem sido desde o  Século IV o bastião da civilização cristã no continente africano, tomou para si a missão de defender a Fé e o destino do cristianismo. […]. E na cruzada contra o islã que Etiópia e Portugal tinham realizado a epopeia de sua história comum”. Salazar retoma o discurso de Negus em 1962 e afirma que “o controle da África do norte da parte Europa é essencial para a paz. Sem este controle, a segurança européia está comprometida. […]. Se a Europa continuará a enfraquecer e a perder sua coragem, a sua vontade, que lhe resta de ideal, o mundo árabe se mostrará muito ameaçador”.

A doutrina colonialista clássica de Salazar

O colonialismo salazariano, defendido até o fim, não se apoiava sobre fundamentos racistas biológico-materialista darwiniano. Todavia esse não negava a constatação de bom senso que parte do fato histórico (“contra factum non valet argumentum”) da superioridade, sem desprezo ou orgulho, da civilização européia sobre aquela africana, ele seguia a tarefa da Europa de educar a Europa, fazendo a prosperar pouco a pouco. Ele admite a existência de algumas elites norte africanas, mas dúvida da sua suficiência de governar um país sem a ajuda da Europa. Na verdade, “eles não tem abastança de elementos próprios sobre os quais apoiar-se. Ora um Estado não é constituído somente de dirigentes, mas é preciso engenheiros, economistas, agrônomos, veterinários, médicos, professores, líderes empresariais, operários especialistas”. Na falta deste corpo intermédio entre Chefe e súditos, onde chegará a África? Em direção a sua ruína, vítimas da subversão marxista ou neo-colonialistas apátridas e dos negócios trust.   
A Europa greco-romana, graças ao Cristianismo, aperfeiçoou a sua missão civilizadora universal, que deve ser colocada gratuita e generosamente a disposição dos outros países. Mas a Europa estava atravessando uma profunda crise doutrinal e moral e então não haveria podido dar aos outro o que não havia sabido manter para si mesma (“nemo dat quod non habet”). Então a crise do Colonialismo clássico ou civilizador era inevitável e em seu lugar seria infiltrada a subversão comunista e o ódio de raça ao contrário a saber os brancos ou o neo-colonialismo super-capitalista, que seria apenas o aproveitamento das riquezas naturais da África, deixando os africanos como babás de si mesmos. Infelizmente, constatava Salazar:”a Europa se envergonha de professar sua alta missão educadora e civilizadora onde Deus há chamou”. Assim hoje os homens da Igreja se envergonham de professar a superioridade, a unicidade e a verdade de uma Igreja Romana.

Salazar refuta o amodernamento e o aggiornamento

·         As forças super-capitalistas internacionais que prometeram o desenvolvimento de um Portugal liberal e democrático, ele responde:”O capital e a tecnologia não se inventa, se importa ou se cria. Quanto a mim, preferirei andar um pouco mais lentamente, no quadro de uma vida modesta, ao invés de arriscar de submeter o país a forma de colonização selvagem e estrangeira”. Havia visto com justiça. A crise econômico-financeira que agarrou hoje, depois do boom dos anos passados, a América, a Inglaterra e a Europa é o fruto de uma logística, que desejou tudo imediatamente, ao som dos dívidas. Criaram uma riqueza virtual e não real, que está para terminar submersa em um mar de notas.
·         Salazar refutou também a “despolitização” do Estado em favor da tecnocracia. A tecnologia não é superior a virtude da prudência política ou social, porque “sem a polis não existiria técnica e não se poderia trabalhar”. Perto do fim da sua vida ele responde a um cronista que o tinha perguntado se não seria desculpa manter Portugal longe “do progresso, da modernidade e do liberalismo”, “E lhe parece pouco?”. Esta frase, sozinha, detém toda a grandeza de Salazar.
·         Por estes motivos em 1961 a América e a Inglaterra o boicotaram e deixaram que Portugal perdesse as suas Colonias, e procuraram derrubá-lo politicamente, sem suceder. Em 6 de setembro de 1968 Salazar é atingido de uma semi-paralisia e remete o seu mandato nas mãos do Presidente da República almirante Thomaz, morre em 27 de Julho de 1970 as nove da manhã. Foi o homem politico mais silencioso da Europa, tinha as “Confissões” de Santo Agostinho sempre entre as mãos durante o curso da sua vida política e soube ler nos fatos históricos (intus leggere) para ver qual direção dar a vida do seu país. O governou com sagacidade do filósofo e do homem de ação, do contemplativo e do guerreiro, habituado a ver as coisas face a face, ele não arremetia em política, não tinha preguiça, nem covardia e nem o sonho utópico, mas os olhos sempre abertos. Combateu até o fim e Deus o poupou de ver a matança da revolução socialista em 1964 empossar-se de Portugal.

PADRE CURZIO NITOGLIA
22 de julho de 2010

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