Viver a própria vocação, por São Carlos Borromeo
Do Discurso dado por São Carlos Borromeo,
no ultimo Sínodo*
[Tradução: Gederson Falcometa]
Todos somos certamente fracos, o admito, mas o Senhor Deus coloca a nossa disposição meios tais que, se o quisermos, podemos fazer muito. Sem esses, porém, não será possível ter fé no empenho da própria vocação.
Façamos o caso de um sacerdote que decerto reconheça o dever de ser temperante, de ter dever dar exemplo dos costumes severos e santos, mas que depois recuse qualquer mortificação, jejum, orações, ame conversações e familiarizações pouco edificantes; como poderá ele estar a altura do seu ofício?
Haverá até mesmo quem se lamente que, quando entra no coro para salmodiar ou quando vai celebrar a Missa, a sua mente se povoa com mil distrações. Mas antes de aceder ao coro ou de iniciar a Missa, como se comportou na sacristia, como se preparou, quais meios predispôs e usou para conservar o recolhimento?
Quer que te ensine como acrescentar maiormente a tua participação interior a celebração do coral, como tornar mais grata a Deus o teu louvor e como progredir na santidade? Escuta aquilo que te digo. Se já há qualquer fagulha do amor divino acesa em ti, não a expulse, não a exponha ao vento. Tenha fechada a fornalha do teu coração, para que não se resfrie e perca o calor. Fuja das distrações o quanto puder. Permaneça recolhido com Deus, evite as conversas inúteis.
Tens o mandado de pregar e de ensinar? Estude e apliques nas coisas que são necessárias para cumprir bem este cargo.
Dá sempre bom exemplo e busque ser o primeiro em cada coisa. Reza antes de tudo com a vida e a santidade, para que não suceda que a tua conduta não esteja em contradição com a tua pregação e perca toda credibilidade.
Exercitas o cuidado das almas? Não descuides por isso o cuidado de ti mesmo, e não se dês aos outros até o ponto que não permaneça nada de ti a ti mesmo. Deve certamente ter presente a recordação das almas de que és pastor, mas não te esqueças de ti mesmo.
Compreendeis, irmãos, que nada é tão necessário a todas as pessoas eclesiásticas quando a meditação que precede, acompanha e segue todas as nossas ações: Cantarei, diz o profeta, e meditarei (cfr. Sal 100, 1). Se administras os sacramentos, ó irmão, medita naquilo que fazes. Se celebras a Missa, medita aquilo que ofereces. Se recitas os salmos em coro, medita a quem e de que coisa falam. Se guia as almas, medita em qual sangue foram lavadas; e «e tudo se faça entre vós na caridade» (1 Cor 16, 14). Assim poderemos facilmente superar as dificuldades que encontrarmos, e são inumeráveis, a cada dia. De resto isto é o requerido da missão a ti confiada. Se assim fizermos teremos a força para gerar Cristo em nós e nos outros.
* Acta Ecclesiae Mediolanensis, Milano 1599, 1177-1178
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