O retorno de Dom Quixote

O retorno de Dom Quixote:
uma aventura picaresca
em busca da
humanidade perdida.

Listener

Radio Spada
Luca Fumagalli
[Tradução: Gederson Falcometa]

 

“A vida é a mais extraordinária das aventuras,
mas só a descobre o aventureiro”
G. K. Chesterton

Na verdade poucos escritores como Chesterton tem a capacidade de emocionar. Cada livro, de fato, é uma espécie de doce sonho, berço e afago para o leitor, para depois fazê-lo acordar improvisadamente. Não se entende naturalmente o mero sentimentalismo, mas aquela capacidade extraordinária, tão típica do escritor inglês, de mover cada menor fibra da alma em direção da Verdade, daquele Cristo morto para redimir a maldade do homem, aquele Deus encarnado a quem o próprio Chesterton se rendeu durante a sua vida.

Eis então que cada página reverbera aquela certeza de que a Igreja Católica transmite de geração em geração.  Cada palavra é uma festa da simplicidade e da comoção, de tudo aquilo que torna o homem digno, daquele alimento de senso que vem muito antes dos direitos humanos, porque essência dos direitos do Criador. Desarmado, o leitor se encontra diante de uma prosa provocatória e “surrealista” que desmonta cada certeza, mas que restitui aquela alegria de viver sob o estandarte de Cristo, ao ensinamento da devoção e da santidade.

A recente republicação da obra chestertoniana aos cuidados da “Morganti edizioni” permitiu finalmente, também, ao público italiano de obter não só aos grandes clássicos do escritor, mas também e sobretudo aos livros considerados “menores”, de fato traduzidos e publicados na Itália pela primeira vez (acompanhados também de um ótimo aparato de notas explicativas). Definir “menores” estes romances é evidentemente apenas uma etiqueta de comodidade para distinguir-lhe dos projetos literários mais célebres como os contos do Padre Brown, A taberna voadora, O homem que foi quinta-feira ou O Napoleão de Notting Hill e não um juízo qualificativo. Na verdade, um filo vermelho conecta todo o trabalho de Chesterton que, despontando em um horizonte integralmente cristão, não pode senão ser totalmente interessante e apaixonante, porque só Jesus, com a sua presença histórica, está em grau de satisfazer integralmente as necessidades do homem.

O retorno de D. Quixote faz parte deste grupo nutrido. Publicado pela primeira vez por capítulos em um periódico, o livro permaneceu incompleto e foi completado postumamente por motivos editoriais, por mão ainda ignota. Tudo isto não tem, porém, minimamente arruinado o estilo original do texto que conserva os típicos paradoxos e as acrobacias do escritor britânico: o único limite permanece talvez a conclusão narrada no último capítulo que resulta muito precipitada e repentina a respeito do andamento geral da obra.

A história, em síntese, conta o divertido e incredível evento na vida do jovem Michael Herne, bibliotecário de Seawood Abbey. Quando Olive Ashley decide encenar a comédia Blondel o Trovador, o tímido bibliotecário é envolvido na peça teatral para personificar um trovador. Pouco depois, porém, lhe é pedido para interpretar um papel diverso, pelo qual, sobre a calça justa verde de trovador, endossará as vestes bem mais empenhativas do protagonista: Ricardo Coração de Leão. Inicialmente o inseguro bibliotecário se demonstra refratário ao jogo das partes, mas permanece depois vítima das sugestões da comédia. Entende, então, ter encontrado no papel recitado o seu verdadeiro Eu e o sentido da vida. Assim, recusa tirar o costume de cena, movendo-se e pensando como um homem medieval.

O grande escritor inglês transforma o bibliotecário na reedição do Dom Quixote de cervantesca memória, presenteando a este novo paladino do idealismo uma simpatia que o personagem de Cervantes não teve. O seguirá na sua peregrinação a personificação do homem altruísta, Douglas Murrel, novo Sancho Panza e extraordinário personagem literário.

Uma épica do quotidiano sincera e apaixonada que faz fundo não só a busca do sentido para a vida da parte de um homem que redescobre no medievo Cristiano o cume da civilização humana, mas também uma ocasião para discutir difusamente do programa distributivista, aquela norma econômica baseada sobre a redescoberta do corporativismo medieval elaborada em colaboração com Hillaire Belloc e Padre McBann sobre a inspiração de Leão XIII. E o paradoxo que suporta o inteiro acontecimento é propriamente colocar em radical discussão o pretenso progresso do mundo moderno e laico, jogado ainda em ato de acusação nos confrontos seja do capitalismo selvagem que do socialismo massificante. É, em síntese, um apaixonante processo ao homo economicus, ao homem modernus (N.d.T.: e ao homo avarus) que, acreditando ter obtido tanto, renunciou na realidade a sua humanidade, a única coisa que realmente conta.

Pronto para a batalha, a mais extraordinária aventura espera por você…

Luca Fumagalli

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