D. ALBERTO SECCHI: POBRES DA TRADIÇÃO, NÃO BURGUESES
Editorial de Radicati nella fede´
Padre Alberto Secchi
[Tradução: Gederson Falcometa]
Sabeis bem quantas vezes, sobre este boletim, alertamos contra os perigos do modernismo. Quantas vezes reagimos contra a desajeitada modernização da Igreja, que está agora se cumprindo na mais aguda crise que a Igreja jamais conheceu na sua história.
Reagimos, sentimos o dever; dissemos “não”; dissemos não aceitar este falseamento da vida cristã que se amplifica sob os nossos olhos.
É bom, porém, recordar que não fizemos só isto, e que não fizemos antes de tudo isto: nos preocupamos em primeiro lugar em assegurar entre nós uma vida cristã estável.
Sim, porque “ser contra” não equivale a fazer o cristianismo. É uma ilusão mortal aquela de pensar que ser contra qualquer coisa equivalha automaticamente a construir-lhe a alternativa.
Seria para nós um gravíssimo engano aquele de pensar que basta reagir ao modernismo teológico, ao pastoralismo enganoso do pós-concílio, a mania de se colocar ao passo com as últimas modas do mundo a vida cristã, para ver surgir um Catolicismo são, segundo a Tradição.
O Pére Emmanuel André, ao qual sempre nos referimos no nosso boletim e que constitui certamente um dos mais fúlgidos exemplos sacerdotais na Igreja dos tempos modernos, disse aos seus monges, diante do alastramento do Naturalismo: “Sejais homens de Deus, sejais homens de reação”.
Muito verdadeiro! Para ser de Deus, é preciso reagir contra o alastramento do mal. É preciso dizer “não” ao erro que está em ti, e ao veneno que circula no mundo.
Mas não basta dizer não, é preciso ser de Deus: “Sejais homens de Deus…”. A reação, aquela sã, nasce só do “ser de Deus”. É preciso preocupar-se então de fazer o cristianismo; o interesse deve ser concentrado sobre viver uma vida autenticamente cristã, sobre trabalhar para que muitos tenham os meios e a possibilidade de “ser de Deus”.
Existem alguns, em certo mundo tradicionalista ou conservador, que estão permanentemente em reação, em perene acusação, arriscando exaurir os próprios esforços no descobrir o mal ao redor deles.
E quando reagem contra os cristãos amodernados, parecem esperar o catolicismo verdadeiro dos próprios “modernistas”, pretendem deles uma conversão que talvez esperarão em vão.
Não! É preciso fazer o cristianismo, isto espera Deus de nós; por isto nos dá a sua graça.
Um grande beneditino, o Cardeal Schuster, diante da grave crise de qualquer mosteiro, aconselhava não perder tempo no tentar a sua reforma, mas de fundar-lhe ao lado um outro, onde reinasse a observância da Regra de S. Bento e um espírito autenticamente monástico: no momento mais forte da crise, estes novos mosteiros observantes seriam a alma do renascimento cristão e monástico.
Assim também para nós: é preciso fundar uma vida verdadeiramente cristã onde vivamos, entorno a Missa Tradicional, fonte de inauditas graças. É preciso fazer o cristianismo sem perder nem menos um minuto, lá onde sacerdotes de reta intenção tornam a assegurar a Tradição, nos sacramentos e na doutrina. Os padres, ao menos aqueles que entenderam, tem o dever de garantir a Tradição, e os fiéis de reconhece-la e de moverem-se!
Nos resta recordar porém um fato não secundário: para fazer o cristianismo é preciso “dar a vida”
Dar a vida: é esta a obediência verdadeira que Deus espera de nós.
Dar a vida, isto é tudo, porque se Deus não pode pedir-nos tudo, quer dizer que para nós não é.
Este dar tudo, é vivido em uma consciência límpida, unida a uma concretude extrema, operativa.
O fundar o cristianismo começa da graça, isto é, do altar do Senhor: é da Missa Católica, do sacrifício de Cristo, que tudo tem vida, doutrina, oração, obras, caridade, cultura…
Para assegurar o culto e a vida católica, segundo a tradição, é preciso dar a vida: somos dispostos a isto, ou nos basta ser contra?
Se, improvisadamente, fosse dada plena liberdade a experiência da Tradição, se na Igreja nos fosse dada esta liberdade total, surgiria estes lugares de graça entorno ao altar graças a nós? Ou, este milagre da liberdade para a Tradição nos encontraria impregnados em assegurarmos as nossas liberdades, os nossos humores alternados? Um tal milagre não nos colheria talvez preocupados em garantirmos ainda o nosso “tempo livre”, como faz o resto do mundo?
Só porque todo Domingo, sublinhamos todo, se tem a Missa cantada, é preciso que muitos deem a vida! O padre que a celebra, o organista que acompanha o canto, a escola que sustenta o louvor do povo, os fiéis que estavelmente se referem àquela igreja.
Vejam, a nova liturgia, miseravelmente reduzida, de fato garantiu, favorecendo lhes, as “liberdades” e o desempenho dos fiéis. Parece ter nascido para entreter e não para fazer o cristianismo.
Para fazer o cristianismo é preciso não ser liberal, mas homens empenhados com Deus, entregando tudo a Deus: só os pobres, aqueles verdadeiros, o entendem, não os “burgueses” da tradição.
Pobres são aqueles que não esperam a salvação de si, do próprio juízo e ação. Pobres são aqueles que se entregam a Deus, dispostos a dar tudo para que a Igreja continue a existir.
Burgueses são, ao invés, aqueles empenhados em salvar os próprios espaços de liberdade. São liberais na alma; querem amar Deus, mas não entregam tudo: eles se iludem e a Igreja desaparece.
Que esta Quaresma nos ensine a verdadeira obediência ao Senhor.
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