P. CURZIO NITOGLIA: VERDADEIRA E FALSA CARIDADE

 

In memoria di Shahbaz Bhatti

 

Padre Curzio Nitoglia

[Tradução: Gederson Falcometa]

23 marzo 2011

Prólogo

Hoje se fala muito, talvez até mesmo demais, de “caridade” (“muito dela se  fala e menos dela se tem”, diz o provérbio). Mas que coisa é a verdadeira Caridade? No presente artigo busco expor a doutrina católica, que se funda sobre a Tradição e a S. Escritura, lidas a luz do pensamento de Santo Tomás, o Doutor Oficial ou Comum da Igreja. Se verá, então, como a verdadeira Caridade é totalmente diferente do vago sentimentalismo da experiência religiosa, como apresentado pelo neomodernismo ascético, o qual é o desnaturamento da verdadeira Caridade, assim como é também distinta e antes eminentemente superior ao amor natural, o qual é bom em si, mas imperfeito, porque não pode ultrapassar por si mesmo os limites da sua natureza, muito ferida  pelo pecado original.

 

·        Um exemplo de verdadeira Caridade sobrenatural nos foi deixado nestes dias pelo Ministro para as minorias do Paquistão Shajbaz Bhatti, morto por ódio a Fé católica nos primeiros dias de março de 2011. Quero citar uma parte do seu “Testamento espiritual”:

 

«Desde de criança, eu costumava ir a Igreja e encontrar profunda inspiração nos ensinamentos, no Sacrifício e na Crucificação de Jesus. Foi o Amor de Jesus que me conduziu a oferecer os meus serviços a Igreja. As assustadoras condições nas quais vertiam os Cristãos no Paquistão me chocaram. Quando havia apenas 13 anos escutei um sermão sobre o Sacrifício de Jesus para a nossa Redenção e a Salvação do mundo inteiro e pensei em corresponder ao seu Amor doando amor aos nossos irmãos, colocando me ao serviço dos Cristãos. Não quero popularidade, não quero poder. Quero apenas um lugar aos pés de Jesus. Quero que a minha vida, as minhas ações falem por mim e digam que estou seguindo Jesus Cristo. Tal desejo é assim forte em mim que me considerarei um privilegiado quando Jesus quiser aceitar o sacrifício da minha vida. Quero viver por Jesus e por Ele quero morrer. Quanto reflito sobre o fato de que Jesus Cristo sacrificou tudo, que Deus mandou o Seu próprio Filho para a nossa Redenção, me pergunto como não posso eu seguir o caminho do Calvário». 

 

O Senhor ouviu Shahbaz Bhatti e agora ele goza da Visão beatifica da face de Deus.

Natureza

 

No Cristianismo a Caridade é a mais alta das três Virtudes teologais, como foi revelado admiravelmente a São Paulo: «Agora permanecem a Fé, a Esperança e a Caridade: mas destas três a maior é a Caridade» (1 Cor., XIII, 13).

 

Estas três Virtudes tem como objeto direto e como motivo, o próprio Deus:

“Amo” Deus porque Ele é infinitamente Bom e amável;

“Espero” em Deus porque Ele é Providência onipotente e misericórdia;

“Creio” em Deus porque Ele é a Verdade própria e não pode engana-se nem enganar-se.

 

 

Do Amor a Deus nasce o Amor sobrenatural ao próximo. É preciso ter muita atenção, sobretudo hoje, no distinguir bem a Caridade, Virtude infusa e sobrenatural, do amor natural seja por Deus ou pelo do próximo e com maior razão do “sentimentalismo”, o qual é uma deformação do verdadeiro amor seja natural ou sobrenatural.

A Caridade é a capacidade de amar Deus sobrenaturalmente mais que a nós mesmos e o próximo como a nós mesmos por amor de Deus e não para fazer filantropia. Essa vem infusa por Deus na nossa alma no momento da nossa jurisdição ou santificação, jamais separada da Graça habitual santificante, a qual nos torna realmente “filhos adotivos de Deus” (S. Paulo,Rom., VIII, 15) e “participantes da Natureza de Deus” ou “consortes Divinae Naturae” (II Epístola de S. Pedro, I, 14) de forma finita e limitada.

Portanto, A Caridade e a ela sempre unida a Graça santificante nos comunicam realmente, de forma participada e finita, a Natureza divina. É necessário ter muita atenção e excluir o excesso da “comunicação substancial e ilimitada” da Natureza Divina a alma humana (panteísmo), como também o defeito da ‘simples semelhança moral ou tendencial’, a qual consistiria no pensar em Deus como nossa Causa final e, então, tê-lo presente apenas no nosso intelecto ou pensamento.

Ao invés, Deus Trino é formalmente, realmente e fisicamente presente na substância da alma do justo, que recebeu a Graça habitual justificante e a Caridade infusa, as quais informam a nossa alma. Na verdade, o homem para poder agir sobrenaturalmente e colher o próprio objeto da atividade de Deus, que é a própria Essência Divina contemplada e amada (Visão Beatífica), primeiro deve ser realmente elevado a um nível substancialmente sobrenatural ou divino “por participação”.

Agere sequitur esse”: não se pode realmente agir sobrenaturalmente, sem antes ser “sobrenaturalizado” (ou “elevado a ordem sobrenatural”) fisicamente, em si e realmente na própria alma (e não apenas moralmente, enquanto se deseja Deus como próprio Fim e Ele é, assim, presente no nosso pensamento), mas sempre por participação e finitamente, não pela essência, caso contrário se caí no panteísmo (ver Santo Tomás de Aquino, Comentário ao II livro das Sentenças de Pedro Lombardo, distinção 26).

Sem a Caridade, que é inseparável da Graça santificante, se está em estado de pecado mortal. Onde o homem, ao invés de amar Deus sobre todas as coisas, ama a si mesmo ou as criaturas, que satisfazem os seus caprichos, como se fossem o seu fim ultimo.

A Caridade dura em eterno, mesmo no Paraíso, enquanto a Fé deixa o passo a “Visão Beatifica” de Deus visto face a face pelo Beato graças ao “Lumen gloriae” e a Esperança cede o lugar a posse eterna e inadmissível de Deus [1].

 

Distinção entre Caridade e amor natural

 

Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica (1ª seção da 2ª parte, questão 26, artigos 1-4) [2], explica que o amor é a tendência do apetite humano para o bem que o atrai. O amor de benevolência, desinteressado ou “de bono alieno” (que diz respeito ao bem do outro) nos faz tender para o bem do próximo, ou seja, desejar o bem do outro  (“amare est velle alicui bonum”, amar significa querer bem o outro e o bem do outro), não é egoísta ou amor de concupiscência, interessado (“de bono proprio”), que olha o bem próprio e basta e, quando é recíproco da outra parte, é amor de amizade, que comporta comunhão de pensamento, vontade e ação (“idem velle idem nolle haec est vera amicitia”, querer a mesma coisa e não querer a própria coisa, esta é a verdadeira amizade).

Ora a Caridade infusa é o Amor de amizade sobrenatural entre Deus e o homem justo e então dos justos (ou “filhos de Deus”, S. Paulo, Rom., VIII, 15) entre eles por amor de Deus.

Não é egoismo, e nem sequer é altruísmo ou amizade puramente natural, que nos torna companheiros dos outros homens, sobretudo, não é sentimentalismo, que abaixa o homem racional e livre ao nível do animal bruto, provido apenas de sensibilidade sem intelecto e vontade, mas é Amor sobrenatural, que supera as forças da natureza criada e nos torna amigos de Deus, infinitamente Bom e digno de ser amado mais que a nossa própria vida, e então, também pelo nosso próximo, não por si mesmo, mas porque é uma criatura de Deus, amada em relação a Deus, não mais que nós mesmos, mas em maneira similar ao amor que nós mesmos portamos por nós mesmos.  

Na Suma Teológica (2° seção da 2° parte, questão 23, artigo 1) Santo Tomás demonstra que a Caridade contém as três condições da verdadeira amizade:

 

1º) amor de benevolência: se quer bem ao outro e se quer o seu bem como se fosse o nosso;

2º) amor recíproco: Deus ama o homem justo e o justo ama Deus;

3º) comunhão de vida: é uma vida a dois entre Deus e o homem justo, que pressupõe – espiritualmente – o conhecimento recíproco, através da Fé da parte do homem, e a troca dos pensamentos e dos sentimentos interiores entre o homem conhecido e amado por Deus e o Deus crido e amado pelo homem.

 

Estas são as três características da Caridade sobrenatural, que nos une a Deus e com as outras almas em Deus [3].

 

Necessidade da Graça para chegar a Caridade

 

A inclinação natural, que subsiste no fundo da nossa alma espiritual e especificamente na vontade, nos levaria a amar a Deus autor da natureza, conhecido pela razão como Causa primeira das criaturas (e não pela Fé, que nos faz conhecer os Mistérios sobrenaturais da Natureza divina enquanto divina) mais por nós mesmos (Summa Teológica 1° Parte, questão 60, artigo 5).

Na verdade – explica Santo Tomás – a inclinação natural é maior parra aquilo que é principal e menor para aquilo que é subordinado. Assim, instintivamente a mão se estende e se expõe a desviar de um golpe para proteger a cabeça ou o corpo.

Mas Deus é o Bem universal. Então, o amor natural tende a amar Deus mais que a nós mesmos. Porém, esta tendência é ineficaz. Na verdade, depois do pecado original, tal inclinação é atenuada ou enfraquecida e não nos dá a capacidade real de amar Deus, pelo que precisamos da Graça sobrenatural justificante e “restauradora” para chegar a um amor eficaz, efetivo e real de Deus acima de todas coisas (Suma Teológica, 1° seção da 2° parte, questão 109, artigo 3).

A Graça habitual santificante, infundida em nós no Batismo, está infinitamente acima da inclinação natural que alberga na nossa vontade, muito ferida pelo pecado de Adão. Junto a Graça justificante recebemos também as três Virtudes teologais. Ora, a Caridade é exatamente este Amor de Benevolência mútuo, pelo qual um quer bem o outro e o bem do outro, não buscando egoisticamente apenas e sobretudo a si mesmo.

No caso específico o justo quer a Deus, Autor da Graça ou conhecido pela Fé na sua Natureza divina e nos seus Mistério sobrenaturais, o bem que ele espera: o seu Reino nas almas de todo o mundo e, enquanto Deus, Ele quer o nosso bem, sobretudo, fundado sobre a comunhão de vida, dado que a Graça, unida sempre a Caridade da qual é a raiz, nos torna “participantes da Natureza divina” (II Petr., 1,14) e semelhante a Deus como o filho ao pai, onde não apenas somos chamados Filhos de Deus, mas o somos realmente (1° epist. Jo., II, 1).

Esta vida a dois comporta uma união permanente, que se perde apenas com o pecado mortal e se reconquista com a contrição perfeita e/ou a absolvição sacramental. Esta união permanente, como aquela do esposo com a esposa, quer seja atual quando fazemos um ato de Amor a Deus, quer habitual, como quando estamos ocupados em outros afazeres ou dormimos. Então a Caridade é realmente uma vida a dois (“cum-vivere”, viver com um outro: Deus) que é uma verdadeira amizade com Deus, que inicia já sobre esta terra, na qual há um encontro de Amor do Pai com o filho adotivo, mediante a Graça habitual, que é germe de Glória eterna, a qual deve corresponder o Amor do filho adotado para o Pai eterno, que é a Caridade que vivifica a Fé e a Esperança, as quais sem Essa estão mortas.

Esta amizade ou convivência espiritual “em vida” é prelúdio daquela da Eternidade ou “na Pátria” [4]

 

Caridade e sentimento

 

O Amor a Deus reside na vontade ajudada pela Graça. Esse não se pode confundir com o sentimento, ou seja, o Amor a Deus não deve ser “sentido”, mas querido racionalmente mesmo em meio as maiores “aridezes” da sensibilidade (“noite dos sentidos”) e “desolações” do espírito (“noite do espírito”).

Deus não se vê, não se toca e não se senti, Ele é puríssimo Espírito, não é “sensível” e então não pode cair sob os sentidos do homem. Portanto, exceto nos estados da vida mística nos quais predomina de forma habitual o 7º Dom do Espírito Santo, a Sabedoria, que nos dá a experiência mística, amorosa e saborosa de Deus Puríssimo Espírito presente sobrenaturalmente na nossa alma pela Graça santificante, não existe o “sentir Deus”, porque Ele não caí sob os sentidos, mas a sua existência pode ser demonstrada pela razão a partir dos efeitos chegando a Causa primeira incausada.

Além disso, Deus pode ser crido, mediante a Fé infusa, nos seus Mistérios ou Vida íntima sub ratione Deitatis, que ultrapassa infinitamente a capacidade da nossa razão. Enfim pode ser “sobrenaturalmente experimentado” na terceira via, aquela dos “perfeitos” (a via mística ou unitiva), através da atuação mais ou menos habitual do Dom da Sabedoria, que é essencialmente sobrenatural e não tem nada haver com o sentimento ou pior com o sentimentalismo, antes é exatamente o oposto do sentimentalismo ou da experiência religiosa, própria do modernismo, a qual é “afetação” de um Amor sobrenatural, de uma moralidade, de uma santidade ou piedade, que em realidade não se possuí, vale dizer um mostrar exteriormente e farisaicamente, um verdadeiro “sepulcro caiado”, uma Caridade sobrenatural quando interiormente essa é (quase) ausente, não é nem mesmo a sua deformação, porque não se pode “sentir” Deus naturalmente, mas apenas sobrenaturalmente e no estado mais alto da vida mística, mediante o Dom da Sabedoria.

Portanto, o Cristianismo é inicialmente a vida da graça, no esforço ascético para eliminar o pecado mortal ajudando-se com a meditação discursiva (‘primeira via ascética purgativa’ daqueles que começam ou “principiantes”) e então é a imitação das Virtudes de Jesus Cristo, ajudando-se com a oração mental afetiva e buscando eliminar também o pecado venial de propósito deliberado (‘segunda via ascética iluminativa’ daqueles que progridem ou “proficientes”) e só então, se fiel ao esforço ascético constante e habitual, Deus nos introduz  na “terceira via mística unitiva” – sobrenaturalmente e não sensivelmente – de modo assaz elevado a Deus, prelúdio da vida eternamente beata, e recebem a graça da oração infusa ou passiva.

Só então, advém “o encontro com Deus ou Jesus sentido dentro de si”, o qual não é o início da vida cristã (como queriam Dom Luigi Giussani e “Comunhão e Libertação”), mas lhe é o termo e o coroamento.

 

Além disso, a terceira via mística se subdivide em duas partes:

 

a)    aquela caracterizada pelos primeiros quatro Don práticos do Espírito Santo (Temor de Deus, Piedade, Conselho e Fortaleza);

b)   aquela caracterizada pelo predomínio habitual dos últimos três Dons especulativos (Intelecto, Ciência e Sabedoria).

 

A ‘segunda parte’ da “terceira via” (e especialmente o seu vértice que se atinge no mais nobre dos sete Dons do Espírito Santo Paráclito, aquele da Sabedoria, que nos dá a experiência sobrenatural da Presença de Deus no fundo da essência da alma) não é essencial para chegar a Santidade ou Perfeição da Caridade.

Deus a pode conceder ou não, de acordo com seus planos sobre uma determinada alma (por exemplo, ele a concedeu a S. Inácio de Loyola, S. Teresa d’Ávila e S. João da Cruz).

 

Ao invés, a ‘primeira parte’ da “terceira via” é necessária para chegar a Perfeição. Na verdade sem essa não se entra na mística ou ‘terceira via’ dos “perfeitos”, que é o desenvolvimento normal ou ordinário da vida da Graça. Além disso, durante essa se enfrentam as “noites do espírito” ou “desolações espirituais” e a alma não apenas não goza da experiência mística da Presença de Deus na sua essência ou não “encontra e sente Cristo dentro de si” como diria don Giussani, mas mesmo que lhe aparente estar abandonada por Deus e se sinta reprovada por Ele (por exemplo S. Teresinha do Menino Jesus no “túnel”, sobre o qual escreveu na sua autobiografia intitulada Vida de uma alma), a qual não apenas não sentia Deus, mas lhe sentia separada, como se si encontrasse “em um longo e obscuro túnel”, sem poder nem ao menos ver a saída e um raio de luz. Porém, era Santa de forma heroica e realmente encontrou Deus puríssimo Espírito, mesmo sem o sentir e sem lhe ter feito a experiência [5].  

Ainda de acordo com a “espiritualidade” melosa e sentimentalista da experiência religiosa neomodernista, essa não seria uma verdadeira cristã, porque não “sentia” Deus ou Cristo dentro de si. (Ver Suma Teológica, 2a seção da 2° parte, questão 24, artigo 9).

Colocar o encontro “sentido” com Jesus no começo da vida espiritual é uma verdadeira loucura, seria como construir uma casa colocando o teto como seu fundamento!

Então, a verdadeira Caridade é a amizade sobrenatural com Deus, como também com todos os “filhos de Deus”, justos e também pecadores, não enquanto pecadores, mas como homens suscetíveis de conversão. Na verdade, se amássemos o pecador enquanto tal amaríamos o pecado, o que é o contrário da Caridade, que ama o bem ou a Lei divina e detesta o mal ou a sua violação, que é o pecado.

Além disso, a distinção entre pecado a aborrecer e pecador a amar é ilógica, porque sem pecador não existe pecado, que é o ato do pecador enquanto tal. Portanto, se deve amar o homem enquanto suscetível de conversão, ainda que viva em estado de pecado, mas se deve combatê-lo enquanto pecador, que ofende a Deus.

É célebre o exemplo deixado por Santa Rita de Cássia, a qual rezou a Deus para tirar a vida dos seus dois filhos ainda crianças, que queriam – como adultos – vingar o pai morto traiçoeiramente, para que não se maculassem com este gravíssimo pecado. O Senhor a ouviu e esses morreram sem ter pecado, ainda em jovem idade.

Então, se pode pedir o castigo físico do malvado afim de não ofender a Deus e de que se converta, mas não se pode jamais desejar a ruína espiritual ou a separação de Deus.

 

Todavia, isto não nos impede de nos defendermos dos inimigos, embora desejando que se convertam e vivam na Graça de Deus e então, na sua Glória eterna.

Na verdade, a filosofia e a teologia moral ensinam a liceidade e em certos casos o dever, natural e sobrenatural, da legítima defesa contra o injusto agressor: “vim vi repellere licet”, é lícito rechaçar a força com a força.

Se um delinquente atacasse uma mulher de idade ou uma criança indefesa e nós não reagíssemos, mesmo com o uso da força quando necessário, pecaríamos contra a Caridade para com o inocente agredido injustamente. Mesmo naquilo que diz respeito a nós mesmos podemos legitimamente nos defender dos agressores.

Apenas em alguns casos excepcionais se pode tolerar (sem ser obrigado) uma agressão por Amor de Deus, impelido pela Sua Graça, afim de que o agressor se converta, como fez S. Estevão Proto-mártir. Mas isto é um Conselho ou até mesmo uma inspiração do Espírito Santo e não um Preceito.

É bem conhecido o caso do marido de S. Rita de Cássia, do qual já falamos, que quando jovem foi muito violento e briguento. Quando se converte depõe a espada, com a qual tinha derramado tanto sangue inocente. Foi então que os seus inimigos aproveitaram para ataca-lo, mas ele, incitado pelo Paráclito, preferi (embora não sendo obrigado por um Mandamento) ser morto do que derramar mais sangue e perdoa heroicamente os seus assassinos. Estas são as exceções que confirmam a regra da legítima defesa.

Para entender ainda melhor o espírito que deve animar a nossa atitude para os inimigos é bom ler a Oração do ‘Missal Romano’ pro inimicis: «Senhor, conceda a todos os nossos inimigos a paz, verdadeira Caridade e o perdão dos seus pecados. E com a tua potência libera nos da suas ínsidias».

Como se vê se deseja a conversão dos inimigos (“tribue eis remissionem cunctorum peccatorum”), mas ao mesmo tempo se pede para ser preservado das suas malvadezas (“et nos ab eorum insidiis potenter eripe”).

O Cristianismo não é “cretinismo”! Não há nada nele de contrário a reta razão e a reta  natureza, mas há algo Revelado ou Mandado, que ultrapassa a razão e as forças naturais, e que pode ser crido e praticado apenas mediante a ajuda da Graça santificante sobrenaturalmente infundida por Deus nas nossas almas.

Em suma, como os pecadores não tem em si a Caridade e a Graça santificante ou justificante, é preciso querê-la para eles, ama-los com Amor sobrenatural e desejar o seu bem sobrenatural (“amar é querer o bem do outro”), ou seja, que se convertam, deixem o pecado e reencontrem a amizade com Deus, a Graça habitual ou santificante e a Caridade. Todavia, sem dano a Caridade que devemos a nós mesmos, criados a imagem e semelhança de Deus, e pedir que sejamos livres de todo perigo que vem dos inimigos. “Prima Caritas sibi”, a ordem com a qual se deve aplicar a Caridade para si e o próximo é a seguinte: primeiro é preciso amar a própria alma, depois a alma do próximo depois o nosso corpo ou os nossos bens materiais e enfim o corpo ou os bens temporais do próximo.

Jesus nos revelou: «Quem observa os meus Mandamento, este me ama. E quem Me ama, será amado por Meu Pai e também Eu o amarei» (Jo., XIV, 21).

Não é necessário grande ciência para este Amor sobrenatural por Deus, basta a Fé e o conhecimento das principais verdades da doutrina cristã, proporcional ao grau de instrução de cada um [6].

 

O objeto da Caridade

 

O Amor de Deus é o objeto primeiro e principal da Caridade, aquele do próximo é o objeto secundário. Mas é preciso ter bem em mente que o Amor de Deus e do próximo derivam ambos da mesma virtude da Caridade infusa, a qual é uma só, mas tem dois objetos, do qual o secundário é o próximo amado porque criatura de Deus, conhecida e amada por Deus ao menos em potência se não vive ainda em estado de Graça santificante.

Então, é por Caridade que devemos desejar que o próximo, ainda que nos tenha ofendido, pertença a Deus em ato pela Graça habitual justificante presente na sua alma. Na verdade, se desejamos que o próximo viva em pecado e separado de Deus, não amaríamos nem sequer a Deus, que quer amar todos e ser  re-amado sobrenaturalmente por todos e então, não queremos aquilo que Ele quer e não seremos seus amigos, porque a nossa vontade se separaria da Sua.

Atenção! São Tomás de Aquino na Suma Teológica (2ª seção da 2ª parte, questão 25, artigo 1, 4, 5, 8) ensina que não é Caridade sobrenatural amar o próximo pelas suas qualidades naturais (simpatia, inteligência, alegria…). Na verdade, por meio da Caridade fraterna amamos o próximo com Amor sobrenatural e teologal, a qual tem Deus como objeto, para que o amemos verdadeiramente como filhos de Deus e não apenas como homem simpático, inteligente, brilhante…  Aqui que, se nós amamos verdadeiramente Deus, a nossa Caridade se estende também para o próximo, não é naturalmente simpático, mas porque criado e amado por Deus [7].

 

Perfeição: Mandamentos ou Conselhos?

 

 Santo Tomás (Suma Teológica, 2° seção da 2° Parte, questão 184, artigo 3) e Pio XI (encíclica Studiorum ducem, 1923 e Rerum omnium, 1923) ensinam que todos são obrigados a tender a perfeição da Caridade, o que não quer dizer ser “perfeitos em ato”, ou seja, completos, não faltando nada (“perfectum est per omnia factum, et id cui nihil deest”). Todavia, seria errado pensar que o Amor de Deus e do próximo propter Deum, seja até um certo ponto o objeto de um Preceito e que, ultrapassado aquele determinado ponto, torne objeto de um simples Conselho.

Não! O Máximo Mandamento fala claro: “Amarás o Senhor Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e o próximo como a ti mesmo”.Não existe limite ao Amor de Deus. Na verdade, a Caridade é o escopo e o fim de todos os Mandamentos que estão inclusos no máximo Preceito (Amor de Deus: do 1º ao 3° e do próximo: do 4º ao 10º).  

Unumquodque fit perfectum inquantum attingit Finem suum”, se torna perfeito quando se chega a colher e atingir o próprio Fim, que é Deus, e é apenas a Caridade que nos une a Ele:”a Fé sem a Caridade é morta” (S. Tiago).

Então a perfeição da vida humana, a qual é espiritual além de racional, consiste na Caridade mais que na ciência (Suma Teológica, 2a seção da 2° Parte, questão 184, artigo 1). Ora, o escopo não pode ser querido parcialmente, limitadamente ou pela metade e até a um certo ponto. Esta é a diferença entre fim (“id cujus gratia aliquid fit”) e meio (“ea quae sunt ad finem”), que são desejados e utilizados o “tanto quanto” me ajudam a colher o fim “nem mais, nem menos”.

Por exemplo, o médico não deseja a cura do enfermo só pela metade, mas toma medidas e dosa os medicamentos apenas para obter a plena cura; não mede e não dosa jamais a saúde, que é desejada toda e sem meias medidas pelo médico. A perfeição ou fim do homem consiste essencialmente nos Preceitos, que, se observados, nos unem a Deus, nosso Fim último. Todos devem tender e querer o fim, Deus ou a sua perfeição. O homem é como um viajante “viator” que caminha para Deus “gressibus amoris”, com “os passos de amor e crescendo no amor” (São Gregório Magno).

Os três Conselhos evangélicos (castidade, pobreza e obediência) são apenas meios para chegar mais facilmente e mais rapidamente ao fim, que é a perfeição ou união com Deus através da Caridade, a qual inclui os 10 Mandamentos. Então, os Conselhos são ordenados e subordinados aos Mandamentos (e ao Preceito supremo: o Amor de Deus e do próximo) e não são superiores a esses. Portanto, a perfeição da Caridade consiste em amar a Deus sem medida e ao máximo [8] e é controlada pelo supremo Preceito não como qualquer coisa para realizar-se imediatamente, mas como escopo ao qual todos devem tender gradualmente (“natura non facit saltus”), cada um segundo o próprio estado.

Disto derivam duas consequências:

1ª) Quem não quer avançar na vida espiritual regride, pois todos nós temos o dever de avançar pouco a pouco para o fim;

2ª) Deus dá a todos as Graças atuais suficientes para chegar ao fim, pois não manda o impossível. Ele nos ama “até a loucura [da Cruz]” e nós devemos re-amá-lo ao máximo da nossa capacidade.

A Caridade é superior ao ideal de força dos heróis pagãos e a sabedoria dos filósofos gregos, os quais não pensaram em retificar a fundo sua vontade mediante o Amor de Deus e do próximo: “A Caridade edifica, a ciência incha” (S. Paulo). Onde uma velhinha débil e ignorante é mais nobre e perfeita que Machiste e Aristóteles, porque tem a boa vontade enriquecida pela Caridade que lhe faz amar Deus e os filhos de Deus e assim lhe une a Deus seu Fim último e o aperfeiçoa.  Na verdade, sem a Caridade a vontade do homem é má enquanto se distancia de Deus, que é o sumo Bem, pelo qual se encontra em estado de pecado mortal; se morre neste estado, se dana pela eternidade, mesmo se tivesse a ciência dos Anjos ou de Santo Tomás de Aquino. Ao invés, a Caridade, que pressupõe a Fé e a Esperança lhes vivifica, nos une a Deus e é acompanhada pelo “cortejo da Graça”, ou seja, de todas as Virtudes morais infusas e pelos sete Dons do Espírito Santo. As Virtudes morais nos aperfeiçoam quanto aos meios que devemos tomar para colher o Fim e a Caridade nos aperfeiçoa quanto ao Fim, nos unindo com Deus. Pelo qual Santo Tomás concluí que «principalmente e substancialmente a perfeição reside na Caridade e nos Mandamentos; acidentalmente e secundariamente nos três Conselhos, enquanto são meios que nos ajuda a melhor observar os Mandamentos» que nos unem ao Fim (Suma Teológica, 2a seção da 2a Parte, questão 184, artigo 2) [9].

 

Conhecimento e Amor de Deus nesta terra

 

Sobre a terra o Amor de Deus é mais perfeito que o seu conhecimento, porque por amor a nossa vontade sai de si e tende para o objeto amado como é em si, enquanto aqui embaixo o conhecimento de Deus advém através dos nossos conceitos limitados e finitos.

Assim, o amor de Deus nos faz sair fora de nós mesmos e nos atraí e une a Ele, enquanto o conhecimento atraí Deus para nós e lhe impõe o limite dos nossos conceitos finitos (Suma Teológica, 1° Parte, questão 82, artigo 3) [10]. São João da Cruz dizia: “sou nada, conheço bem pouco, mas quero Tudo, ou seja, Deus”.

 

O aumento da Caridade

 

A Caridade aumenta em nós intensivamente, como uma qualidade (por ex. a luz ou o calor). Essa coloca em nós as suas raízes sempre mais intensamente e profundamente e ao mesmo tempo reduz na nossa vontade o egoísmo ou amor próprio, que excluí o Amor de Deus, inclinando sempre mais fortemente a nossa vontade a tender para Deus e a fugir do pecado, com atos de amor mais intensos e generosos, com a oração e os Sacramentos. Não é então verdadeiro que a Caridade aumenta na nossa vontade por adição, ou quantitativamente como queria Suárez (por ex. como um monte de pedras). Ver Suma Teológica 2° seção da 2° Parte, questão 24.

Atenção! Não são os nossos atos meritórios para aumentar a Caridade, uma vez que esses procedem desta, que é uma Virtude infusa por Deus e não adquirida pelo homem. Todavia, os atos meritórios predispõem e dão direito ao aumento da Caridade, que é concedido por Deus. A oração pode obter este aumento de Caridade e os Sacramentos o produzem ex opere operato (ou seja, por si mesmos), aplicando – se devidamente recebidos – os frutos da Paixão de Jesus, o qual aumento, porém, é recebido segundo a intensidade das nossas disposições. Enfim, na terceira via unitiva dos “perfeitos” ou vida mística, as Purificações passivas (noite dos sentidos e do espírito) purificam as Virtudes infusas de toda incrustação humana e colocam em primeiro plano, fortemente e sobretudo, o objeto próprio e o motivo formal das Virtudes teologais acima de todo motivo secundário.

Assim, ele remove da Caridade todo resíduo de amor próprio, de rancor ou de ressentimento do nosso coração que impede a plenitude do Amor de Deus e do próximo, mesmo de quem nos ofendeu, e, pelas outras duas Virtudes teologais, as Purificações passivas colocam em proeminência sobretudo, o seu objeto e o motivo primário: Deus mesmo, crido e esperado, porque a Verdade que não pode enganar-se nem enganar nos (Fé) e misericordiosamente Onipotente (Esperança), acima de todo motivo secundário: as consolações espirituais ou a tranquilidade da alma.

Só então a alma, que parece ter sido abandonada por Deus como Jesus sobre a Cruz (o qual não teria sido, portanto, um bom “ciellino” [Ndt.: Ciellino, integrante do movimento Comunhão e Liberação de Don Luigi Giussani]), O ama unicamente porque infinitamente Bom e amável, O crê porque é a própria Verdade subsistente e espera Nele, porque é Onipotente e Misericordioso.

Ao término destas “noites” a alma e as Virtudes infusas, especialmente a mais alta que é a Caridade, vem purificadas de todo apego humano.

O Amor de Deus então é puro, desinteressado, forte, pleno e aumentado até a perfeição. Somente isso explica a fortaleza dos Mártires e as obras dos grandes Santos [11].

 

Conclusão

 

·        A verdadeira Caridade, então, consiste no Amar sobrenaturalmente, com a vontade racional ajudada pela Graça santificante e atual, Deus mais que nós mesmos, porque apenas Ele é Bem infinito e nosso Fim último, enquanto nós somos limitados e criaturas que tendem ao Fim e portanto, não podemos nos amar como se fossemos “infinitamente Bons” ou como se fossemos um Fim. O próximo é amado em Deus, ou seja, afim de que ele inabite a SS. Trindade por meio da Graça e da Caridade. Onde não se pode jamais desejar ao próximo a ruína eterna.

 

·        A verdadeira Caridade mais que afetiva deve ser efetiva (“fatos e não palavras”) e deve comportar “uma troca de dons, no qual o amante dá ao amado aquilo que tem e vice-versa” (S. Inácio de Loiola, Exercícios espirituais). “Nem todo o que diz Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas quem faz a Vontade do meu Pai”, nos revelou o Evangelho. Os fatos nos mostraram, que a um mês atrás Shahbaz Bhatti, deu a própria vida por Deus e pelo próximo, que é o ato maior de amor. Portanto, quem observa e coloca em prática os 10 Mandamentos faz a Vontade de Deus e esta unido a Ele com a Graça santificante. A Caridade, então, consiste no observar os Mandamentos, que são resumidos no “máximo Preceito”: amar Deus com todos os nossos semelhantes e mais que a nós (1º Mandamento: “Eu sou o Senhor teu Deus”; 2º “Não dirás o seu Santo nome em vão”; 3º: “Recorde de santificar as festas de Deus”. Quem observa estes três Mandamentos ama a Deus em si) e o nosso próximo em Deus (4º Mandamento: “Honrar o pai e a mãe”; 5º: “Não matar”; 6º: “Não fornicar”; 7º: “Não roubar”; 8º: Não levantar falso testemunho”; 9º: “Não desejar a mulher dos outros; 10º: “Não desejar os bens dos outros”. Quem observa estes sete mandamentos ama o próximo como a si mesmo, quem o viola não ama realmente o próximo mas só por palavras, porque na prática o desonra, maltrata, derruba e denigre).

 

·        Enfim a verdadeira Caridade comporta a plenitude da vida racional, volitiva-afetiva, moral e espiritual, pois ela comporta três elementos essenciais:

 

1º) amar Qualquer um por si e não egoisticamente por nós;

2º) amor recíproco: também o Outro, que é Deus, nos conhece e nos ama;

3º) convivência: viver junto a este Outro em uma troca mútua de dons e de amor.

 

Como se vê só a verdadeira Caridade pode preencher a nossa vida, a qual com Essa chega ao seu vértice intelectual, volitiva-afetiva e espiritual.

O homem é um animal social por natureza, não é uma ilha e deve sair fora de si para conhecer a realidade objetiva e amá-la.

Ora a Suma realidade é o Ser próprio Subsistente que é Deus. Então, apenas amando Deus mais que a nós e o próximo em Deus, seremos certamente re-amados por Deus e possivelmente também pelo próximo e enfim viveremos em comunhão de conhecimento e de amor com Deus e o próximo, analogicamente ao conhecimento amoroso que intercorre ad intra entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Sem a Caridade a vida humana é truncada, anã, deformada e monstruosa como um anão.

Essa é triste porque o homem naturalmente tende a conhecer e amar, e naturalmente busca ser conhecido e re-amado. Essa é a solicitude espectral para que não se viva em comunhão com ninguém.

O egoísmo (como o heroísmo freudiano, que desde 1968 tornou-se um fenômeno de massa e tem substituído o verdadeiro amor natural e, em certos casos limitados, até o sobrenatural) é uma paródia da Caridade, é “amar” a si mesmo e servir-se do próximo desfrutando-o e não amando-o.

O verdadeiro amor humano é bom mas incompleto e deve ser aperfeiçoado por aquele sobrenatural: o esposo que ama a esposa e os filhos, deve aperfeiçoar este amor natural com aquele sobrenatural da Caridade, de outro modo se para na criatura e deixa-se de lado o Criador.

O religioso que faz voto de castidade deve preencher a sua de Amor para Deus e o próximo, Amor altruísta, recíproco e em comunhão, caso contrário cairá inevitavelmente na falta de respeito a Vontade divina, expressa nos Mandamentos e nos seus Votos ou empenhos religiosos.

A alma de todo apostolado, como ensina don Giovanni Battista Chautard, é a oração mental, ou seja, o conhecimento amoroso de Deus e a contemplação ou olhar repleto de amor sobrenatural dos Mistérios divinamente revelados.

Sem esta vida interior feita de conhecimento e amor recíproco entre a alma e Deus, a vida religiosa se torna insustentável. A sua falta é a causa principal de tantas defecções.

O homem é feito para conhecer e amar, se não conhece e ama Deus, acabará substituindo-o pelas criaturas, mas esta é a definição tomista do pecado: “aversio a Deo et conversio ad creaturas”.

Aristóteles (Política), aperfeiçoado depois por Santo Tomás, tinha ensinado que apenas o louco, enquanto alienado e autisticamente voltado sobre si mesmo, ou, o eremita-“mistico”[12], enquanto convivente com Deus e sobrenaturalmente aberto ao próximo, mesmo se fisicamente distante deste, vivem “sozinhos”, um patologicamente-psiquiatricamente mal e o outro heroicamente-espiritualmente bem, porque vive espiritualmente unido a Deus e ao próximo em Deus.

Fora esses dois casos, o homem normal (nem enfermo e nem mesmo santo) deve viver em sociedade, real e física e não apenas moral e espiritual, também com os outros homens. Esta é a verdadeira moral, sem a qual não nos salvamos eternamente, essa não tem nada haver com o falso “moralismo” hipócrita e ostentado.

“Sem obras boas, a fé é morta” (São Tiago). “Ora sobre esta terra existem a Fé, a Esperança e a Caridade, a maior dessas é a Caridade” (São Paulo).

Que Deus nos conceda o poder viver a nossa vida conforme a sua natureza racional e livre da falta de conhecimento e de amor, e de pode-la elevar, com sua graça que não é negada a nenhum, a ordem sobrenatural, que é o início da vida eterna: Gratia est semen Gloriae et incohatio vitae eternae”.

 

·        Deus, da cordibus nostris inviolabilem tuae caritatis affectum, ut desideria, de tua inspiratione concepta, nulla possint tentatione mutari” (Missal Romano, Oratio ad obtinendam Caritatem). Esforcemo nos para nos tornarmos em ato, aquilo que somos em potência!

 

d. Curzio Nitoglia

 

23 marzo 2011

http://www.doncurzionitoglia.com/vera_e_falsa_caritas.htm

 

 

 

 

NOTAS

 

[1] Cfr. R. Garrigou-Lagrange, L’amour de Dieu et la croix de Jésu, Parigi, 1929, I vol., pp. 163-206, Id., La prédestinations des Saints et la grâce, Parigi, 1935; Id., L’éternelle vie et la profondeur de l’âme, Parigi, 1950; D. Noble, La charité fraternelle d’après S. Thomas,1932; M. I. Scheeben, Le meraviglie della grazia divina, Torino, 1933; P. Parente, voce “Consorzio divino”, in “Enciclopedia Cattolica”, Città del Vaticano, III vol., 1949; Id., Il primato dell’amore e S. Tommaso d’Aquino, in “Acta Pont. Acad. Rom. S. Thomae”, 1945, X, pp. 197 ss.; M. Cordovani, Il Santificatore, Roma, Studium, 1939.

[2] A Summa Teológica se compõe de três Partes, a Segunda se suddivide em duas seções: a “primeira sessão da segunda Parte” e a “segunda sessão da segunda Parte”. Essa se cita abreviadamente resumida assimì: ‘S.’ [umma]. ‘Th. [eologiae], ‘I(Parte), ‘q’. [uestão] 1, ‘a. [rtigo] 1. A segunda se cita ‘I-II’ (primeira sessão da segunda Parte) o ‘II-II’ (segunnda sessão da segunda Parte). No curso do presente artigo a cito por extenso, para tornar mais facilmente compreensível a exposição da doutrina de Santo Tomás.

[3] Cfr. S. Agostino, De doctrina christiana, I, cap. 22; III, cap. 10; S. Bernardo, Liber de diligendo Deo, cap. I ss.; L. Billot, De virtutibus infusis, Roma, Gregoriana, 1906, pp. 375 ss.

[4] Cfr. S. Giovanni Della Croce, Notte oscura e Fiamma viva; S. Teresa D’Avila, Castello dell’anima; S. Francesco Di Sales, Teotimo o Trattato dell’Amor di Dio; N. Del Prado, De gratia et libero arbitrio, Friburgo, 1906; P. Parente, Anthropologia supernaturalis, Roma, 1949; L. Billot, De gratia Christi, Roma, 1923; R. Garrigou-Lagrange, De Deo uno, Torino, Marietti, 1940.

[5] Cfr. R. Garrigou-Lagrange, Le tre età della vita interiore preludio di quella del cielo. Trattato di Teologia ascetica e mistica, 4° vol., Roma-Monopoli, Edizioni “Vivere in”, 1998.

[6] Cfr. A. Royo Marìn, Teologia della Perfezione cristiana, Roma, Paoline, 1960; Id.,Teologia della Carità, Roma, Paoline, 1965, A. Gardeil, La structure de l’âme et l’expérience mystique, Parigi, 1927.

[7] Cfr. S. Tommaso D’Aquino, Quaest. disput. de caritate; Id., Opusc. De duobus praeceptis caritatis.

[8] “A única medida para amar a Dio é a de amá-lo sem medida” (S. Francisco de Sales, Teotimo)

[9] Cfr. os grandes comentatores de S. Tommaso: Gaetano, Ferrarense, Bañez, João de Santo Tomás, Salamanticenses, Billuart.

[10] Cfr. R. Garrigou-Lagrange, De virtutibus theologicis, Torino, Marietti, 1949, pp. 270-340.

[11] S. Afonso Maria De Ligório, Theologia Moralis, II, De caritate.

[12] Por exemplo S. Bento de Núrsia na Sagrada Caverna de Subiaco por três anos “secum vivebat” (vivia apenas consigo mesmo e em comunhão com Deus) escreve S. Gregorio Magno.

 

 

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