O CULTO DA DIFAMAÇÃO, POR GUSTAVO CORÇÃO

 

DOIS AMORES, DUAS CIDADES

GUSTAVO CORÇÃO

Uma cultura que exalta a glória, e a fama, como os mais altos valores, necessariamente produzirá o valor da difamação, da sátira e da ironia. Se há muitos que se pavoneiam, muitos haverá que se riam. Se abundam os que buscam louvores, abundarão também os vitupérios e as maledicências; e onde a fama é procurada, a difamação é vendida. Surgem na Renascença os profissionais da lisonja ou da difamação conforme a encomenda e o preço. Pietro Aretino pode bem ser o patrono da imprensa marrom, ou dos chantagistas de todos os tempos.

BURCKHARDT: “Aretino apresenta o primeiro caso em que a publicidade é utilizada de maneira abusiva e em grandes proporções para servir fins tão indignos. Não menos infames, por sua intenção, e pelo tom em que estão reduzidos, são os escritos polêmicos que cem anos antes haviam trocado entre si Poggio e seus adversários, mas a diferença reside no fato de não serem esses escritos destinados a imprensa, e sim, apenas, uma publicidade clandestina ou semiclandestina. Aretino, ao contrário, faz negócios com a publicidade mais completa e absoluta. De certo modo pode ser considerado um dos precursores do jornalismo moderno”. La Cultura del Renascimento em Itália, Ed. Escelicer, Madri, 1941, pg 106)

Mais adiante o mesmo autor acrescenta que toda Itália se convertera numa escola de maledicência como jamais se vira igual, ou mesmo se verá na França de Voltaire.

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