P. ROGER CALMEL: LUZ DO APOCALIPSE




P. Roger Calmel O.P.
 [Tradução: Gederson Falcometa]  


Podem-se encontrar estranhas, complicadas e as vezes até mesmo desconcertantes visões, sempre grandiosas, do Apocalipse de São João. Não se pode porém acusá-lo de fornecer uma ideia milenarista ou progressista da história. Neste não se encontra uma só alusão, por quanto sútil a suponha, a uma ascensão do ser humano para uma super-humanidade, nem a uma transfiguração da Igreja militante em um Igreja onde não existem mais pecadores ou que cessem de ser um alvo aos ataques das duas Bestas. Sob qualquer forma que se apresente, o mito do progresso é totalmente estranho a revelação do vidente de Patmos; este mito, como veremos, é de fato destruído pelas suas revelações. A razão maior, na perspectiva do Apóstolo João, inspirado pelo Senhor, é a impensável heresia ultramoderna segundo a qual a construção da humanidade através da busca, da ciência e da organização terminaria bem rápido por identificar-se com a Igreja de Deus.

Veremos no Apocalipse apenas o desencadeamento dos flagelos, o seu rugido vingador quando se abaterem duros e rápidos [1] sobre os homens ímpios e sacrílegos, como enormes grãos de granizo, e ainda mais sobre poderosos perseguidores e sobre seus formidáveis impérios? Sem dúvida castigos e punições são parte integrante do Apocalipse; todavia, lhe são apenas uma parte e não a mais essencial. A parte substancial, a mais significativa, aquela que o apóstolo inspirado entende sobretudo ensinar, me parece que se possa resumir em duas verdades fundamentais. Primeira verdade: soberania de Cristo sobre todos os eventos da vida do mundo e da Igreja; em efeito, ele é digno de receber o livro da história e “de abrir-lhe os selos porque foi condenado a morte e nos resgatou com seu sangue; – porque é o Primeiro e o Ultimo e vive nos séculos dos séculos, tendo na mão as chaves da morte e do inferno” (5,5-9,5-17-18). A outra verdade é aquela da vitória de Cristo sobre o demônio e os seus sequazes, e do prolongamento desta vitória na Igreja e nos seus santos; mas neste ponto devemos ter muita atenção porque esta vitória, longe de suprimir a cruz e torná-la inútil, se realiza apenas através da cruz. “Dicite in nationibus quia Dominus regnavit a ligno”.

Do mesmo modo o Apocalipse coloca subitamente fim ao sonho por vezes infantil e tenro, mas talvez mais frequentemente vil e odioso, que faz esperar para a vida do cristão uma fidelidade a Cristo sem tribulações e para o futuro da Igreja um fervor de santidade que não deveria mais sofrer do externo a perseguição do mundo, nem ao interior as traições dos falsos irmãos e por vezes até do clero e dos prelados. O millenium encantador não chegará nunca no tempo. A exclusão definitiva e total dos ímpios e dos perversos e deferida no ultimo dia, quando ressoará a sentença inexorável: “Fora os cães, os envenenadores, os impudicos, os homicidas os idólatras e qualquer um que ama e prática a mentira” (22,15). Daqui até então, podemos dar testemunho de Jesus apenas imergindo a nossa veste no sangue do Cordeiro divino que “nos amou e nos resgatou dos nossos pecados”. Não iremos a Ele sem atravessar a torrente da grande tribulação.

Soberania de Cristo, vitória de Cristo prolongada nos seus eleitos por meio da cruz; sobre estes dois maiores ensinamentos cito alguns dos versículos mais significativos.
Em primeiro lugar sobre o pleno poder de Cristo: “E quando eu o vi (o Filho do Homem), caí a seus pés como morto. Mas ele colocou a mão direita sobre mim e me disse: não temas; eu sou o Primeiro e o Ultimo, o Vivente. Sofri a morte, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (1,17-18). Diante do Cordeiro imolado, “os quatro Viventes e os vinte e quatro anciãos… cantavam um cântico novo dizendo: Tu és digno de receber o livro [o livro de todas as coisas que devem acontecer] e de abrir-lhes os selos, porque foi abatido e recuperou para Deus com seu sangue, homens de todas as tribos, língua povos e nações…” (5,9). “ E vi imediatamente aparecer um cavalo branco, e aquele que estava sobre ele tinha um arco, e lhe foi dada uma coroa; e parte vencedor para obter novas vitórias” (6,2). Os dez reis “não tem um que o mesmo pensamento e  sua potestade e força,  coloca a disposição da Besta. Esses fazem guerra ao Cordeiro, mas o Cordeiro lhes vencerá, porque ele é o Senhor dos senhores e o rei dos reis, e com Ele venceram os seus, os chamados, os eleitos e os fiéis” (17, 13-14).

Eis agora algumas passagens sobre o triunfo destes eleitos e destes fiéis, que serão relatados através da cruz e que representam o cumprimento da vitória de Cristo. “Então um dos anciãos toma a palavra, dizendo: Estes que estão envoltos em vestes brancas, quem são e de onde vieram? E eu respondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Estes são aqueles que veem da grande tribulação e lavaram  as suas vestes e as fizeram brancas no sangue do Cordeiro. Por isto estão diante do trono de Deus, e dia e noite lhe prestam o seu culto de adoração em seu templo… O Cordeiro que esta em meio ao trono os apascentará, e lhes guiará as fontes de águas vivas, e Deus lhes enxugará toda lágrima dos seus olhos” (7,13-17). “…O acusador dos nossos irmãos [Satanás], aquele que dia e noite os acusava diante de nosso Deus, foi precipitado. Agora, esses o venceram em virtude do sangue do Cordeiro e com a palavra do seu testemunho, e desprezaram a sua vida até ao ponto de aceitar a morte” (12,10-11). “E vi como um mar de cristal misto de fogo, e aqueles que haviam vencido a Besta, a sua estátua e o número do seu nome, estavam em pé sobre o mar de cristal com as harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grande e maravilhosas são as suas obras, o Senhor, Deus onipotente! Justas e verdadeiras são as tuas vias, o Rei das gentes. Quem não temerá, o Senhor, e não glorificará o seu nome? Se, apenas tu és Santo, e todos os povos virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos se tornaram manifestos!” (15, 2-4). “… E vi também as almas daqueles que foram martirizados por causa do testemunho dado por Jesus e pelo Evangelho de Deus, e todos aqueles que não adoraram a Besta nem a sua estátua, nem receberam a sua marca sobre a fronte e sobre as mãos; estes viverão e reinarão com Cristo, por mil anos… Esta é a primeira ressurreição” (20,4-,5) [2].

Estes versículos nos iluminam e nos confortam. Não esqueçamos, porém, que são tomados a partir das grandes visões alegóricas. É aqui, nestas visões preenchidas de doutrina e de ensinamento sob forma de alegoria, é aqui que o Apocalipse deixa entrever ainda melhor o próprio escopo; e é através da doutrina que se liberta das visões, que essa exercita ainda mais a sua admirável virtude consoladora e pacificadora.

Podemos abordar imediatamente o décimo segundo capítulo, no qual vem traçados os imensos afrescos que estão ligados mais particularmente a história da Igreja. Daí e após as maravilhosas cartas aos sete Bispos da Ásia, foi sim a história do mundo ser enquadrada; se tratava em grande parte, também se não exclusivamente, das vinganças divinas sobre o mundo culpado e da preservação dos eleitos em meio a todos os flagelos, no curso dos séculos (porque é certo que o número sete, atribuído aos selos misteriosos dos castigos divinos, abraça a sucessão dos séculos no seu conjunto, até o último dia). 
O capítulo décimo segundo, portanto, nos mostra um diante ao outro, a Mulher e o Dragão. A Mulher, toda pura, reluzente de santidade, revestida do sol, com a luz sob os pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça; o Dragão todo lavado com o sangue dos mártires, orgulhoso e feroz, aparentemente invencível, mas que acumulará derrota sobre derrota. Antes da derrota: a Criança colocada no mundo pela Mulher, isto é pela Virgem Maria, e que o Dragão se prepara para devorar, lhe vem ao invés imediatamente subtraído; em outras palavras, o Filho de Deus, nascido de Maria, que sofreu a paixão, foi glorificado pela ressurreição e ascensão (12,4-5).
Desiludido o Dragão volta o próprio furor contra os discípulos de Jesus, mas não tarda a sofrer uma segunda derrota: é neste ponto que se ouve uma grande voz no céu: “Agora veio finalmente a salvação, a potência, o reino do nosso Deus e a soberania de seu Cristo, porque foi precipitado o acusador dos nossos irmãos… [a antiga serpente que vem chamada Demônio e Satanás]; esses o venceram em virtude do sangue do Cordeiro”.

Atacando agora a Mulher que representa a Igreja, o Dragão se encontrará perdido, ridicularizado e vencido, pela terceira vez. “E quando o Dragão vê que foi precipitado sobre a terra, perseguiu a Mulher… E foram dadas a Mulher as duas asas da grande águia afim que voasse para o deserto… E da sua boca a Serpente, vomitou água como um rio atrás da Mulher, a fim de submergi-la. A terra, porém, veio em socorro da Mulher: a terra abriu sua boca e engoliu o rio que o Dragão vomitara”.

Perseverando em não querer declarar-se vencido, o Dragão começou a fazer a guerra “ contra aqueles que restavam da progenitura da Mulher”, vale dizer aos cristãos. Mas continuará a perder.

Derrota irremediável, já prenunciada pelo paraíso terrestre. É a este ultimo que nos faz remontar a visão do Apocalipse, quando pela primeira vez a Mulher e o Dragão se encontraram de frente. Pensemos no jardim do Éden, a tarde do primeiro pecado e da primeira contrição. O Dragão estava lá. Foi bem sucedido na sua odiosa empresa de enganar os progenitores da raça humana. Tinha também a mãe da mulher que devia nos despertar: Eva, trêmula, ferida pelo arrependimento e encolhida próxima a Adão. E Deus disse a Eva, na presença do demônio que pensava ter comprometido para sempre a salvação, a graça e a felicidade da nossa espécie: “Colocarei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua raça e a sua, e ela te esmagará a cabeça”.  

Este foi o Proto-Evangelho. Mas o Evangelho definitivo deveria manter esta promessa muito mais do que se poderia prever ou desejar. Se trata da diferença entre a profecia e a sua realização: a realização supera em muito a profecia em maravilha e esplendor. Ou para dizer melhor, a profecia esconde o esplendor que não se poderia suspeitar antes da realização. A Mulher do Apocalipse é da descendência de Adão e de Eva, como foi profetizado, mas é contemporaneamente a mulher bendita entre todas, a mãe de Deus. É a descendência da Mulher que esmagará o Dragão, como foi profetizado; mas o Filho de Maria é também Filho de Deus; entre nós e senta a direita do Pai (12,5). A vitória é mostrada com uma integridade da qual certamente Adão e Eva não suspeitavam, e que ninguém poderia ter antecipado com uma ideia adequada.

Quando São João anotava a visão do Dragão e da Mulher, a hora da vitória, invocada por milênios por inumeráveis suplícios, era chegada. O tempo anunciado pelos séculos, na obscuridade da lei da natureza,, prefigurada por dois mil anos na penumbra da lei escrita com Adão, Moisés e os Profetas, aquele tempo da plenitude dos tempos chegava finalmente sobre os homens; o tinha trazido a imaculada conceição da Virgem, e sobretudo pela encarnação do Verbo que a imaculada conceição preparava.

Dizemos plenitude dos tempos por duas razões: em primeiro lugar porque quando o Filho de Deus se fez homem, temos para sempre, Nele, a plenitude da graça e da verdade; então, porque o seu poder plenário não cessa de se manifestar no guiar os fiéis, apesar das piores insídias, a plenitude da vitória divina, até o dia no qual o demônio será definitivamente rejeitado “no lado de fogo e enxofre” onde será incapaz de qualquer ação do lado de fora. Entendemos por plenitude dos tempos, o tempo bendito que Deus nos concede em Jesus Cristo, os seus dons e a sua plenitude, enquanto conferiu a Jesus Cristo a potência plenária para nos fazer participar dos seus dons, liberar nos do pecado e introduzir nos no céu.

O grande dia não deve ser mais esperado; com o nascimento, a morte, a glorificação de Jesus Cristo, a data suprema já chegou; desta ordem não teremos outra. Haverá ali, um desenvolvimento disto que foi cumprido naquelas horas inefáveis do tempo humano, mas não nos será jamais o início de uma outra era, uma era que poderia levar a qualquer coisa de radicalmente novo em relação a encarnação redentora. Péguy o cantou na sua meditação diante do presépio:

A solene disputa do dia e da noite marcava naquele silêncio uma invisível trégua
E O TEMPO SUSPENSO NAQUELA HUMILDE MANJEDOURA 
entalhava os contornos de uma hora única e breve.

O tempo era realmente suspenso, no sentido que o seu antigo curso parou
naquele ponto. Era ali que terminava.
E as estradas de ontem e aquelas de hoje
confluíam unidas NAQUELE POBRE BERÇO.

E ainda ali se iniciava um tempo que podemos definir imutavelmente novo, no sentido que a novidade da encarnação redentora, a nova “economia” foi permanente e definitiva, nunca substituída por uma outra mais estupenda, mais transbordante de generosidade, como foi substituída a economia da velha lei. E o sangue que deveria ser vertido sobre a cruz, é “o sangue do testamento novo e eterno”, como dizem a cada dia os sacerdotes sobre o cálice do vinho; e o repetiram até o último dia, até a Parúsia: “donec veniat”.

Assim, a plenitude dos tempos [3] chegou com o nascimento, a morte e a ressurreição do Senhor. Por isso São Paulo escrevia aos Gálatas (4,4): “Quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher e sob a lei, afim que resgatasse aqueles que estavam sujeitos a lei, e nós recebêssemos a adoção dos filhos. E a prova que vós sois filhos esta no fato que Deus mandou o espírito do seu Filho nos vossos corações, o qual grita: Abba! Que significa Pai”. E também aos Efésios (1,10): Deus quis “ na plenitude dos tempos… restaurar todas as coisas em Cristo”. E ainda aos cristãos de Corinto (1 Cor. 10,11): “Nós, que chegamos a plenitude dos tempos”. E Jesus declarava aos seus discípulos (Lc. 10,24): “Muitos profetas e muitos reis desejaram ver aquilo que vós vedeis e não o viram, ouvir aquilo que vós ouvis e não ouviram”. De fato,  “por Moisés foi dada a lei, por Jesus Cristo vieram a graça e a verdade” (Jo 1,17) 

Entramos nos últimos tempos, os tempos do Verbo de Deus encarnado, do Espírito Santo enviado e da Igreja fundada. Sem dúvida estes últimos tempos tiveram seu começo, quando Elisabete chega ao sexto mês e o anjo Gabriel foi enviado por Deus a Virgem Maria. Os últimos tempos são abertos pelo fiat de Nossa Senhora.   Conheceremos um ultimo florescimento “quando aparecer no céu um o sinal do Filho do homem… e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu com grande poder e glória” para ressuscitar nos, para julgar todos, instaurar os novos céus e a nova terra, reduzirá os demônios e os homens danados a impotência total e os “lançará no lago da segunda morte” (Mt 24; 1 Cor 15; Ap 20). Qualquer que seja o número dos séculos que se sucederam no interior dos últimos tempos, entre o seu começo e a sua conclusão, estes tempos permanecem os últimos: não serão substituídos por tempos novos. Nós nos encontramos para sempre no tempo messiânico, aquele da encarnação redentora e de Maria mãe de Deus e dos homens.


Toda a sucessão da história até a consumação dos séculos, esta apenas a explicar aquilo que foi dado uma vez por todas, e não certamente para inventar um novo gênero de dom. A sucessão dos séculos é uma dependência que podemos definir intrínseca nos confrontos redentores”[4] e serve para revelar-lhe as riquezas, para permitir aos eleitos de multiplicarem-se, para manifestar a variedade multiforme da sua participação no amor e a na cruz de Jesus, para testemunhar a maternidade espiritual da Santa Virgem. Do rio da história que escorre aos pés de Nossa Senhora, poderemos dizer, citando os versos de Péguy.


É este rio de areia e este rio de glória
é aqui apenas para beijar o vosso glorioso manto.

Os tempos foram cumpridos; é soada a hora da misericórdia e da insuperável liberalidade do Pai dos céus nos cuidados com a espécie humana: “Ele que não poupou o próprio Filho, mas que o sacrificou por todos nós, como não estará disposto a dar nos todas outras coisas junto com Ele? “ (Rm 8,32). Sem dúvida a Parúsia, o segundo advento do Filho do Homem deve trazer uma mudança inimaginável. Como podemos então imaginar o corpo glorificado, inteiramente transparente de uma alma toda santa? Como podemos imaginar aquela nova terra na qual os homens serão como anjos, “porque nem os homens terão mulher, nem as mulheres maridos” ? (Mt 22,30). Mas quais podem ser as propriedades milagrosas do estado que seguirá o ultimo juízo, não se produziram mudanças essenciais. Porque o essencial é a visão de Deus, florescimento plenário da graça santificante. E a este culminar de felicidade e de gloria temos acesso através do sacrifício de Cristo. Aquilo que nos será dado depois da Parusia, não será outro, que o Cristo que nos foi dado no presépio, no calvário e na ressurreição: o Cristo que nos foi dado uma vez por todas e que fará explodir a sua vitória em plenitude, deixando transbordar toda a potência do seu amor em cada um dos seus irmãos e no corpo místico que será formado no curso dos tempos, “em meio a grande tribulação”.

A evocação do Dragão e da Mulher no décimo segundo capítulo do Apocalipse se aplica não só a Virgem Maria mãe de Deus, mas também a santa Igreja que imita a Virgem. Como Maria de fato foi sempre circuncidada pela sua intercessão, a Igreja é santa, “sem mancha e nem ruga”, ligada a Jesus Cristo como sua esposa, “sponsa Christi”; e geradora de santos: “mater Ecclesia”. Sobre o destino desta Igreja feita a imagem de Maria e que, como Nossa Senhora, é representada pela Mulher, o apóstolo João nos revela profundos mistérios. Nos diz que a Igreja perseguida pelo Dragão, se esconde no deserto; a sua existência é antes de tudo secreta, contemplativa, retirada em Deus, infinitamente distante da vida segundo o mundo; em efeito, a Igreja vive principalmente da vida teologal que a faz viver em Deus. Escondida assim em Deus, pela caridade que a recolhe em Deus e pelos poderes hierárquicos que possuí de forma inadmissível, a fim de dispensar indefectivelmente a graça, a este duplo título retirada do mundo e como protegida em um deserto, não deve temer os ataques do Dragão, antecipadamente voltados para o insucesso, porque a região na qual a Igreja encontrou asilo, isto é a região da vida edificada no Senhor, a defende como um deserto inacessível, um refúgio inexpugnável. Pela sua fundação, a Igreja recebeu “as duas asas da grande águia” para voar ao lugar do seu refúgio; ali estará segura até o último dia [5], assistida pelo Espírito de Jesus, nutrida, reconfortada pelo seu corpo e pelo seu sangue sob as espécies eucarísticas.

O que faz então, o Dragão? Irritado pelo próprio insucesso, recruta aliados  para lança-los contra a Igreja. Por meio deles prosseguirá a luta; uma luta sem respiro que se desenvolve por quarenta e dois meses; em outras palavras, por toda a duração dos tempos históricos.

Se coloca depois sobre a areia do mar (12,18). Vê sair do fundo do abismo uma Besta enorme e monstruosa a qual comunica as suas forças e o seu grande poder; sem mais demora, a Besta é liberada (13, 1-10).

Traduzida corretamente, esta alegoria significa que o demônio se introduz no poder político com a finalidade de voltá-lo contra a Igreja. O primeiro dos impérios por ele utilizados para a execução da sua vontade de perseguição é o império romano. São João  indica como a Besta do mar Roma, porque em comparação a ilha de Patmos, ela surge sobre a outra margem do mediterrâneo; e, porque Roma é edificada sobre sete colinas, a Besta do mar vem representada com sete colinas (“as sete cabeças são as colinas sobre as quais ela se assenta” [Babilônia], 17,9). 

Assim o demônio se introduz na cidade política a fim de combater com mais eficácia a Igreja e os santos. Começou servindo-se de Roma, e a partir de então nunca parou. Depois da queda do império, quando se instaurou há pouco uma cristandade, que é uma cidade relativamente sã, honesta, reta e submissa a Igreja, o demônio não estava mais em grau, como antes, de servir-se das instituições para colocar em ato os seus desígnios; as instituições, bem ou mal, eram conformes a justiça e permeadas do espírito cristão. O que fazia então o demônio? Tentava desviar o rei e os homens do ideal de justiça cristã que era aquele da cidade. Todavia, enquanto a cidade no conjunto, permanecia cristã, não se tornava enquanto tal um instrumento do demônio; não se identificava com a Besta do mar. Mas a dois ou três séculos esta parte da cidade política assumiu novamente as características da Besta recusando-se de reconhecer Cristo e a sua Igreja, é novamente perseguida, seja abertamente ou com sistemas camuflados. Todavia, difere nisto da Roma pagã, a cidade moderna não esta mais ao serviço da idolatria, mas da apostasia: um gênero de apostasia que ocasionalmente possuí a capacidade de se esconder sob definições cristãs. De forma que a Besta é mais perigosa agora que na época de São João.

Mas a Besta do mar não esta sozinha; uma outra a ajuda, é a Besta da terra (13,11-18). Enfurecida em nossos dias, mais que nos primeiros séculos, no tempo no qual São João escrevia a sua obra. Apesar das tréguas momentâneas, será derrotada no fim do mundo. Esta Besta da terra, segundo os mais relevantes comentadores, simboliza os falsos doutores e as falsas doutrinas, a hierarquia com o seu Evangelho deformado, os porta-vozes da apostasia (seja negando o conteúdo da revelação, seja que, com uma erudita alquimia, sapiente e hipócrita, a alterem e a corrompam, embora mantendo intacta a sua aparência); a dois séculos vieram a confundir o Evangelho seja com a pregação de uma liberdade utopista e desenfreada, seja, como na nossa época, com a pregação de um incessante progresso e de uma evolução indefinida, em direção de um ultra-humano que sempre se distância.

É assim que se apresenta, segundo o décimo segundo capítulo do Apocalipse, o antagonismo entre o Dragão e a Mulher. Então o demônio conduz a luta não apenas em pessoa, mas também por meio dos auxiliares formidáveis em primeiro lugar as instruções políticas e depois com os falsos profetas; de um lado as forças da autoridade, a lei, o poder político, por outro o prestígio e a sedução da inteligência, o sistema, os falsos dogmas ou a arte corrupta.

Evidentemente, todos estes precisamentos não estão contidas no texto, mas se baseiam sobre elas, e lhes são conformes, como poderemos nos convencermos facilmente, com uma paciente e atenta leitura dos comentadores cristãos mais relevantes [6].

Aos comentadores me limito a acrescentar uma evocação, aliás rapidíssima, das manifestações sucessivas das duas bestas, daquilo que no curso da história se apresenta como a sua encarnação. Espero com isto não trair o livro inspirado: e é por isso. Os imensos afrescos com os quais o Apóstolo João nos descreve o governo do mundo e a vitória do Senhor, são de algum modo cíclicos e recapitulantes. Retomam alguns temas imutáveis, que desenvolvem e  enriquecem toda vez, mas, na substância, os temas essenciais não mudam; podem ser enumerados como seguem: império soberano de Deus e do seu filho Jesus glorioso sobre toda a série dos acontecimentos; evangelização que nada pode desligar; intercessão dos santos da Igreja triunfante; retorno instancavel das perseguições mas derrota final e certa, dos perseguidores, vitória dos eleitos através do sofrimento e a cruz; intervenção continua dos anjos beatos para castigar os perseguidores e para sustentar e preservar os santos. Estes temas não mudam, mas voltam por vezes através dos vinte e dois capítulos, a ilustração lhe torna mais evidente e óbvia. Penso que se possa concluir-lhe os acontecimentos que compõem a trama da história do mundo e da Igreja apresentam características essencialmente imutáveis, mas nunca se repetem da mesma maneira.

Os acontecimentos da história do mundo e da Igreja não são acontecimentos de transformações totais e indefinidas que superam a natureza da Igreja e aquela da cidade em um esforço de ascendência irrefreável e alucinante para uma humanidade e uma Igreja sempre melhores. Esta concepção é apenas um mito hegeliano e teilhardiano. A doutrina revelada, é em particular aquela que se desencadeia pelo Apocalipse, é em realidade toda outra, até contrária. A sagrada doutrina, confirmada aliás pela experiência, nos demonstra que os acontecimentos da história da Igreja são sempre feitos pela evangelização, ainda que os povos evangelizados sejam diferentes a segunda das épocas, das raças e das línguas; encontramos sempre perseguições e traições, mas também sempre a vitória dos mártires, dos confessores e das virgens; por sua vez, estas perseguições ou estas traições tomam sempre a forma de ataques ou de manobras, devidas seja ao poder político (oficial ou escondido), seja aos profetas de mentiras e aos doutores de ilusões e de confusões. Evidentemente, os ataques e as manobras das duas Bestas mudam no curso dos séculos e a vitória obtida a cada vez pela Igreja sobre ela aparece sempre sob aspectos novos, não ainda entrevisto. É neste sentido que é irreversível, mas nem a perseguição nem a vitória, nem seus elementos constitutivos, são irreversíveis. Ao contrário, os seus caracteres essenciais se reencontram invariavelmente, com notável constância.

O afirmo porque é verdadeiro, mas também porque por toda parte se busca de impor-se o contrário, ou melhor, porque a Besta da terra emprega toda astúcia e inumeráveis pressões para levar nos a pensar que tudo estaria em transformação e no devenir; que, por exemplo, a Igreja do concílio de Trento com o seu ensinamento, a sua liturgia e a sua concepção de apostolado não seria mais atual. Então, deveríamos por agora construir uma Igreja do século XX, totalmente diversa daquela do século XVII e que abriria por sua vez a via da Igreja do Século XXI e XXII, que por sua vez não teria em comum com a precedente uma que impetuosa vertigem para um neocristianismo nunca alcançado, mas sempre mais deslumbrante e extraordinariamente fabuloso.

A Besta da terra nos diz também que  acabou a divisão com o mundo e a sua hostilidade. A Igreja então coexistiria pacificamente com o mundo que, quase sem querê-lo e como espontaneamente, acabaria por coincidir com ele sem ser-lhe mais hostil: pelo menos, na medida em que tinha sido despojada de toda autoridade jurídica e de toda caridade transcendente.

Estamos envoltos nas brumas do progressismo. Se continua a nos falar de história, mas se perdeu o sentido dos carácteres fundamentais da história: de fato, também se coloca prevalentemente o acento sobre o irreversível (e é verdadeiro que a sucessão dos acontecimentos é irreversível), se esquecem das virtualidades bem determinadas e precisas que os diversos acontecimentos da cidade terrena e da Igreja de Deus continuam a manifestar, longe de esticar lhe sem fim. O sucessivo e o irreversível esconderam o estável e o permanente.

Se estamos circundados pelas brumas do progressismo, a causa é um grave pecado: o orgulho. O homem quis substituir-se a Deus, e não apenas a título individual mas também por meio de um novo tipo de sociedade que tem persistido em erigir. E, porque o experimento foi inconcludente e a sociedade se revelou cheia de deficiências, a realização de uma sociedade ideal foi então adiada para um futuro que se aproxima do infinito. O futuro da sociedade em construção: eis aqui aquilo que tomou o lugar de Deus. É um mito devorante que tem sempre razão porque fala, comanda, edifica e oprime, não em nome de critérios e de leis verificáveis – traços de uma natureza bem conhecida com uma finalidade atribuída e fixa –  mas em nome de um futuro que assume todos os contornos de um sonho quimérico, que esta a cada dia um pouco mais distante.

O Apocalipse nos ensina ao invés, que a história da Igreja é sem dúvida uma história, um desenvolver-se irreversível e não uma espécie de engrenagem de relógio que gira em círculos; mas também que esta história, nunca idêntica e de uma beleza que se renova sem substituição, apresenta todavia carácteres fixos e imutáveis: em particular a evangelização que nada pode parar; e então a hostilidade, seja declarada ou mascarada, do Dragão e das duas Bestas contra a Mulher; enfim, a vitória de Cristo e dos Beatos.   

Em realidade, a hostilidade do Dragão se revela definitivamente impotente. E, ainda que os filhos da Mulher devam suportar terríveis sofrimentos, eles serão vitoriosos em meio a pena e os mesmos tormentos. Como a Igreja, a sua mãe,  escapa do Dragão porque se encontra sobre um outro plano, assim esses são colocados sobre um plano diverso e não correm o risco de serem vencidos; pelo menos aqueles que entendem seguir o Cordeiro, que chegam até a dar o testemunho do martírio e que “tem desprezado a sua vida até ao ponto de aceitar a morte” (12,11). Aqueles, em suma, que vivem as virtudes teologais com tanta profundidade em agarrar-se inflexivelmente a cruz de Jesus. Os outros, “os vis e os incrédulos” (21,8) são vencidos pelo demônio. Assim, os cristãos que permanecem fiéis a Jesus estão seguros de obter com Ele a vitória sobre o Dragão.

Eis como termina a batalha, aqui o fim da luta das duas Bestas contra a Igreja: “Então, eu vi o Cordeiro que estava em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil pessoas que tinham escrito na fronte o seu nome e aquele do seu Pai… E cantavam um cântico novo diante do trono, diante dos quatros Viventes e dos anciãos, e nenhum podia aprender o cântico se não os cento e quarenta e quatro mil resgatados da terra. São aqueles que não se macularam com mulheres, porque são virgens” (14, 1-4). São puros porque consagraram a Jesus Cristo a sua alma e o seu corpo, e é este o óbvio significado do versículo; mas são puros também no sentido que conservaram a sua alma na santidade de Deus, não prostituíram a sua vida ao culto do Dragão e das Bestas (ou se arrependeram antes de morrer). Aqueles cento e quarenta e quatro mil não apenas são puros e sem mácula, mas triunfam por meio da cruz de Jesus; de fato avançam “depois de ter atravessado [a torrente] da grande tribulação, depois de terem lavado e feito brancas as suas vestes no sangue do Cordeiro. Por isto estão em pé diante do trono de Deus e diante do Cordeiro, envoltos em brancas vestes e com palmas nas suas mãos. E o Cordeiro será o seu pastor, e lhes guiará as fontes de água da vida, e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos” (7, 14-9-17).

Naquilo que diz respeito a Besta do mar, a cidade política passada a dependência de Satanás, a grande Babilônia, a soberba prostituta inebriada pelo sangue dos mártires de Jesus (18, 5-6), essa desmorona em poucos minutos, como a pedra enorme que o cordeiro levanta e precipita no fundo dos oceanos (18,21). Babilônia tenta recuperar-se no inteiro curso da história, mas os colapsos são numerosos quanto as tentativas de reconstruções.. E assim será sempre. O demônio e as duas Bestas não estão sobre o ponto de tomar em mãos os destinos do mundo; é o Cordeiro imolado e glorificado, que lhes é Senhor soberano, que a esse foram entregues.

O demônio e as duas Bestas definitivamente não superarão as suas derrotas e para vencer; frequentemente, poderá parecer que se recuperem;  se poderia até mesmo afirmar que o triunfo seja da sua parte, mas não é senão uma aparência. No fim, o demônio e as duas Bestas “serão lançadas no lago de fogo e enxofre, e serão atormentadas dia e noite nos séculos dos séculos” (20,11); não não tentaram mais destruir e nem recomeçara os seus jogos satânicos de perseguição e corrupção.
A partir disto, então, o triunfo é apenas aparente. Em efeito se trata de um triunfo que não poderia ser atribuído ao demônio, como se estes pudessem verdadeiramente obter alguma vitória sobre Jesus Cristo, ou como se Ele pudesse ser vencido. A este propósito se deve prestar a máxima atenção para não permanecer enganado pela linguagem, para não imaginar a luta de Satanás contra Jesus Cristo como se si tratasse de uma guerra entre dois quaisquer monarcas    deste mundo, que como tais são ambos criaturas. De fato, o demônio é, sim, uma personalidade criada (um puro espírito, rebelde e condenado), mas não o é Jesus Cristo, que é o próprio Verbo de Deus. Nem deriva que a luta de Satanás contra ele não pode ser comparada as guerras que acontecem entre dois grandes desta terra.
Em realidade, as possibilidades do demônio se chamam pecado mortal, inferno e danação, perda definitiva da graça e da paz. De uma perda e uma privação tão assustadora, assim total, não poderia vir definitiva “vitória” se não muito impropriamente.

Se diz que o demônio triunfa quando induz os homens a subtraírem-se voluntariamente a graça de Cristo, a vida e a alegria, como ele próprio, primeiramente se subtraiu voluntariamente. Não se trata porém de um sucesso obtido sobre Deus, mas mais de uma voluntária renúncia aos prêmios inefáveis que Deus reserva para aqueles que ama.

É preciso perceber além disso, que em Cristo não existe nunca carência de graça e de poder, tanto para colocá-lo em condição de inferioridade quando ele vem recusado ou combatido pelos homens. Cristo não pode ser derrotado. O pecado não é nunca o resultado de sua inferioridade. Quando os homens o recusam ou até mesmo o combatem, a inferioridade e a derrota são da parte deles e são horríveis; os homens se subtraem a uma graça que era de todo suficiente e se privam assim dos dons celestes. Não ganham; perdem de forma atroz.

Com estas indicações, ainda que muito rápidas, podemos compreender que a guerra de Satanás contra Jesus Cristo e os seus santos não devem ser concebidas sob o tipo das outras guerras; nem sequer a vitória é do próprio gênero; em realidade, ela não pertence ao demônio; o ser vitorioso não é uma prerrogativa de Satanás, mas de Jesus Cristo.

Para voltar a sublime visão dos cento e quarenta e quatro mil que obtiveram a vitória sobre o demônio e sobre os seus sequazes; recordemos antes de tudo o caráter peculiar desta vitória: se  cumpriu não porque ela foi dispensada pela cruz, mas porque a tinha aceitado com amor. Encontramos aqui, ainda que apresentada de um ponto de vista diverso, a doutrina da beatitude. A beatitude, como a vitória, é concedida não aos discípulos que fazem de tudo para escapar das privações, das dores e das perseguições, mas aqueles que a aceitam por amor de Deus. Beatos aqueles que tem o espírito de pobreza…. Beatos aqueles que choram… Beatos aqueles que sofrem perseguições pela justiça…

Esta é a estrada da beatitude. O viajante que se apresenta, não caminha nunca sozinho, porque o Senhor faz esta estrada com ele, ainda quando esta escondido ou permanece em silêncio. Por outro lado, qualquer que sejam as contrariedades ou os imprevistos do caminho, o fiel não será nunca presa de uma perda total; sente próximo o murmúrio de uma fonte viva; encontra de beber ainda quando o lugar é árido e o sol é quente. Como escrevia São João da Cruz [8]. Esta fonte eterna é bem escondida, mas apenas de onde jorra e flui, ainda se é noite”. É o Senhor mesmo que faz jorrar uma fonte no momento oportuno, para o viajante fiel.

Depois da anunciação, da paixão e do pentecostes, nos encontramos na plenitude dos tempos. A Esposa desceu do céu, vindo de Deus, vestida pelo seu Esposo. Deus erigiu o seu tabernáculo entre os homens, esses se tornaram o seu povo, o povo da nova e eterna aliança (21,1-4, 10-11). Esta plenitude dos tempos tem uma história que é de uma novidade imprevisível, que aparece no curso dos séculos, dos anos e dos dias, inesperada e repousante quanto ao rosto dos inumeráveis santos que Deus suscita no jardim da sua Igreja. Mas a novidade da história se funda sobre a permanência da natureza. Por outro lado, ainda que se os santos não são nunca intercambiáveis, a sua santidade é invariavelmente uma vitória através da cruz.

Assim a Igreja desenvolve a sua história no interior da plenitude dos tempos e se apressa a encontrar o Esposo, não prestando-se a alguma mudança sacrílega, mas elevando, enquanto se prolonga a sua peregrinação sobre a terra, o próprio canto de vitória e a própria imploração sugerida pelo Espírito Santo; o timbre de voz é a cada dia novo, mas a imploração não muda e o canto é o mesmo. Ao mesmo modo, na sua aclamação a Virgem, a Igreja eleva sempre o mesmo Magnificat, o qual acento porém, é sempre novo, de geração em geração.

Estes são os pontos principais da doutrina do Apocalipse sobre a história misteriosa da imutável Igreja de Deus.

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Notas:
[1] Ver 8,7
[2] A ressurreição antes dos santos e dos mártires indica a regeneração espiritual que se cumpre já agora, diferentemente da ressurreição gloriosa, depois da Parúsia; a duração de mil anos que mede a primeira ressurreição indica o curso da história presente em tudo o seu conjunto (sendo mil anos uma cifra perfeita) em contraposição a eternidade que medirá a ressurreição gloriosa. Nenhum sentido milenarista.
[3] Ver I-II, 106, 4, sobre a nova lei que deve durar até o fim do mundo. “Artigo… que esmaga pelas raízes todas as tentativas, que se renovam incessantemente, de orientar a história para uma era de messianismo do Espírito, onde a revelação do Novo Testamento e a concepção da Igreja como corpo passível de Cristo, foi superada (JOURNET, Introduction à la Théologie, Desclée de Brouwer, Parigi, pp. 185-186).
[4] Esta doutrina vem ilustrada por São João, no capítulo 5 do Apocalipse, quando nos descreve em um grandioso afresco como os destinos do gênero humano são perdoados por Jesus Cristo, imolado e glorificado; como somente ele esteja em grau de abrir o livro dos sete selos.
[5] A indicação da duração do seu retiro: um tempo, dois tempos, um meio-tempo e um código-simbólico que indica o curso da história inteira.
[6] Em particular P. ALLO O.P., L’Apocalypse (Gabalda, Paris) ou o resumo que nos da Padre Lavergene O.P. (mesmo título do próprio editor)
[7] São João da Cruz. O poema, Aunque es de noche, que comincia così:” Que bien sé yo la fonte que mana y corre. Aunque se es de noche”

Ver o meu livro Sur nos routes d’exil, les béatitudes, fim do oitavo capítulo, sobre Deu escondido.

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