MONS. LANDUCCI: O SEXO EM TEILHARD DE CHARDIN

SERVO DE DEUSMONS. PIER CARLO LANDUCCITradução: Gederson Falcometa
O APROFUNDAMENTO PAN-SEXUALISTA TEILHARDIANO
Teilhard afrontou o problema da mulher, da sexualidade e do amor, desde os seus primeiros escritos em anotações do tempo de guerra, e depois, em 1918, com 36 anos, em um breve poema relativo a emissão dos seus votos, a virgindade e a Nossa Senhora: L’Éternel Féminin (cfr. Écrits du temps de la guerre, 249-257).
Depois seguiu falando largamente da sexualidade e do amor em todos os seus ensaios mais importantes, inserindo no seu quadro cósmico de timbro monista, evolucionista e pan-psiquista, uma espécie de pan-sexualismo.
Em tal quadro em sentido genérico para Teilhard, existe um só amor, o qual é «o mais universal, o mais formidável e o mais misterioso das energias cósmicas» (L’Énergie Humaine, 1937, pubbl. 1962, p. 40). «Sob forma mais geral e do ponto de vista da Física, o amor é a face interna, sentida, da afinidade que liga e atrai entre eles os elementos do Mundo, centro a centro… ele varia constantemente com a perfeição dos centros do qual emana. No homem, por consequência (só o elemento conhecido do Universo no qual a Noogênese tenha progredido tanto a aparecer como uma fornalha fechada, refletida sobre si mesma)… as suas propriedades unitivas… operam com uma clareza excepcional… O Homem… na medida em que chega a amar é o mais magnificamente sintetizável de todos os elementos que nunca foram construídos pela Natureza» (L’Activation de l’Énergie, 1953, pubbl. 1963, p. 77 s.).
Mais particularmente, em relação ao homem e a si mesmo, ele expôs tal confusão e aberrante ideologia e práxis em dois textos, um L’Évolution de la Chasteté, escrito na China, durante um retiro espiritual em 1934 e o outro Le Féminin ou l’Unitif,escrito em Páris em 1950 (como uma espécie de apêndice ao Coeur de la Matière). Estes dois graves textos tinham permanecido inéditos até 1968 (tendo sido retirados, como parece, pelos legítimos editores, da tipografia), quando foram publicados em França, abusivamente, com boa garantia de autenticidade e depois, em boa parte, por mim na Itália, em Orientações de Palestra do Clero. No último livro do P. de Lubac S.J. (1968), L’Éternel Féminin, usual de plena defesa, foi depois largamente citado o primeiro e só um pouco o segundo.
Algumas reflexões de T., agora publicadas, dos escritos desde 1916, completam os pretensos aprofundamentos teilhardianos sobre este delicado assunto.
Os aspectos mais enganosos e perigosos do problema, que inundaram um pouco o campo moderno católico, encontram, como era de se esperar, na concepção de T. o usual precursor.
Como demonstra o próprio título do seu estudo especial: A Evolução da Castidade, T. intervém com a habitual hostilidade a doutrina tradicional e com a ilusão de dizer a preciosa palavra de aprofundamento: «É um esforço absolutamente leal e desinteressado que busca ir a fundo em uma questão que me parece terrivelmente vital [isto é verdadeiro] e terrivelmente obscura [para o seu olhar hostil, em realidade, as claras posições tradicionais]. Reuni aqui tudo aquilo que pude encontrar no fundo das minhas evidências [portanto, fora de discussão: o consueto absolutismo teilhardiano], diante de questões e de desafios que não tinham nada de abstrato, para constituir a defesa e sobretudo para definir o valor ou a essência da castidade» (A L. Zanta, 24 giugno 1934: in de Lubac, o. c., 74).
Todavia, segundo de Lubac, T. diz abertamente querer defender com todas as suas forças “a posição tradicional da Igreja”: mas, ao habitual, são protestos de bem pouco valor objetivo, diante dos fatos contrários.
Inserida na preconcebida visão cósmica monista evolutiva, o amor teilhardiano não terá que refutar e negar nada para elevar-se ao superior estado virginal, nem terá que atrair ajudas superiores sobrenaturais. Tal estado não será que a natural elevação evolutiva da imanente sexualidade cósmica, correspondente a uma fase progredida na esfera humana pela qual a finalidade procriadora terá perdido valor e a qual culminante expressão será a Virgem Maria. A realista rebelião dos sentidos, o dualismo paulino conjugal (1Cor 7) contra a unidade virginal, a transcendência da virgindade sobrenatural, se dissolvem.
Em vão T. apela inicialmente (1916) a revelação: «A Virgindade: certa intrusão do Revelado no Cosmos»; acrescentará: «a Virgindade é, de um lado, uma abertura natural» (de L., o. c., p. 9). Sempre na mesma época, prosseguindo nesta contraditória concepção da superioridade revelada da virgindade cristã, que todavia seria aberta naturalmente, se pergunta: «Isto indica que a Vida natural alcançou um fim definitivo, sendo que de agora em diante a expansão da raça foi superada pelo aperfeiçoamento dos indivíduos? É [ao invés] isto simplesmente um novo componente destinado a coexistir com o instinto sexual, para corrigi-lo, sem minimamente proscrevê-lo, restando ainda a vida natural um trabalho essencial a ser cumprido? » (ivi 11). Em Evolução da Castidade, T. não apenas pretenderá superar os ensinamentos que seriam empíricos e envelhecidos do pensamento católico, mas também aqueles de S. Paulo nos quais coloca em evidência que Deus não é «da mesma ordem» [que profunda evidência!] que nós, pelo que cada amor humano «não cai sob a repreensão [mas não é por nada uma repreensão; é uma constatação acerca do amor conjugal, de resto santo] feita pelo Apóstolo de dividir» (in de L., o. c., 78). Já T. tinha feito um ensaio da sua concepção irênica sobre a própria sexualidade, ousando apresentar, em uma conferência, o vergonhoso livro do subversivo Gide, Nourritures terrestres, observando que «a espiritualidade cristã podia encontrar o seu bem também naquele elogio do mundo da carne» (G. Vigorelli, Il Gesuita proibito, 92).
A concepção da sexualidade como fundamental e universal energia cósmica, evolutivamente vibrante e ascendente no homem, apresenta um forte timbre freudiano. Ela não surpreende minimamente em quem admite que «não existe, concretamente, Matéria e Espírito: mas existe somente Matéria que se torna Espírito…: o Tecido do Universo é o Espírito-Matéria. Nenhuma outra substância fora destas saberia produzir a molécula humana” (1936: L’Énergie Humaine, 74).
Todo desabrochamento de vitalidade humana seria, segundo T., radicado na sexualidade, ou seja, no feminino. Ao que, entre outras coisas, seria, desse modo, imediatamente contestado: e as vitalidades da mulher? Já que T, com estranha unilateralidade, considerando o homem fala quase sempre do macho, a que serviria a mulher, descuidando, o caso inverso. Ele considera como radicado no Cosmos o «instinto sexual e materno» (de L., o. c., 11) visto, em geral, no rosto do homem, masculino.
As graves implicações praticas desta concepção, especialmente para o estado virginal, são intuiveis. Algumas citações evidenciam melhor a gratuidade e o alcance de tal concepção. Os aspectos mais concretos se referem diretamente a própria experiência pessoal de T., como ele muitas vezes declara explicitamente.
O instinto humano… sexual e materno [dito assim como gerador de energias, mas que depois T. concretiza na atração da mulher, descuidando o caso recíproco]… é contemporaneamente: 1 – o sinal mais experimental do domínio dos indivíduos por parte de uma corrente vital extremamente vasta; 2 – a fonte, em qualquer modo, de todo o nosso potencial afetivo [ótimo pretexto para a alardeada necessidade de integração afetiva sacerdotal, em contrate com toda melhor ascética sacerdotal]; 3 – e enfim uma energia eminentemente apta… a enriquecer-se de mil tons sempre mais espiritualizados, a derramar-se sobre muitos objetos, e sobretudo Deus [o mesmo instinto substancial!]» (1916: ivi, 11). Isto corresponde ao que ele tinha escrito pouco antes: «Todos os grandes e puros amores, aquele de Deus, aquele da especulação, aquele do Cosmos, não são de fato que transformações do amor fundamental, cósmico (= sexual), que o indivíduo dirige sobre os objetos particulares?» (ivi, 10).
De outra parte «toda união amorosa deve começar sobre terreno material da presença e do conhecimento sensível [então, também o amor virginal e também o amor de Deus?]» (Écrits… guerre, 192-94: ivi, 14). «Toda união deve começar sobre o terreno material» (1917: ivi, 17).
Radicalmente: «Para o Homem, através da Mulher, é na realidade o Universo que avança… A mulher está diante do homem como a atração e o Símbolo do Mundo. Ele não saberia unir-se a ela ampliando-se, por sua vez, a medida do Mundo… na União universal consumada. O Amor é uma reserva sacra de energia, e como o próprio sangue da Evolução espiritual [sexualidade coincidente com a sacralidade]» (1931: L’Énergie Hum., 41 s.).
Mais tarde (1936) insistirá sobre a concepção absoluta da sexualidade: «A mútua atração dos sexos é um fato igualmente fundamental que qualquer explicação (biológica, filosófica ou religiosa) do Mundo que não conduzir a encontrar-lhe no seu edifício um lugar essencial para construção, é virtualmente condenada(ivi, 91)… Por meio da mulher, e apenas por meio dela, o homem pode evitar o isolamento no qual a sua própria perfeição corre o risco de fechá-lo (ivi, 93)… sexualidade [entendida, antes de tudo, obviamente em sentido plenamente conjugal], energia terrível na qual passa através de nós, em linha reta, a potência que faz convergir sobre si mesmo o Universo [as costumeiras imagens grandiosas teilhardianas ricas apenas de fantasia]… Então, a gravidade das culpas contra o amor não é ofender algum pudor ou alguma virtude. Essa consiste no desperdiçar, por negligência ou por voluptuosidade, as reservas de personalização do Universo. É esta dispersão que explica a desordem da impuridade (ivi) [ assim um livre amor ou uma relação conjugal onanística que se sentissem idônea a desenvolver a personalidade, não seriam condenáveis]… Aqui se manifesta uma grande diferença… com as regras admitidas pelos antigos moralistas [que impunham as necessárias renúncias]. Para eles, pureza era geralmente sinônimo de separação dos sexos. Para amar era necessário deixar [se insere aqui também a perspectiva do estado virginal, que T. não sabe considerar como especificamente diferente mas como vértice de transformação, o fim da própria linha]… O binômio homem-mulher foi substituído pelo binômio homem-Deus (ou mulher-Deus): tal era a lei da suprema virtude [plenamente, no estado de consagração virginal]… A pureza, diremos [ao invés] nós [sem fazer distinção de estado conjugal ou virginal], exprime simplesmente [ilusoriamente excluindo algum necessário renegamento] o modo mais ou menos distinto do qual se explícita, acima dos dois seres que se amam, o Centro último da sua coincidência [Deus]… unir-se a um maior de si. O mundo não se diviniza por supressão, mas por sublimação. A sua santidade não é eliminação, mas concentração da linfa da Terra… nova ascese [derivada] a noção de Espírito-Matéria» (ivi). «Sublimação… e mais ainda transformação [prossegue agora a visão unitária, abstrata e sonhadora, ignara da verdadeira análise psicológica, espiritual e realista]. Se é verdadeiro, então, que o homem e a mulher se unirão tanto mais a Deus quanto mais se amarem um ao outro… mais aderirão a Deus, mais se verão conduzidos a amarem-se de modo mais belo… para uma diminuição gradual… da reprodução… [e acréscimo da] personalização [da Terra!]… Não é simplesmente questão… de controlar os nascimentos, mas de… dar plena expansão a quantidade de amor liberada do dever da reprodução… [separando-se] daquilo que deveria ser em outro tempo o órgão de propagação, a carne. Sem cessar de ser físico… o amor se tornará mais espiritual. O sexual, para o homem, se encontrará apagado do puro feminino. Não existe lá, na sua realidade, o próprio sonho da castidade?» (ivi, 96).
Como se vê, a castidade é então considerada, também no sentido virginal, no pleno cancelamento da sexualidade, salvo a libertação do «dever de reprodução». E então, a rigor, porque excluir o comércio carnal, que (onanisticamente) evite a procriação e mire apenas a «plena expansão» do «amor e da personalidade»? Não bastará evitar o uso da carne como «órgão de propagação»?
Fonte: “Miti e realtà”, Mons. Piercarlo Landucci, Il sesso in Teilhard di Chardin, Approfondimento Teilhardiano Pansessualista
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