DON CURZIO NITOGLIA: O MILENARISMO JOAQUIMITA FONTE REMOTA DOJUDEU-AMERICANISMO

Padre Curzio Nitoglia
Tradução: Gederson Falcometa
Revisão: Ana Glaucia Jesus
Introdução
Já vimos:
1) A diferença entre árabefobia e anti-islamismo teológico;
2) A natureza da cultura européia, que é essencialmente distinta da “ocidental” (ou predominantemente anglo-americanista);
3) Agora busquemos fazer luz sobre as origens distantes do Puritanismo americanista, tendencialmente anti-trinitário e essencialmente veterotestamentário (O Evangelho e Jesus, são alguma coisa de acidental e postiço, enquanto a verdadeira natureza ou substância do Puritanismo é o Velho Testamento; então esse tende a diminuir, se não negar, a Santíssima Trindade e a Divindade de Cristo).

Então, o Puritanismo é filho do milenarismo “Joaquimita” e é pai do sionismo. E, para entender a verdadeira natureza do sionismo se faz necessário voltar ao Puritanismo americanista, ao milenarismo “joaquimita” e em última análise ao judaísmo talmúdico-rabínico.
Explicação
Os estudiosos são unânimes em constatar que Joaquim propôs uma eclesiologia da Novíssima Aliança, a qual teria substituído a Nova como esta última tinha suplantado a Velha. Santo Tomás de Aquino refutou tal erro admiravelmente na Suma Teológica. Além disso, é aceito que os primeiros discípulos do Abade de Fiore fossem judaizantes. Enquanto, é ainda disputado, se também o próprio Joaquim fosse inclinado a judaizar ou não. Buscarei apresentar sucintamente o panorama de tal problema, visto à luz do influxo que exercitou sobre o antitrinitarianismo dos hereges italianos do século XV, refugiados na Polônia e emigrados (século XVII) para Holanda, Inglaterra e EUA. Pode-se dizer que a origem próxima do americanismo é o puritanismo anglo-holandês, mas a fonte remota sem sombra de dúvidas é o milenarismo dos joaquimitas e talvez do próprio Joaquim.
a) Joaquim de Fiore
Robert Moore afirmou que entorno do século XII a Europa ocidental é transformada em uma “sociedade persecutória”.
Se por uma parte a Europa dos séculos centrais do Medievo foi uma sociedade confessional e então discriminatória no que diz respeito aos não católicos, a alternativa a Cristandade foi representada pelo pensamento milenarista de Joaquim de Fiore, segundo o qual os hebreus e os cristãos se reuniriam em uma só sociedade, na terceira era do Espírito, na qual teriam uma compreensão “espiritual” da Bíblia, enquanto na Antiga e Nova Aliança os hebreus e os cristãos tinham tido apenas uma compreensão literal da Escritura.
Se – em tal época (século XII) – São Bernardo de Claraval (repetindo a tradição patrística) afirmava que Israel, depois do deicídio, era a “figueira seca e estéril” maldita por Jesus e condenada a ser queimada, porquê privada de boas obras, enquanto se salvariam apenas aqueles que seguindo Cristo tivessem praticado a Lei do Evangelho, de qualquer povo que fossem (hebreus ou gentios), “Joaquim, ao invés, acreditava que o povo de Israel tinha sido fecundo (…), a estirpe de Sem tinha se fundido com a de Jafet para formar um único povo em grau de produzir em superabundância frutos espirituais” [1]. O próprio Robert E. Lerner (nascido em New York em 1940, professor de história medieval na universidade Northwestern, um dos maiores conhecedores do pensamento herético e milenarista do medievo) admite que a visão da teologia da história sobre a relação judaísmo-cristianismo de Joaquim de Fiore era “irênica’ e que contradizia a tese de Norman Cohn segundo a qual todo milenarismo medieval foi anti-judaíco. De fato, segundo o Abade de Fiore, hebreus e gentios, se reuniriam na terceira idade espiritual (que duraria mil anos) e celebrariam juntos as festas de São Abraão e São Davi. A palavra de Deus retornaria ao povo ao qual foi confiada primeiramente. Porque graças à inspiração final do Espírito Santo, os hebreus haveriam adquirido a verdadeira “inteligência espiritual”.
O professor Lerner conclui: “Seguia-se que no futuro haveria um novo povo eleito, próprio como os cristão tinham assumido aos hebreus. Tal povo seria formado por ‘novos homens espirituais’, contemplativos que tinham chegado ao ‘terceiro céu’. Segundo Joaquim o ‘primeiro céu’ era o Antigo Testamento fundado sobre os Patriarcas. O ‘segundo céu’ o Novo Testamento fundado sobre os Apóstolos (…) era de se esperar que Joaquim estabelecesse que a progressão teria conduzido os eleitos o mais distante possível dos hebreus, mas surpreendentemente não foi assim (…) essa previa uma reaproximação com os hebreus” [2].
Segundo Joaquim o clero católico do Novo Testamento, teria perseguido (por ciúme do seu espírito profético) os monges espirituais da terceira era do Espírito ou “Novíssimo Testamento” e então lhes teriam constrito a retornar a Sião, como se retornassem aos seus padres.
“Neste ponto Joaquim levanta uma questão crucial: porque seria mais conveniente para os contemplativos coabitar com os hebreus agora, mais que no passado? (…) o retorno dos perfeitos (semitas) à terra da qual provinham teria transformado esta própria terra, e operado em favor de uma salvação mutuamente benéfica. (…) Surpreendente neste caso não tanto a idéia da conversão final dos hebreus… O aspecto inovador… vai buscado na afirmação segundo qual, no fim dos tempos, o mundo assistiria a união entre gentios e hebreus, união da qual ambos os povos tirariam recíproco benefício” [3]
Robert Lerner admite que a razão de “tal concepção irênica sem precedentes” deve ser buscada na origem hebraica de Joaquim; em efeito em 1948 foi recuperado testemunho do secretário de São Bernardo de Claraval, o qual em 1195 atacava Joaquim e o acusava de ‘judaizar’ [4], asseria que o joaquimismo era doutrina “judaísca” e a imputava “as supostas origens hebraicas de Joaquim: este nasceu hebreu e tinha sido ‘criado por muitos anos segundo a doutrina judaíca’, um veneno que evidentemente ‘não tinha ainda vomitado de todo’. Joaquim e os seus sequazes tinham  utilizado-se de todos os meios para conseguir manter secretas tais origens”  [5].  
Todavia Robert Lerner não reputa probante tal acusação que resultaria ser isolada. No entanto, deve admitir que ele “atinge muito provavelmente a exegese rabínica” [6]. É necessário precisar que Joaquim exagerava na interpretação do Apocalipse, buscando todos os detalhes (compreendidas as datas) da história humana até o fim do mundo; todavia nem tudo aquilo que escrevia era ilusório. Um certo fundamento na realidade se encontra na obra do abade fiorense, mas levado a consequências que são incompatíveis com a doutrina católica e a interpretação da Escritura dada unanimemente pelos Padres eclesiásticos. Para evitar o excesso joaquimita, não é preciso cair no defeito origenista e de outros que, tratando o problema do Apocalipse da escatologia e da figura do Anticristo, vêem apenas uma revelação daquilo se sucedeu, desde a Incarnação e morte de Jesus (que colocaria, de forma absolutamente definitiva, o fim da economia da salvação) [7]; entendo que o excesso (a testemunha de Jeová) seja repulsivo, mas um erro não se corrige com outro erro, todo defeito é um excesso. Tais questões não devem ser exasperadas, nem devem ser zombadas, é preciso estudá-las pacatamente e objetivamente segundo a interpretação comum dos Padres e dos exegetas aprovados.
“A original concepção joaquimista – escreve Lerner – do papel dado aos hebreus, ao término da história terrena, assinalava uma ruptura com a milenária tradição cristã” [8].
Lerner, justamente nota que na Europa intolerante (séculos XII e XIII) nos confrontos dos hebreus, o abade fiorense teve uma visão “irênica” (hoje se diria ecumênica) da eminente união entre hebreus e cristãos.
Refutação do Joaquimismo
Santo Tomás de Aquino, responde e refuta (melhor que qualquer outro) os erros milenaristas de Joaquim e da sua escola. Na Suma Teológica demonstra que a Nova Aliança durará até o fim do mundo (S.T., I-II, q. 106, a. 4). De fato a Nova Aliança sucedeu a Velha, como o mais perfeito ao menos perfeito. Ora, no estado da vida humana neste mundo, nada pode ser mais perfeito que Cristo e a Nova Lei, porque qualquer coisa é perfeita enquanto se aproxima do seu fim. Cristo nos introduz – graças a sua Incarnação e morte – no Céu. Então, não pode existir – sobre esta terra – nada mais perfeito que Jesus e a sua Igreja. Naquilo que diz respeito ao Espírito Santo, como aperfeiçoador da obra da Redenção de Cristo, ele foi enviado por Cristo propriamente para confessar o próprio Cristo, que prometeu formalmente aos seus Apóstolos: “O Espírito Santo que Eu vos mandarei, procedendo do Pai, dará testemunho de Mim”. Então, o Paráclito não é o iniciador de uma terceira era, mas testemunha e explica Cristo aos homens e lhe reforça para podê-lo imitar. Onde, depois da Antiga e da Nova Lei, sobre esta terra não virá uma terceira Aliança, mas o terceiro estado será aquele da eternidade, sempre feliz do Céu ou sempre infeliz do Inferno.
Joaquim erra ao transportar a realidade ultramundana ou eterna para esta terra. O Reino do qual fala o Abade de Fiore, não diz respeito a este mundo, mas ao além. De fato, o Espírito Santo explicou aos Apóstolos, (no dia de Pentecostes, 33 d.C.), toda a verdade que Cristo pregou e que eles não tinham ainda entendido. O Paráclito não deve ensinar uma novíssima Lei ou um outro Evangelho mais espiritual que o de Cristo, mas deve apenas iluminar e dar força para bem conhecer e bem viver a doutrina cristã, que aperfeiçoou a mosaica (S.T., I-II, q. 106, a. 4). Além disso a Velha Lei, não foi só do Pai, mas também do Filho (figurado e prefigurado em Moisés); como também a Nova Lei não foi só do Filho, mas também do Espírito prometido e enviado por Cristo aos seus Apóstolos. A Lei de Cristo é a Graça do Espírito Santo, que ilumina, vivifica e fortalece para se poder observar a Lei Divina. Como já no Antigo Testamento, era o Espírito Santo a iluminar e corroborar os Patriarcas e Profetas, os quais embora vivendo sob a Velha Lei, tinha já o espírito da Nova e a viviam heroicamente, mediante a graça do Espírito Santo (por atribuição). Quando Jesus ensina aos Apóstolos que “O Reino dos Céus está próximo”, não se refere – explica Santo Tomás – só a destruição de Jerusalém, como término definitivo da Velha Aliança e começo formal da Nova, mas também ao fim do mundo. De fato, o Evangelho é a “Boa Nova” do Reino (ainda imperfeito) da “Igreja Militante” sob esta terra;e do Reino (desde então e para sempre perfeito) da “Igreja triunfante”, nos Céus. Além disso, no comentário a Mateus sobre o discurso escatológico de Jesus (XXIV, 36), Santo Tomás postila: “Alguém poderia crer que este discurso de Cristo, diga respeito apenas ao fim de Jerusalém…; porém seria um grave erro referir tudo quanto foi dito apenas a destruição da Cidade Santa e então a explicação é diversa,… a saber que todos os homens e os fiéis em Cristo são uma só geração e que o gênero humano e a fé cristã durará até o fim do mundo” (Expos. In Matth. c. XXIV, 34). O Angélico, se baseia sobre tal texto para refutar o erro joaquimista, segundo o qual a Nova Aliança ou a Igreja de Cristo não durará até o fim dos tempos; ele retoma o ensinamento patrístico (especialmente de Crisóstomo e de São Gregório Magno) e o desenvolve na Suma Teóligca (I-II, q. 106, a. 4, sed contra). Portanto, o cristianismo durará até o fim do mundo, não existirá a necessidade de uma “terceira Aliança pneumática e universal” (Catolikòs), mas a Igreja de Cristo é o Reino do Pai, do Filho e do Espírito Santo (com boa paz de Joaquim e sequazes), não é preciso sonhar a substituição do cristianismo, basta apenas vivê-lo sempre mais intensamente.
b) Os primeiros discípulos de Joaquim
1) O franciscano Gerardo de Borgo San Donnino em 1254 escreve um livro intitulado “O Evangelho eterno” no qual “revela um aspecto surpreendentemente filo-judaico: ‘O Senhor reservará a eles bençãos… mesmo se persistirem no judaísmo’ (…) esta proposição errada, se encontrava (segundo Gerardo) no Liber de Concordia [de Joaquim] (…), aqueles que pertencem aos colégios dos monges devem providenciar… e distanciarem-se do clero secular e prepararem-se para o retorno do antigo povo de Israel” [9]. Todavia, Lerner nota que -segundo ele – Gerardino teria forçado o pensamento de Joaquim de maneira “radicalmente filo-judaica” ainda mais que o próprio abade fiorense.
2) Um outro discípulo de Joaquim, depois de Pedro João Olivi (+ 1298) foi Giovanni de Rupescissa, um franciscano francês em torno a 1310, que profetizava “a milagrosa conversão do povo de Israel, destinado a se tornar o novo campeão de uma nova fé cristã purificada… Do povo de Israel convertido surgiria um novo imperador [uma espécie de Messias militante] que teria destruído Roma… para tornar ainda mais explícita a idéia pela qual os hebreus substituiriam Roma, Giovanni de Rupescissa define o novo soberano como um ‘Augusto da estirpe de Abraão’. Então, os hebreus não só tomariam o lugar dos romanos como titulares do império universal, mas nenhum outro povo lhes tiraria de sua posição até o fim dos tempos” [10]. A Igreja se transferiria de Roma para Jerusalém.
3) Um outro discípulo do abade Joaquim de Fiore foi Frederico de Brunswick, um franciscano nascido em 1389 na Saxônia. Ele foi ainda mais explícito que Rupescissa e afirma que apareceria, na terceira era, um segundo Messias (reparador) que seria “sacerdote e também rei e que reinaria até o fim dos tempos, a saber ,por um milênio. Em substância, fez do reparador um segundo Cristo, sem todavia afirmar de forma explícita a natureza divina. (…) O reparador, reinaria como um rei…, representando um messias para os hebreus (…), todo o povo de Israel se converteria. O império romano e o bizantino seriam reunificados dando vida a um novo império universal a ser confiado aos hebreus tornados a nova nação dominante (…). O acento colocado sobre a conversão de Israel e sobre a transformação do mundo sob a guia dos hebreus, chegava aos profetas de Giovanni de Rupescissa, mas esses mostravam uma atitude ainda mais filo-judaica, chegando a afirmar que a cumprir tal transformação seria um hebreu (…), sob a [sua] guia aconteceria aquela que, de fato, representava a re-edificação do terceiro templo, [que] se colocava em aberta contradição com a tradicional crença cristã, segundo a qual o povo de Israel não haveria jamais… reconstruído Jerusalém” [11]. 
Enquanto o nosso fazia prosélitos na Alemanha, um outro franciscano Francesc Eiximenis [12] (1327-1409), na Catalunha, escrevia tratados milenaristas, ele dedicou a sua existência para além de escrever tratados, a entrelaçar relações com os grandes de então (Pedro IV de Aragão e os seus familiares), segundo Francesc “os hebreus se converteriam, a Sé papal seria transferida para Jerusalém, onde reinaria um novo papa e um novo imperador, ambos provenientes do povo de Israel” [13]. 
Conclusão
O problema atual do americanismo, do filo-sionismo e do “choque entre civilizações”, a fobia da cultura do mundo árabe e mediterrâneo (mesmo a clássica da metafísica grega e da ética romana; daquela medieval da cristandade patrístico-escolástica e do Papado Romano) é assaz vasto e complexo. Não é possível entendê-lo se não voltar as fontes das civilizações (Assírio-Babilônica, Egípcia…), vizinha oriental (israelitas) e mediterrânea (gregos, romanos e cristandade européia). À luz destes princípios vê-se o quanto é incompatível o catolicismo romano (herdeiro da metafísica grega e da ética romana) com o americanismo, judaísmo-talmúdico e sionismo político-nacional. Com a crise georgiana, pilotada por Israel e EUA, não se pára no vizinho oriente médio, mas o conflito penetra em casa (Polônia e países do ex pacto de Varsóvia) e faz entrar diretamente no baile a Rússia (com Afeganistão e Paquistão do pós- Musharaff) e provavelmente, ainda que indiretamente, a China. Os teo-conservadores italianos:sejam laicistas (Pera, Ferrara),sejam ex católicos integrais (Alleanza Cattolica) buscam conciliar o inconciliável.
O fato que provém dos laicistas de formação liberal popperiana-kantiniana (Pera/Antiseri) ou até mesmo anarco-capitalista (Quagliarello/Piombini) e post-marxista (Ferrara), não deve nos surpreender, dada a sua filosofia imanentista, subjetivista e pragmatista. O que é mais chocante é o campo ex católico integral, o qual se funda(va) sobre o princípio de não contradição, sobre o primado da realidade em relação ao pensamento e sobre a ética natural. 
Infelizmente , deve-se registrar – propriamente nestes dias – que Massimo Introvigne, o qual podia ser apresentado como um elemento “desviado” (doutrinalmente falando) da Alleanza Cattolica, foi nomeado por Giovanni Cantoni (o atual regente nacional e fundador da mesma), vice-regente nacional da “Alleanza Cattolica” e o seu futuro sucessor. Alleanza Cattolica, então, é substancialmente o “pensamento-Introvigne”, o qual se distância impressionantemente da reta doutrina católica, da sã filosofia e da concepção da política construída por Aristóteles , Santo Tomás e o magistério tradicional da Igreja. Os seus contatos com o mundo maçônico, judaico e esotérico (amplamente documentados) levantam muitas perplexidades, mesmo em ambiente oficiais (ver GRISS). S Desejaria-se esperar que ele fosse uma voz “minoritária” e “singular” da Alleanza Cattolica, mas não é assim.
O que dizer?
Que é “preciso viver como se pensa, de outro modo termina-se por pensar como se vive”. Ora, ir contra a corrente é incômodo, porém Jesus nos ensinou que a estrada que conduz ao Paraíso é estreita e apertada, enquanto a porta que conduz a perdição (perseverando nesta, Deus não queira, mas “talis vita, mors ita”) é larga e espaçosa.
Que Deus nos ajude a perseverar na estrada do Calvário e nos tenha as mãos na cabeça, porque «qui reputat se stare, timeat ne cadat» (san Paolo).
Don Curzio Nitoglia
29 de agosto de 2008
Notas:
[1]  E. Lerner, «La festa di Sant’Abramo. Millenarismo gioachimita ed Ebrei nel Medioevo», Roma, Viella, 2002, pagina 8
[2] Ivi, pagina 29.
[3] Ivi, pagine 35-36.
[4] Ivi, pagina 36.
[5] Ibidem.
[6] Ivi, página 39. Confronta também: Gioacchino da Fiore, Invito alla lettura, G.L. Potestà (a cura di), Cinisello Balsamo (Milano), San Paolo, 1999. Tal tesi é confirmada por Yoseph Caro (rabino de Ferrara) que escreveu:“Quanto ao lugar de morada do Messias (…) alguns textos [da literatura rabínica e talmúdica] o pensam  sofrendo e escondido em Roma, como na cidade que determinou a queda do reino hebraíco (Sanhedrìn, 98, a)… Muitos lugares talmúdicos descrevem os tempos messiânicos. A primeira consequência da vinda do Messias consiste no retorno dos hebreus, numericamente maiores, a Palestina e a reedificação da cidade de Jerusalém e do Templo…, cessará o pecado, e consequentemente também a morte. Os filhos de Israel se tornarão, portanto, imortais. Mas os efeitos da vinda do Messias não se farão sentir só para Israel [bondade deles]: uma época de bem aventurança se abrirá para todas as nações que, arrependidas de suas culpas, serão perdoadas. 
A idolatria [Cristo=Deus] cessará, todas as Gentes adorarão um só Deus” (Enciclopedia Italiana, voce «Messia» e in particolare «L’idea messianica nell’ebraismo postbiblico», Roma, Istituto dell’Enciclopedia Italiana, 1929-1936, volume XXII, pagine 957-958. Como se vê esta mesma doutrina do Talmude sobre o Messias (como explicada pelo rabino Yoseph Caro) se encontra fielmente reportada nos escritos de Joaquim de Fiore e de seus discípulos (como foram apresentadas pelo professor israelita Robert Lerner). Então asserir que a origem do milenarismo joaquimita é certamente talmúdica, não é fruto de esteriotipo e prejuízo antisemita, mas é a verdade histórica como ensinada pelos próprios rabinos e talmudistas israelenses.
Naquilo que diz respeito ao Anticristo os Padres da Igreja, fundando-se sobre o Depósito da fé revelada (especialmente em São Paulo 2º Ep. Tess., II, 3-12; e São João 1º Ep., II, 18-22; IV, 3; 2º Ep., VII; Apocalipse, XI, 7ss.; XIII-XIV), ensinam unanimemente que o fim do mundo deve ser precedido pelo reino do Anticristo (II Tess.) que é o “homem do pecado”, ou “o mistério de iniquidade no mundo” o qual se manifestará plenamente quando o obstáculo “aquele que o retém” (o Papa) será parcialmente menor. Ele será um homem, não um personagem metafórico (erro por defeito) e nem mesmo o diabo incarnado (erro por excesso). Será hebreu, acolhido como o messias judaíco. Se fará adorar no lugar de Deus. Prevalecerá por um certo tempo, porque os homens terão perdido “o amor pela verdade” (II Tess.). Deus enviará duas testemunhas (Enoque e Elias) para ajudar aos fiéis a resistir a sua perseguição (Apocalipse XI) que será a mais sanguinária da história, inspirada pelo ódio direto contra Deus. Quase todos apostatarão, mas Jesus matará o Anticristo “com um sopro da sua boca (São Paulo) e Israel se converterá ao cristianismo. Monsenhor Salvatore Garofalo escreve: “A interpretação comum entre os escritores cristãos vê no Anticristo um personagem distinto de Satanás, mas por ele sustentado, que se manifestará nos últimos tempos, antes do fim do mundo, para tentar um ataque e um triunfo decisivo sobre Jesus e a sua Igreja. (…). Aquilo que impede o desencadear-se desta formidável potência é um misterioso “obstáculo” que é ao mesmo tempo considerado, em abstrato, como uma potência [a Igreja romana] e, em concreto, como uma pessoa [o Papa]. (…) O obstáculo impede a manifestação do Anticristo, não a sua obra pessoal. O Anticristo pessoa, se revelará na última fase da luta anti-cristã, que atravessa todos os séculos, e prepara lentamente a aparição do ‘filho da perdição’ no fim dos tempos” («Dizionario di Teologia dommatica», Roma, Studium, 4ª edizione, 1957, pagina 23).
[8] Ivi, pagina 44.
[9] Ivi, pagina 65.
[10] Ivi, pagina 112.
[11] Ivi, pagine 130-131.
[12] F. Eiximenis, «Estetica medievale. Dell’eros, della mensa e della città», Milano, Jaca Book, 1986.
[13] Dicionário de Teologia dogmática, citado, página 147. Confronta também: R. E. Lerner, «Refrigerio dei santi. Gioacchino da Fiore e l’escatologia medievale», Roma, Viella, 1995; H. Grundmann, «Gioacchino da Fiore. Vita e opere», Roma, Viella, 1997; H. de Lubac, «La posterità spirituale di Gioachino da Fiore», Milano, Jaca Book, 2 volumi, 1983. Em tal estudo o autor demonstra (especialmente no 2º volume, «Da Saint-Simon ai giorni nostri») que o joaquimismo exercitou (e continua a exercitar) um profundo influxo sobre os filósofos modernos e hodiernos e sobre os movimentos políticos que se sucederam ao fim da cristandade até ao mundo atual (Cousin, Fourier, Saint-Simon, Lamennais, Mickiewiczs, de Maistre, Marx, Hitler, Soloviev, Berdiaev, Bloy, Péguy). Também a questão do milenarismo judaíco e medieval-fiorense não foi ultrapassada, mas mantém toda a sua atualidade, sobretudo hoje, com o domínio do Estado de Israel e dos Estados Unidos da América sobre o mundo inteiro e a reação do mundo arábe que suscitaram, a qual nos está levando a um estado de caos universal e de guerra perpétua. De fato, não é preciso esquecer que a maior parte dos neo ou teo-conservadores “cristãos” (não “cristãos”) americanos (que hoje influenciam a política de “direita” da administração Bush) tem um “passado” político de “ultra-esquerda” ou melhor trotzkysta, são em grande parte de origem hebraica e discípulos da Escola de Frankfurt, transferido-se para a América em 1933 e permanecendo ali com Teodoro Adorno até 1950 e com Herbert Marcuse até 1979. Tal escola política era caracterizada pela substituição do ódio de classe do proletariado (na revolução comunista), que vinha substituído pelo pansexualismo freudiano, o desencadeamento dos instintos e a perda do senhorio de si; a maior parte dos seus membros eram de origem israelita (G. Lukàcs, E. Fromm, T. Adorno, W. Reich, W. Benjamin, H. Marcuse, M. Hokheimer, F. Pollock).
O trotzkysmo é o comunismo mais radical e perigoso; esse é uma seita secreta ou esotérica, a respeito do comunismo público ou exotérico de Stalin. O subjetivismo relativista é a natureza do trotzkysmo, segundo o qual a teoria está ao serviço da práxis ou do movimentismo que deve levar ao cais “infinito e perpétuo”, servindo-se de qualquer meio (mesmo um politicante “conservador-cristão”). É preciso, para o trotzkysmo, primeiro destruir os valores greco-romanos e cristãos. Corromper o mundo dos valores e dos princípios, perverter a juventude desencadeando os instintos e as paixões desordenadas como instrumentos de subversão (niilismo filosófico individual e anarquia social), depois se poderá exportar o comunismo libertário-movimentista (a Bertinotti, contrariamente àquele engessado militar-burocrático stalinista, a Cossutta) em todo o mundo e então se terá, assim, uma sociedade perfeita (milenarismo) sobre está terra. A revolução estudantil do maio de 1968, foi a vitória do trotzkysmo segundo o qual “um cérebro vázio (dos sediciosos ‘estudantes’) é mais receptivo do comunismo que um ventre operário com fome”. O trotzkysmo fez a revolução não graças ao proletariado, mas através da corrupção da juventude estudantil, graças ao freudismo de massa e a licenciosidade dos costumes. O sindicalismo representa um outro cavalo de batalha do trotzkysmo, exacerbando os contrastes (e não lhes resolvendo): entre empreendedor e trabalhador, mestre e estudante, pai e filho, marido e mulher, padre e fiel. Infiltrando a magistratura; corrompendo a escola, o ensinamento, a cultura; neutralizando as forças de ordem. A moda e a vestimenta exercitaram um influxo notável sobre a mudança de mentalidade dos homens, a música pop, a droga chamada “leve”, as canções realmente leves que chegam lá onde o livro e nem mesmo o panfleto chegam; o tipo de vida frenético, instável, vagabundo revolucionaram ou mudaram a face do mundo. Freud se tornou, assim, uma força política popular que causou um terremoto no universo. Moda + música + psicanalise de massa mudaram a face do mundo e o fizeram um poço infernal, o reino social de Satanás pronto, agora, a acolher o Anticristo. Não é de se admirar que se serviram de uma potência militar aparentemente conservadora, para levar a revolução permanente ao mundo inteiro, Oriente Médio (1990-2002), a própria América (2001) e a Europa (2003-2005).
Confronta anche: M. Reeves-W. Gould, «Gioacchino da Fiore e il mito dell’Evangelo eterno nella cultura europea», Roma, Viella, 2000. Em tal obra os autores retomam e aprofundam o estudo de De Lubac, especialmente quanto a Blake, Lessing, Schiller, Schelling, Renan, Wilde, Huysmans, Nietszche, Joyce. Entre os mestres teo-conservadores encontramos também  Abraham Joshua Heschek um dos artífices de “Nostra Aetate”, os quais livros foram feitos conhecer na Itália por Cristina Campo e pela editora conservadora Borla e Rusconi nos anos setenta-oitenta. Além disso estão também Jacob Taubes e Leo Strauss (hoje muito em voga no ambiente teo-conservador italiano). Sobre Jacob Taules confronta: E. Stimilli, «Jacob Taubes. Sovranità e tempo messianico», Brescia, Morcelliana, 2004. Sobre Leo Straruss confronta: Kenneth L. Deutsch- John A. Murley, «Leo Strauss, the Straussians and the American Regime», Roman & Litlefield. D. Tanguay, Leo Strauss, «Une biographie intellectuelle», Parigi, Grasset, 2003.

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