FRANCESCO LAMENDOLA: ROGER SCRUTON E A INVENÇÃO DA OICOFOBIA (MEDO DECASA)

Roger Scruton:
O filósofo que inventou a oicofobia



Francesco Lamendola
Accademia Nuova Italia
Tradução: Gederson Falcometa
Mas o que é a oicofobia? Em psiquiátria a oicofobia é uma aversão para com o ambiente doméstico. Pode também ser usado mais geralmente para indicar um medo anormal (uma fobia) da casa ou do seu conteúdo, o termo deriva da palavra grega oikos, que significa família, casa ou lar, e fobia, que significa “medo”. Em 1808 o poeta e ensaista Robert Southey usou a palara para descrever um desejo (em particular dos ingleses) de deixar a casa e viajar. O uso de Southey como sinônimo de wonderlust foi recolhido por outros escritores do século dezenove. O termo foi usado também em contextos políticos para referir-se criticamente a ideologias políticas que repudiam a própria cultura e louvam os outros. A primeira utilização deste tipo foi escrita por Roger Scruton em um livro de 2004.


Uso psiquiátrico

No uso psiquiátrico, a oikofobia se refere tipicamente ao medo do espaço físico do interior doméstico e é particularmente ligado ao medo de eletrodomésticos, banheiros, aparelhos elétricos e outros aspectos da casa percebidos como potencialmente perigosos. O termo é corretamente aplicado só ao medo de objetos do interior da casa. O medo da própria casa é definido domatofobia. Na era pós Segunda Guerra Mundial alguns comentadores usaram o termo para referir-se a um presumido “medo e aversão pelos afazeres domésticos” vividos por mulheres que trabalham fora de casa e que eram atraídas por estilo de vida consumista.
 Uso de Southey

Southey usou o termo em Cartas da Inglaterra (1808), afirmando que se tratava de um produto de “um certo estado de civilização ou luxo’, referindo-se ao hábito das pessoas abastadas de visitar as cidades termais e as localidades balneárias nos meses estivos. Ele menciona também a moda por viagens pitorescas para paisagens selvagens, como as montanhas escocesas. A ligação que Southey faz da oikofobia com a riqueza e a busca por novas experiências foi tomada por outros escritores e citada em dicionários. Um escritor de 1829 publicou um ensaio sobre sua experiência testemunhando as consequências da Batalha de Waterloo, dizendo “o amor pela locomoção é tão natural para um inglês que nada pode prendê-lo em casa, mas a absoluta impossibilidade de viver no exterior. Nenhuma necessidade tão imperiosa que age sobre mim, cedi a minha oiko-fobia e no verão de 1815 me encontrei eu em Bruxelas”. Em 1959 o autor-egipcío Bothaina Abd el-Hamid Mohamed usou o conceito de Southey no seu livro Oikophobia: ou, Uma mania literária para a educação através das viagens.
Uso político: Roger Scruton

No seu livro de 2004 A Inglaterra e a necessidade das nações, o filósofo conservador britânico Roger Scruton adaptou o termo “o repúdio da herança e da casa”. Sustentou que é “um estado através do qual a mente do adolescente normalmente passa”, mas que é também uma característica de apenas alguns e tipicamente de esquerda. E são impulsos políticos e ideológicos que se esposam com a xenofilia, isto é, a preferência pelas outras culturas alienas a sua. Disto Scruton usa o termo como antítese da xenofobia.
No seu livro, Roger Scruton: Philosopher su Dover Beach, Mark Dooley descreve a oikofobia como centrada no interior do establishment acadêmico ocidental sobre “seja a cultura comum do Ocidente, seja no velho curriculum educativo que buscava transmitir os seus valores humanos”. Esta disposição cresceu, por exemplo, nos escritos de Jacques Derrida e no assalto de Michel Foucault a sociedade burguesa resultando em uma “anti-cultura” que tomou como alvo o sagrado, condenando, repudiando e considerando-lhes opressivos e plenos de poder.
Derrida é um oikofobo clássico na medida em que repúdia a brama de casas que as tradições teológicas, legais e literárias ocidentais satisfazem. A deconstrução de Derrida busca bloquear o percursso para esta “experiência fundamental” de pertencimento, preferindo ao invés uma existência sem raízes fundada “sobre o nada”.
Uma extrema aversão pelo sagrado e o contrastar a conexão do sagrado com a cultura do ocidente que é descrito como o motivo de fundo da oikofobia; e não a substituição do cristianismo com um outro coerente sistema de crenças. O paradoxo da oikofobia parece ser que qualquer oposição dirigida a tradição teológica e cultural do Ocidente deve ser encorajada também se é “significamente mais paroquial, exclusivista, patriarcal e etnocêntrica”. Scruton descreveuuma forma crônica de oikofobia [que] se difundiu através da universidade americana, nas vestes do politically correct”.
 O uso de Scruton foi retomado por alguns comentadores políticos americanos para referir-se àquilo que vêem como uma rejeição da tradição cultural americana por parte da élite liberal. Em agosto de 2010, James Taranto escreveu uma rúbrica no Wall Street Journal intitulada “Oikofobia: porque a élite liberal considera revoltantes os americanos”, em que criticava os sustentadores do proposto centro islâmico em New York como oikofobes que defendia os muçulmanos que miravam, em suas palavras, a “exploração das atrocidades de 11 de setembro”. Nos Países Baixos, o termo oikofobia foi adotado pelo político e escritor Thierry Baudet, que descreve no seu livro, Oikofobia: O medo de casa.
Accademia Nuova Italia

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