SIM SIM NÃO NÃO: SÃO DÉSCARTES PADROEIRO DAS FEMINISTAS E NÃO SOMENTE DELAS

O pensador de Auguste Rodin, na Porta do Inferno.

Tradução: Gederson Falcometa

1 - Do «homo faber» ao «homo fabricatus» 
e perenemente «fabricandus»

É a partir de Descartes que a inteligência atua a sua primeira e verdadeira prostituição a vontade de potência e se volve para o titanismo delirante de querer erigir a mente humana, não só a medida neoprotagorista de “todas as coisas”, mas a razão mesma do seu ser, do seu ser pelo seu decreto, a sua fábrica, a sua invenção. Se os antecedentes de um tal delírio estão já presentes no Humanismo com a bruniana mens insita omnibus ou com a verdadeira “indignidade” narcisista do mirandoliano “De hominibus dignitate”, para nos limitarmos a dar algum exemplo, é porém, sobretudo do cogito cartesiano que tem início a atividade dinamitada da inteligência humana nos confrontos daquele “secante obstáculo” que é a muda e nua objetividade das coisas. Do cogito em diante o domínio da mente se faz sempre mais totalitário e despótico, de maneira a ativar em seu interior uma espécie de inflexibilidade mecânica perceptiva que depois, por consubstancial dinamismo alucinatório, tem sempre mais a se especificar não só como recusa de qualquer evidência objetiva, mas sobretudo como ataque ab-rogativo nos confrontos da especificidade da pessoa e da sua dignidade e identidade real.

Não se está na presença, como gostaria de crer, de uma sorte de deslumbre devido a uma involuntária irrupção de estupidez dentro do recinto da inteligência, mas se está na presença de uma bem precisa escolha volitiva. Tanto é verdadeiro que o autêntico “canibalismo” que ela atua nos confrontos da identidade objetiva das coisas e do próprio homem não conhece, depois de Déscartes, pontos de impedimento ou momentos de resipiscência ou de inversão. Ao contrário, isso se torna sempre mais voraz na medida que se prolonga nas esterilidades abstrativas do Ich denke kantiano, da Tathandlug fichtiana, da Idee hegeliana, da Praxis marxista, do Ego epifenômico freudiano, até a infernal agitação do relativismo niilista em todas as suas formas possíveis.

Não há quem não veja do quanto acenado – se conservou bem o uso da visão espiritual, claro – o quanto se esteja distante da substancial “inocência” de uma estupidez involuntária, e quanto ao invés estejam sim próximos da má fé de uma estupidez glorificada, criminosa e proselitária. Mesmo se Déscartes tivesse concebido o seu “cogito” na plenitude da adolescência, não nos ouviriam dizer que “inocentemente o fez na idade nova”, porque tudo se poderá dizer dele menos que fosse estúpido e “inocente”. É para excluir, de fato, que não estivesse bem advertido sobre as implicações da sua filosofia [1].

Nota agudamente Gioberti: “Déscartes, em sua busca, colocou a raiz do verdadeiro em si mesmo, e deduziu o ser do próprio pensamento, como se dissesse: eu sou o verdadeiro absoluto. E já que ele exprime o princípio de todo o saber, personificado em si mesmo e falando em primeira pessoa, ele se iguala ao Deus de Moisés, que pronunciou: Eu sou aquele que sou. O caráter próprio do Cartesianismo, que quer extrair o intelegível do sensível e fazer do próprio Deus uma criatura do espírito humano, senão do espírito de Déscartes, não poderia descobrir-se menos dissimuladamente. Do criar mentalmente Deus ao ser Deus não corre uma grande diferença” [2].

Perfeito. E é por isso evidente que, está sendo a vis oculta do cogito e também daqueles autênticos “rios infernais” do pensamento que desse são resultado, lhe vem fatalmente que o homem, para ser  “Deus” de si mesmo, não tem que decair – certo, não humildemente! – a dimensão do próprio cogitar, com isto isentando-se de ser aquele que ele sabe perfeitamente ser, para fazer corpo com o conceito que decidiu edificar sobre si mesmo. E lhe vem da mesma forma que o consequente resgate daquilo que Fichte desprezou qualificando como “dogmatismo do real” deverá necessariamente postular que o centro da própria realidade seja deslocado da sua imediata e incontestável evidência objetiva para a sua “fábrica” subjetiva; e isto segundo as linhas de uma autêntica revolução permanente, que não outra coisa solicita, por assim dizer, que conduzir “a fantasia ao poder”. Sobre todos os planos. A partir daquele decisivo das próprias motivações pessoais.

A consequência de uma tal inversão de polaridade é, sobre o plano existencial, a sempre menos percebida abdicação que o indivíduo vem concretamente consumando nos confrontos da sua mesma soberania espiritual. Opondo-se, de fato, ao dever normal de transformar a si mesmo para afirmar aquele qualquer um que decidiu se tornar, ele termina com não se tornar consciente de “sofrer” no próprio momento em que é plenamente convicto de se “realizar”. E, daqui em diante uma tal defecção resultará legitimada e nobilitada pelo mais vasto cenário de uma idêntica defecção coletiva, a cumplicidade fornecida a esta última terminará com corroborar, no individuo, a persuasão de estar na mais absoluta “normalidade”. Nem poderia acontecer de outro modo. O desvinculamento, de fato, de todo realismo metafísico e a consequente vertigem do “pensar” e de se tornar a realização da própria decisão do pensamento, oposta a seca peremptoriedade do próprio “dever ser”, não podem ter outra saída que na intencional falsificação da própria noção de normalidade, a qual perderá, assim, toda conotação de caráter ontológico para assumir sempre mais aquela de uma inadvertida coação imitativa de caráter puramente “estático” e condicionante. O condicionamento, todavia, como nota agudamente Baroni [3], “desliga a combatividade”, e isto a debilita e por fim cancela todo resíduo vigoroso espiritual, impedindo quase totalmente qualquer possibilidade de voltar para a verdadeira normalidade. O condicionamento representa, de fato, o ponto de queda além do qual o indivíduo que se entregou a verdadeira e própria alucinação que tem de si mesmo, não conhece outra via que a raivosa negação de toda normalidade autêntica e a mobilização de racionalizadas mentiras e de álibis que possam valer para desacredita-la.
Aquela «inteligência operaria», em que De Corte individuou a morte próxima da própria inteligência [4], vem não só a ofuscar de todo a visão espiritual, mas a fazer do condicionamento o lento plano inclinado que outros condicionamentos – recebidos como “progresso” sobre o plano coletivo e como “crescimento” sobre o plano individual – não faram que propiciar o próprio advento do inaudito.

Paradoxalmente, desta maneira, o orgulhoso “homo faber” termina com precipitar em uma “realidade” puramente postiça e de todo ordenada a fazer dele um insignificante e homologado “homo fabricatus”. A circunstância, depois, que ele troque o verdadeiro e próprio “cárcere sem muro”, em que se encerra, pelo trampolim de impulso de todos os seus “crescimentos” sociais ulteriores, não pode senão degrada-lo aos níveis ainda piores de um perene “homo fabricandus”.


2 - A miserável “honra” do escravo de si: a rebelião


O aspecto menos compreendido da tão glorificada “cultura” contemporânea – parto direto do cogito cartesiano – é a sua íntima vocação condicionante. O condicionamento para fabricar ou, como hoje se costuma dizer, para “reinventar” si mesmo, para “reinventar” a vida, mesmo a moral e até mesmo os papéis e os mesmos sexos não pode não andar em igual passo com o livre mercado da mentira e com a sólida falsificação das palavras. Assim, as próprias noções de emancipação e de liberdade, hoje tanto em voga, privadas como são dos seus significados legítimos – respectivamente de desvinculamento da sujeição ao próprio eu e da soberania sobre o próprio eu – terminam por serem distorcidas no seu contrário e por afirmar-se com as próprias moralidades da miserável “honra” prospectada do depravado, mas também lúcido, Nietzsche: “Auflehnung — das ist die Vornehmtheit am Sklaven” — “Rebelião – tal é a nobreza do escravo” [5]. Entre o “penso, então sou” e o “eu sou apenas a minha rebelião”, de resto, não subsiste uma gradação temporal. Subsiste apenas uma equivalência.

Esta longa premissa, da qual prolixidade nos desculpamos, era necessária para enquadrar nos justos referimentos aquele fenômeno pouco compreendido na sua espantosa medida devastante – sobre todos os planos – que toma o nome de feminismo.

A este respeito, vale imediatamente dizer que certamente não negamos como a mais genuína humanidade feminina tenha sido muitas vezes sacrificada pela crua celerada “libido dominandi” de uma humanidade masculina que entrou sempre mais em conflito com o próprio ”devo” em benefício do próprio ”quero”; nem seremos nós a negar como a «emancipação» do homem de Deus e do próprio “dever ser” tenha acabado com propiciar uma análoga “emancipação” da mulher do homem. Porque, se é verdadeiro aquilo que ensina o Apóstolo Paulo, e isto é que “o homem foi criado para a glória de Deus e a mulher para a glória do homem”, verdadeiro é também a consequente subordinação da mulher encontrar a sua glória apenas e unicamente na colaborativa obediência nos confrontos de um companheiro que fale, aja e ordene não segundo a própria inspiração, mas segundo Deus. Quem primeiramente não fornece o exemplo de saber “baixar a cabeça” e de “não querer sair do difundido” não tem nenhum direito a obediência da parte de quem ao invés tenha conservado uma tal capacidade e retidão.

Isto antecipado, seria de tudo fora do caminho onde se quisesse reconhecer no feminismo o prolongar-se de uma tal retidão e a consequente reafirmação de um princípio violado. É exatamente o contrário. Já o assimilar-se das mulheres afetadas por uma similar idiotia aos aspectos mais estimulados e mais celerados de grande parte da humanidade masculina contemporânea está indicando três coisas:
  • O reconhecimento de uma efetiva supremacia masculina, mesmo nos seus aspectos desviados;
  • Um ódio inatural e uma inveja ativa para com o outro sexo, por motivo de status considerado usurpador privilegiado e por base não natural, mas exclusivamente sociológica;
  • Uma vontade corrosiva e agressiva de generalização racista como típicos do outro sexo os seus aspectos mais indignos, com a única finalidade de mascarar o verdadeiro objetivo do próprio ataque: o homem ainda são e centrado.
Considerar a vontade vingativa e usurpadora do feminismo como uma espécie de remédio contra a crescente violência masculina – e não ao invés como o seu próprio elemento desencadeador e justificativo – equivaleria a sustentar que para desintoxicar-se de uma bebedeira de vinho se lhe deva tomar uma outra de whisky.

O reivindicacionismo feminista que tem em vista apenas como cobertura a denúncia de inegáveis e perdurantes opressões sofridas pelas mulheres, é na verdade o desencadeamento de um autêntico ódio metafísico contra toda providente e tutelar hierarquia natural e contra toda normalidade real da vida. A choramingante, obsessiva e entediante atenção desse ao assim chamado “problema da mulher” pode encontrar brecha apenas naqueles que – mulheres ou homens que sejam –  estejam já sugados pelos redemoinhos de uma cronolatria que intencionalmente expele do seu seio também a memória das medidas avaliativas perenes e isto, em exclusivo benefício da “fábrica” – jamais em “bilheteria econômica” – dos assim chamados “valores novos”. Só quem já abocanhou a isca de uma visão puramente das coisas, e se lhe deixou passivamente envolver, pode fingir não perceber o caráter exclusivamente pretextuoso do feminismo e só os cegos e os estúpidos voluntários podem não ser minimamente tocados pela ideia que entrou o cárcere alucinatório do desconsagrado mundo moderno “não se move uma folha que a loja não queira”. Mas tanto é: a primeira e decisiva vitória da agressão maçônica consiste no não ser advertida como agressão e de mobilizar pelo contrário ao seu serviço o concurso apaixonado das próprias vítimas designadas.

Os propósitos da maçonaria de querer antes de tudo animalizar a mulher com o fim de melhor corromper a Igreja e a sociedade são de resto notados por muitos e muitos decênios [6], e vale aqui fazer lhe aceno para capacitar-se de como o feminismo – ao lado do próprio comunismo e de qualquer outra esbórnia revolucionária – outro não seja que o instrumento viciado provisório, mesmo se certamente por ora o mais conspícuo, de uma mais vasta e articulada conjuração, entendida a entregar o domínio da consciência nas espertas mãos dos tecnocratas da alucinação e dos vampiros de qualquer resíduo de realidade e de sanidade moral. Acerca dos quais seremos totalmente fora do caminho, se lhes acreditássemos “envolvidos”, não menos que suas vítimas, nas esbórnias e nas evasões suicidas que vão excitando. Ainda que há tempo erigiram a “morte a razão!” a “profecia” de uma humanidade “renovada”, eles se olham bem em deixar morrer a própria e tem lucidamente presentes duas coisas: que não podem excitar quimeras sem a preventiva corrosão e demolição de qualquer realismo metafísico e que só estabelecendo o primado das alucinações é depois possível erigir a único referimento uma bruta mecânica homologante, dentro da qual, “skinnerianamente”, será suficiente para ativar determinados “estímulos” a fim de que os indivíduos deem, de vez em quando, as “respostas” desejadas [7].

Que o inteiro orbe esteja sempre mais se tornando um imenso “país dos entretenimentos” podem não vê-lo apenas aqueles que se afundam satisfeitos na incessante orgia das evasões, sem minimamente suspeitar de dever-lhe sair no fim, como dóceis e estúpidos asnos de circo. É impossível verdadeiramente que quem, excitado pela própria intolerante vaidade e pela própria brama animal, se seja deixado deliberadamente “comer” o cérebro possa apenas duvidar ser, não um individuo “realizado”, mas um obtuso quadrúpede velhacamente conduzido pela corda.

E não outra que uma obtusa e suscetível “dignidade animalesca” é aquela conquistada precisamente pelas mulheres que se deixaram encantar pela sirene feminista. Mas tal é agora o nível do seu vício que tem por “normal” uma tal “dignidade” que não se conscientiza do engano em que caiu. Tanto a não ver nem mesmo a total degradação a que lhe conduziu a sua assim chamada “emancipação”. Tanto de não se perceber – envaidecidos agora como são da própria voluntária estupidez – da fraude que está na base da sua conquistada “cultura” e do fato que esta foi em larga medida confeccionada por homens corruptos, que porém, no interior do cúmplice encantamento de uma similar “cultura”, podem também passar por “grandes intelectuais” e por “venerandos filósofos”.

A verdadeira misoginia tem o que fazer exclusivamente com eles, e nada absolutamente, ao invés, com o assim chamado “machista”. A bem construída mancha deste último, de fato, vale apenas como “para-raios” para desviar a atenção de quem verdadeiramente é animado pelo propósito de subjugar mulheres e jovens mediante a sua corrupção. É sintomático, por outro lado que os jovens sejam declarados “maduros” cedo demais quando antes estão “estragados”, e que os chamados “problemas dos jovens e das mulheres” são apenas aqueles – andando a agitar – de inventar as melhores técnicas de subjugar lhes uns e os outros mediante adulação e envolvimento protagonístico.

3 – Teilhard De Chardin, péssimo jesuíta e falso cientista.

O advento da “Matrix aeterna”

Uma obscura solidariedade acomuna o cartesiano “volo dubitare de omnibus” a vulgar “vontade de duvidar” da própria noção de pecado que fermenta nos delírios declaradamente feministas de Teilhard de Chardin [8].

A apriorística desvalorização do ser por ele operada em benefício de uma obscura e inextinguível tensão vitalista inerente na matéria e procedente em estados evolutivos marcados por uma sempre mais liberada “autoconsciência” não faz que repetir em outro modo a já acenada pretensão cartesiana de querer “extrair o inteligível do sensível”, e em boa substância de fazer do elemento espiritual uma mera superestrutura do elemento material.

Se, todavia, o acenado élan vital de bergsoniana memória, que faz da “matéria matrix” uma espécie de simultânea “vagina mundi” e “vagina spiritus”, pega os movimentos do seio desta última como biosfera para evolver para a noosfera de uma animalidade tornada humanidade consciente e sempre mais em grau de dirigir o seu próprio processo evolutivo, o ponto ômega de um tal processo, e isto é a «inflexível» resolução do humano no divino, pressupõe o caráter fetal deste último. Pressupõe, em suma, a preeminência procriativa do elemento “mater” sobre o elemento “pater” e a depreciação automática da paternidade a começar pela divina.

Onde se explicam as ímpias falsificações de Deus desejada por não poucos “teologueses” nos termos de um “ Deus – mãe”, de um “Deus andrógeno” e de uma “Mãe eterna”, ou os verdadeiros e próprios cultos de Gea que fermentam na blasfêmia militante da “New Age” e que levam as honras das mais estrepitosas vendas nas livrarias os mentecaptos falsários de Nosso Senhor, em nome de um “Graal” de confecção maçônica e explicitamente ginecocrático. E todavia, colocar a “mulher” como pólo atrativo de todas as reservas passionais e criadas pelo homem – mais nas formas de uma carnalidade que excluí toda finalidade procriativa – não pode não descender a degradação do amor a obtusa fruição animal e da própria mulher a mero “animal fruível”.

O alieno panorama que lhe consegue não é apenas aquele de uma liquefação de identidade nativa, da forma, por assim dizer, na orgia do indistinto coletivo e de uma promíscua e agregante materialidade, mas é sobretudo aquele de colocar o sentido da própria humanidade na ativa cooperação de um tal processo dissoluto. Lhe basta. Do momento que na direção inflexível de um tal processo indefinidamente “parturiente” o homem é inscrito como simples e provisório momento evolutivo, Teilhard de Chardin não hesita em patrocinar o emprego de técnicas genéticas aptas a acelerar a “cerebralização coletiva”, e isto é o salto do humano individual no alieno divinizado de uma espécie de monstruosa e indistinta “materialidade pensante”; e pensante e agente em modo gelidamente unitário, sobre o modelo das abelhas e das formigas. Deve ser compreendido que em tal processo permanecem excluídos aqueles que são chamados a acelera-lo “cirurgicamente”, vale dizer aqueles “cientistas” (leia-se também aqueles “altos iniciados”) que o de Chardin não hesita em colocar nos vértices do governo planetário. Compreende então o sinal do estudioso helvético Titus Burckhardt quando revisa em um tal infame desenho o antefato instrumental, ou para melhor dizer a necessária caixa de ressonância para o advento do Anticristo [9].

Não é só o “sono da razão” a gerar monstros, mas o é também a vigília febril de uma razão ofuscada por si mesma. Em um caso como no outro não está tanto em causa a razão, quanto a qualidade do querer [10]. E é quando a razão se adormenta ou se ativa apenas para fazer-se serva de um querer depravado que essa termina por fazer-se também a escória reveladora.

O apaixonado e quase maníaco dispêndio da “inteligência” permanece ao serviço de uma autêntica apoteose do feminismo da parte de Teilhard de Chardin não chega a mascarar uma subterrânea motivação de caráter decididamente turvo e manipulativo. Um subterrâneo rudimento misógino – nos termos de uma intolerância pela verdadeira sanidade feminina e pelos obstáculos que essa opõe, em via normal, a toda sorte de escravização libertina – parece verdadeiramente encontrar indireta confirmação no substancial pan-sexualismo erigido por este péssimo jesuíta e falso cientista a pré-ordenado enobrecimento de qualquer possível licença.

Portanto, não é abusivo deduzir que, se este é o mecanismo psicológico que tem animado as visões e as propostas daqueles que são, talvez, um dos mais conspícuos apologistas do feminismo, a agressiva corrosividade deste último não seja tanto por vez contra a bem distribuída mancha machista, ou em socorro das “mulheres oprimidas”, quanto ao invés contra toda residual sanidade dos homens e das mulheres indiferentemente. E, sempre indiferentemente, tudo isto não pode que ser querido por homens e por mulheres literalmente obcecados pelo demônio do poder. Por homens e por mulheres, os quais, na sua infame lucidez, sabem perfeitamente que uma das mais astutas técnicas de escravização consiste propriamente em alimentar tal mito.

4 – Impotência e poder


A luminosa sabedoria de sempre tem assim advertido: ”Quem quer um poder, já por isso não o merece”, tendo bem presente que o ordenar-se ao ser é já potência por si mesmo. Ordinariamente, todavia, os seres humanos se dividem naqueles que, por assim dizer, praticam a “conjugação existencial” do verbo ser e naqueles que, ao invés, praticam a “conjugação existencial” do verbo poder. Nos primeiros a humilde e pronta fidelidade ao próprio lugar e limite fornece suficiente energia espiritual para não sair fora da moral e do bom senso. Nos segundos, ao contrário, a lívida impotência que vem eles ao ambicionar aquilo que sabem perfeitamente de não encontrar saída na presunção de que basta apenas apossar-se de qualquer poder para ditar como legítima qualquer usurpação sua.

Em palavras mais breves, são aqueles que se fizeram culpavelmente impotentes reclamando um poder.

 E nada além disto, precisamente, é a induzida condição psicológica que torna tão agressivas as feministas. Não por acaso uma das suas perenes fixações é aquela de querer contar sempre mais; e isto não por méritos particulares (salvo que imaginária), mas para a “reinvenção” operada sobre si mesmas. Daqui, portanto, a insípida piada da “mulher narrada pela mulher” ou a idiotia – muito cartesiana, para dizer a verdade – inerente naquele famoso “eu sou minha” que faz pensar tanto em uma sorte de “orgulho da inveja”. Daqui, também a arrogância de uma  sub dolosa violência sexual permanente, atuada mediante vestuários e atitudes deliberadamente provocatórios, e todavia ansiando pelo seu “respeito” em nome de um “poder de liberdade” que se quer “afadigosamente conquistado” e que ao contrário é só desejo, cínico e hipócrita descuidado dos efeitos, não certamente “suaves” e “respeitosos”, que, por pulsão natural, vão excitar no outro sexo. Já no começo dos anos Oitenta, Sérgio Gozzoli [11], na sua qualidade de médico, denunciava, em um admirável artigo, todo o desconcerto, e em muitos casos a verdadeira e própria desesperação, dos homens jovens que a ele recorriam para receber conselho e ajuda, constritos como eram a sufocar a própria identidade viril e não considerar as provocações sexuais de que já então eram sujeitos, para imolar estoicamente a uma e as outras sobre o altar de todas as mais “sacrossantas”, intocáveis e licenciosas “liberdades” femininas. Mas de tais problemas ninguém jamais teve a impopular coragem de falar, até que depois os homens acabaram por embrutecerem-se ulteriormente por sua vez, chegando a níveis de ferocidade e de torpeza tais a tornar credível a incumbência de uma autêntica extinção da “raça masculina”.

Benedictus Umber

Notas:
 [1] Merecem ser assinalados, a este respeito, algumas interessantes considerações e assinalações de Julius Evola, notoriamente “expert irmão” sobre muitas “coisas secretas” e bem “iniciado” em seu oculto significado. Ele admite como mais que legítima a hipótese de pensadores como Déscartes “não serem privados de relações com ambientes secretos formando, por assim dizer, do fulcro a ação histórica de forças obscuras”. Depois de ter sublinhado como “os elementos mais importantes da ideologia maçônico-revolucionária do século XVIII seriam dificilmente concebidos sem o cartesianismo”, ele faz notar como caráter aparentemente “católico” da sua filosofia, não seja outro que uma hábil cobertura, a benefício dos “profanos”, intencionada a ocultar as “sementes”, por assim dizer, de todas as plantas venenosas que do seu “cogito” seriam depois desenvolvidas no tempo. Não se pode dizer, portanto, que o filósofo francês não se tivesse consciência do caráter divisor – ainda que a “explosão muito retardada” – das suas teses.  
No mesmo escrito, o E. relata também uma exaurente documentação relativa a possível militância rosa-cruciana de Déscartes em qualquer caso aos seus mais que intuídos contatos com ambientes menos penetráveis pela maçonaria.
Enquanto o lema a ele caro – “bene vixit qui bene latuit” – se referiria sutilmente a um propósito de ocultamento do caráter puramente esotérico do “cogito”, a sigla com que amava abreviar o próprio nome e sobrenome latinizados – R.C.- não pode não levar a nota sigla, R+C, dos Rosa Cruz.
Ver J. Evola, Scritti sulla massoneria, Settimo Sigillo, Roma, 1984, p. 103 — 110, 11 filosofo mascherato.
[2] V. Gioberti, Introduzione allo studio della filosofia, Bocca Ed., Milano, 1941, XX, vol. II, p.86, sgg. Sull’insostenibilità del cogito vedi anche C. Cardona, René Descartes: discorso sul metodo, L’Aquila, 1975, partc., pp.23,24.
[3] P. Baroni, La guerra psicologica, Ciarrapico Ed., Roma, 1986, p.77.
 [4] M. De Corte,  A inteligência em perigo de morte, tit. orig. L’intelligence en péril de mort, tr. O. Nemi, Volpe Ed. Roma, 1973, p. 7. Entre muitas outras, merece ser aqui mencionada esta lucidíssima afirmação: “[…] Basta que a inteligência desvie o olhar dos seres e das coisas que o conceito significa, para fixa-lo exclusivamente sobre o conceito mesmo, sobre o fruto das suas vísceras, vale dizer sobre si mesma e sobre a própria subjetividade criadora. A corrente de alimentação que vai da realidade concebida ao conceito vem então quebrada, e, no mesmo tepo, também aquela que torna da expressão a realidade expressa. A experiência vital do real não nutre mais o conceito. O conhecimento degenera em construção de andaime, em arquitetura de fórmulas. Esquemas abstratos substituem a energia e o vigor da conjugação orgânica da inteligência com a realidade. Ao contrário de surgir da experiência dos seres e das coisas e de se refornecer continuamente, em uma espécie de circuito vital, o conceito se torna uma forma fabricada de procedimentos mecânicos no laboratório do cérebro. Ao invés de esposar pela transparência a realidade, isso a encapsula atrás de suas opacas paredes”. Ivi, p.24
[5] F. Nietzsche, Also sprach Zarathustra, Gesammelte Werke 7, Ungekürzte Ausgabe, Goldmanns Gelbe Taschenbücher, München, 1952, Vom Krieg und Kriegesvolke, p. 38.
[6] H. Delassus, Il problema dell’ora presente: antagonismo fra due civiltà, Roma, 1907, p. 254: “Diceva Vindice: Corrompiamo la donna. Corrompiamola insieme alla Chiesa; corruptio optimi pexima“. Cit. in A.Z., L’occhio sopra la piramide, Ed. Spirito e Verità, p. 28.
Para uma completa documentação sobre este aspecto particular, e para uma mais atenta recognição sobre realidades maçônicas atuais do fenômeno feminista ver o ótimo e muito exauriente La donna alla luce della teologia cattolica, Atti del 2° Convegno Nazionale di studio del movimento Chiesa Viva, Firenze, 16 — 17 — 18 settembre 1975.
 [7] Sobre as modalidades as quais a organicidade da realidade social pode ser corrompida em verdadeiro e próprio “mecanismo”, com caracteres de previdibilidade funcional a manipulação oculta e sobre aspectos sempre mais terrificantes de um tal mecanismo ver o insubstituível A. Cochin, Meccanica della rivoluzione, tit. orig. La Révolution et la libre—pensée, Rusconi ed., Prima edizione, Milano, 1971. Sullo stesso tema e dello stesso A., vedi anche Lo spirito del Giacobinismo, una interpretazione sociologica della Rivoluzione Francese, tit. orig. L’Esprit du Jacobinism, Tascabili Bompiani, Milano, 1989.
 [8] Sobre a figura e a obra de um tão desconcertante personagem, ver partc. . A. Drexler e L. Villa,Analisi di un’ideologia (Pierre Teilhard de Chardin), tit. orig.. Teilhard de Chardin Analyse einer Ideologie, Ed. Civiltà, Brescia, 1970; Sac. L. Villa, Il gesuita massone ed eretico Teilhard de Chardin, Ed. Civiltà, Brescia, 2006. Sobre as aberrantes implicações da gnose teilhardiana, ver o louvável ensaio de tais implicações P. Prini, Plotino e la genesi dell’umanesimo interiore, Abete, Roma, pp.15,16,19,20. Sulla totale inconsistenza scientifica dell’ evoluzionismo, vedi p.e., G. Sermonti R. Fondi, Dopo Darwin — Critica all’evoluzionismo, Rusconi Libri, s.p.a., Milano, 1988. Sulle incredibili “patacche” rifilateci dagli evoluzionisti si rinvia a R. Sermonti, Rapporto sull’evoluzionismo, Ed. Il Cinabro, Catania, 1985.
[9] T. Burckhardt, Scienza moderna e saggezza tradizionale, saggio, Die Herkunft der Arten (L’origine della specie), Documenti di cultura moderna, collana diretta da A. Del Noce ed E. Zolla, Borla Ed. Torino, 1968, nt. p.82.
[10] Sobre o primado axiológico da vontade livre, ver em partic. A. Dalledonne, Il rischio della libertà: S. Tommaso — Spinoza, Marzorati Ed., Settimo Milanese,1990 e Valenze etico — speculative del realismo metafisico, Marzorati, Settimo Milanese, 1993. Dello stesso A. vedi anche L’esercizio del Cristianesimo nel Diario di Soeren Kierkegaard, in Renovatio, luglio — settembre 1985, anno XX, n.3, pp. 407,428. De excepcional relevância são as demonstrações adotadas por Dalledonne a sustento do quanto afirmado sobre este aspecto decisivo da Doutrina de sempre. Em todos os seus numerosos e notáveis escritos o A. faz notar como o primado correntemente acordado a pura faculdade racional do homem não faz que subverter as suas próprias hierarquias interiores, em cima das quais não pode não existir que um ativo transcendimento do próprio “pensar”, em benefício próprio não ignorado “dever ser” e da direção supra – racional. Tudo isto que sai fora de uma tal tensão volitiva ou que a deixe submeter-se a uma estreita “racionalidade” sem outra direção que para si mesma, não é que grosseiramente o mascaramento do “cogito”, e isto é “cultura” no sentido desconsagrado corrente. Tanto é verdadeiro que a “cultura” e a “ideologia” vêm sempre mais reduzir-se a um “catolicismo” que se deixou capturar por uma tal ordem de referimentos. Quase que o homem, para merecer-se o Paraíso, não deva fazer mais conta sobre a própria “bona voluntas”, mas sobre suas capacidades de pensamento, e talvez sobre sua “graduação”. E é claro como, a um olho atento, próprio em uma tal atitude possa revelar-se o sintoma de um interior tanto mais triste quanto maior seja a sua exterior manifestação de obséquio para a chamada “cultura”. 
[11] S. Gozzoli, Il nodo del costume sessuale, in L’uomo libero, Rivista trimestrale, Anno III N° 10, Milano, 1982, pp.41, 58.

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