DON ELIA: A SORTE DA ÁRVORE QUE NÃO PRODUZ BOM FRUTO


D. Elia
Tradução: Gederson Falcometa

"O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo." A profecia de São João Batista, no texto grego, indica, por meio de vozes do presente com significado de futuro próximo, uma ação iminente. Os exegetas modernos sustentam de costume que a visão messiânica do Precursor, que anunciava um juízo imediato, teria sido desmentida pelo aparecimento de um Messias todo misericórdia e perdão. Eles explicam em tal sentido a embaixada dos díscipulos, que vão da parte do profeta já encarcerado, colocar para Jesus a fatídica pergunta: «Sois vós aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro?» (Mt 11, 3). O maior entre os nascidos de mulher, como o Senhor mesmo o qualifica ao identificá-lo como o mensageiro que Lhe preparou o caminho, a saber como aquele Elias que deveria vir (cf. Mt 11, 10-11.14), teria talvez sido corroído por uma dúvida radical que poderia danificar toda a sua missão e o próprio sacrifício da sua vida, que se consumaria dali a pouco? Mas como poderia ter podido errar, a este propósito, o amigo do Esposo que se alegra imensamente ao ouvir a Sua voz, ao ponto de declarar plena a medida de sua própria alegria (cf. Jo 3, 29)?


A profecia, na realidade, se cumpre em tempo relativamente breve, considerando aquele de Deus e a Sua paciência. Se assim não fosse, seria necessário admitir que o Verbo Incarnado errou o alvo, quando anunciou que àquela geração seria pedido a conta do sangue de todos os profetas (cf. Lc 11, 50-51). Não se trata certamente de uma advertência isolada: «Se não vos converterdes, perecereís todos do mesmo modo» (Lc 13, 3.5), afirmou referindo-se as calamidades daquele tempo. Para imprimi-lo melhor no coração dos ouvintes, contou a parábola do homem que tinha um figueira plantada na vinha e que por três anos (aqueles do ministério público de Jesus) esperou inutilmente que desse fruto. Diante do pedido para abatê-la, o feitor obtém mais tempo para adubá-la, admitindo que, se ainda permanecer infrutuosa, será necessário cortá-la (cf. Lc 13, 6-9). Mas a que coisa se referia o Salvador? Todo o caminho de aproximação da Cidade santa estava prenhe de tensão pelo drama que estava para se consumar, no qual, paradoxalmente, o julgado julgará o seu povo: o sinal de contradição - até a morte de cruz - será a ruína para quem o rejeitar, ressurreição para quem o acolher (cf. Lc 2, 34).

O juízo anunciado por Batista era portanto realmente iminente; a execução da sentença, todavia, sobrevirá quarenta anos depois, ao término do tempo deixado pela Providência ao povo de Israel para que se convertesse: «Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não quiseste! "Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta» (Mt 23, 37-38). Depois de Pentecostes, a Igreja nascente sofrerá uma sanguinária perseguição por parte da sua própria nação, com a lapidação de Estevão, a decapitação de Tiago de Zebedeu, o encarceramento de Pedro e tantos outros sofrimentos... No momento pré-estabelecido, chegará o inevitável castigo pelo qual o Senhor tinha chorado na vigília de Sua paixão: "“Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz! [...] Não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada» (Lc 19, 42.44). 

A árvore estéril, sobre a qual estava para abater-se o machado do vingador, era portanto o judaísmo talmúdico, que assassinou o Messias para conservar a si mesmo e não perder o próprio poder, a tal ponto de apostatar formalmente reclamando a morte do Rei divino e reconhecendo um imperador pagão como soberano (cf. Jo 19, 15). Evidentemente chegou a tal ponto porque, atrás da cortina fumígena de um culto hipócrita a Deus, adoravam na realidade o demônio (cf. Jo 8, 44); é por isso que, mesmo depois da catástrofe de 70 d.C. e até aos nossos dias, eles continuam a combater a Igreja com todos os meios, chegando até mesmo a infiltrarem-se no seu interior e a fazer aprovar por um Concílio documentos em claro contraste com a verdade revelada e fielmente transmitida por quase vinte séculos. Isto não significa, porém, que a própria Igreja se perverteu (coisa impossível), mas que é oprimida por uma classe de pessoas que não tem fé. Não é o papado em si mesmo que pode desnaturar-se, mas quem o detém que pode abusar do poder conexo exercitando-o para fins espúrios. Não é o episcopado que pode prostituir-se ao mundo, mas só uma parte dos seus membros, muitos ou poucos que sejam.  

No nosso caso, a árvore infrutuosa que está para ser abatida não pode ser a Igreja militante, mas as estruturas pastorais que não pertencem a sua constituição divina e que não dão mais fruto. Diferentemente das instituições do Antigo Testamento, que eram uma preparação provisória ao cumprimento do desígnio de Deus, a Igreja está destinada a permanecer por toda a eternidade, embora em uma condição glorificada que ainda não foi alcançada. Os elemento essenciais de governo, culto e doutrina que recebeu dos Apóstolos, mesmo que sejam necessários a sua peregrinação terrena no céu já serão supérfluas, devem perdurar até o fim dos tempos, até o retorno do Esposo em toda a Sua glória. É então gravemente errôneo e culpável atacar a Igreja sem distingui-la da quem lhe ocupa abusivamente os centros nevrálgicos. Quem iria insultar a própria mãe chamando-a de prostituta? Alguém está indubitavelmente decidido a perder a luz da razão, para se opor a heresia, concedendo desse modo ao diabo uma vitória inesperada? Alguém quer lançar-se aos seus pés, na ilusão de resolver a crise atual com precipitação e meios humanos?

É o Senhor que abaterá a figueira estéril - e o fará por meio de instrumentos por Ele escolhidos. Queremos substituir-nos a Ele, ou nos candidatarmos a tal missão sozinhos? É a Virgem em pessoa a ter transmitido essa ordem a algum eleito que se credencia por si mesmo? Ao que parece, existe quem erigiu o próprio juízo privado em norma suprema do magistério; a sucessão apostólica é apenas um opcional que Cristo inventou apenas para endossar todas as supostas revelações que entupiriam a vida eclesial... O pior problema é que no povo de Deus, clero e leigos, reina uma ignorância terrificante do Evangelho, enquanto se deixam absorver e distrair por uma multidão de pretensas mensagens celestes, as quais, ainda quando são autênticas, não são indispensáveis a salvação e não requerem um assentimento de fé divina, mas só humana: a primeira é a adesão incondicionada que, sob a ação do Espírito Santo, um católico é tido a prestar a Revelação pública; a segunda é apenas o resultado de um juízo prudente, emetido como êxito de um discernimento operado com a razão.

Preparemo-nos para o castigo com a oração, a penitência e a caridade para com todos. Se o Dono da eira está prestes a limpá-la completamente, é preciso procurar com todos os meios ser aquele trigo que será armazenado com segurança no celeiro, ao invés de encontrar-se no joio que será queimado com fogo inextinguível (cf. Mt 3, 12). Nesta imagem, em perspectiva, transparece seguramente o juízo final, mas se perfiliam também os juízos intermediários com o qual a misericordia divina agita os homens a fim de que se convertam, para desse modo evitar a eterna condenação; os castigos temporais tem a finalidade de esconjurar a pena definitiva. Duas guerras mundiais, uma pior que a outra, não foram o suficiente para recuperar o juízo da humanidade, magrado a urgente advertência de Nossa Senhora de Fátima. Que coisa devemos esperar hoje, visto que o mal não fez senão progredir e estender-se em todos os campos, até chegar a níveis impensáveis? Peçamos a humildade e o realismo de quem sabe reconhecer quando a resolução de um problema supera as possibilidades humanas e requerem então uma intervenção divina; só assim poderemos cooperar com os planos da Providência e sustentar a prova purificadora.

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