DON NICOLA BUX: O CASTIGO QUE NOS SALVA - PARTE I




Don Nicola Bux
Tradução: Gederson Falcometa
 
Limite

No agravar-se da crise da civilização ocidental, se ergue a grande interrogação: O que é o homem diante da presunção de superar o seu próprio limite, combinando as armas da ciência e do direito? Parece evidente que a pedra angular do discurso sobre o homem é o limite da sua liberdade. Um limite a não circunscrever o âmbito da fé, mas a buscar - segundo o convite de Pascal a viver “como se Deus existisse", relançado por Ratzinger aos não crentes - na verdade inscrita no coração de cada homem e nas leis imutáveis do direito natural. Defender a pessoa e a sua autêntica liberdade, é um imperativo categórico para qualquer um que tenha no coração a sorte do Ocidente e da humanidade (cfr C.Ruini-G.Quagliariello, Un’altra libertà. Contro i nuovi profeti del paradiso in terra, Rubbettino, Soveria Mannelli 2020, p.7-9).

Podemos ver esta epidemia como “um sinal dos tempos”, no sentido antes de tudo de uma advertência ao mundo: tantos abraços e tantas relações, mesmo contra a natureza, dos quais, agora, como uma pena de retaliação, precisamos nos abster. Desafiamos a lei natural e cometemos os “pecados que gritam ao céu por vingança”. Que dizer da infidelidade e da indiferença daqueles que vivem no ateísmo pratico e postulam a natureza emancipada de Deus! E depois adultérios, abortos e divórcios. Desprezamos os direito de Deus e colocamos no seu lugar os direitos do homem. O que há por trás disso? Me associo a conclusão da recente intervenção do Professor Stefano Fontana:

“Infelizmente a secularização nos habituou a pensar a cada nível como autônomo: a técnica autônoma da ciência, a ciência autônoma da política, a política autônoma da ética, a ética autônoma da religião... Cada degrau estaria apto a alcançar automaticamente os próprios fins, e sustentar o contrário será integralismo. Mas o Fim último não é como o último degrau de uma escada, a qual simplesmente é acrescentado aos precedentes, ao invés disso ele coincide com o Principio. Nenhum degrau intermediário pode se fazer sozinho: “Sem mim nada podeis fazer”.  (La messa è essenziale per il bene comune, La NBQ 09.03.2020).
 


Me recordou que Don Giussani dizia: Deus não tem nada a ver com a matemática. Bento XVI também disse isso em um discurso aos jovens da diocese de Roma. Retornando ao discurso de Fontana, vem em mente uma passagem debatida na Gaudium Et Spes sobre a autonomia das realidades temporais: se com tal expressão “se entende que as coisas criadas não dependem de Deus, que o homem pode usar-lhes sem referir-lhes ao Criador, então todos aqueles que acreditam em Deus advertem o quanto falsas são tais opiniões. A criatura, de fato, sem o Criador desaparece”GS 36. Se deve aplicar esta convicção a concepção ecologista hoje difusa, que o criado anda errante se não intervém o homem; mas isto é contra o ensinamento da Revelação, sufragado por tantos Padres e doutores, se pense apenas em Clemente, Atanásio e Tomás. 
  
Advertência

Mas, esta epidemia é também uma advertência aos homens da Igreja, que, em nome da “mudança de paradigma”, subordinam o ensinamento da Igreja a realidade do mundo; dizem não entender os princípios inegociáveis; consideram a desigualdade e não o pecado, a raiz dos males sociais; permitiram a cena gnóstica e neopagã sobre a fachada de São Pedro; abandonaram a missão do Evangelho e a necessidade de conversão, em favor do diálogo agradável com as religiões, o Deus católico pelo deus único; apresentaram Lutero como medicina para a Igreja; endossaram a moral de situação no lugar dos princípios morais. Em uma palavra, com a mudança de paradigma confirmaram a mentalidade mundana. Na verdade, desde a origem do cristianismo, as comunidades cristãs, circundadas por costumes não certamente sóbrios, similares aos atuais, não importavam em aceitar a mentalidade corrente. Ao contrário, aos Padres, tinham no coração o diferenciar-se de modo claro das posições próprias do paganismo. Aquele mundo, tão distante dos ideias evangélicos, não é destinatário de compreensão e não foi agradado, mas desafiado. Ao invés disso, os documentos pastorais falam muitas vezes de desafios, mas depois não lhes afrontam e cedem ao mundo, ao seu pragmatismo. Mas no recente Sínodo, ao invés de promover as vocações sacerdotais e o celibato, estávamos lançando os viri probati e imaginando novos ministérios para a mulher, a conversão ecológica ao invés daquela do coração, a economia global ao invés daquela da salvação, uma Igreja sinodal ao invés daquela querida por Jesus Cristo, hierarquicamente ordenada, até a mudar as fórmulas sacramentais e o Pater Noster, considerando que Deus, para o nosso bem, não possa nos introduzir na prova.

O vírus tornou tudo vão. Agora o Papa, tão preocupado com o pueblo, permaneceu sem o povo; os Padres, tão inebriados com a participação, estão sem fiéis; os fiéis, tão habituados as liturgias comunitárias, sofrem o abandono, para não terem sido ensinados a adoração, ao recolhimento de joelhos, a oração pessoal, feita em segredo, onde só o Pai nos vê. No tempo da gripe asiática (1969) e da cólera (1973) ainda estávamos habituados a oração pessoal. Em substância, quisemos exaltar o corpo eclesial, não nos preocupamos com os membros individuais; hoje não sabemos rezar pessoalmente; estamos fisicamente na liturgia, mas cada um nem recebe e nem dá. As Igrejas estão desoladas, fiéis e pastores como exilados.  

Um prelado alemão disse alguns meses atrás, talvez inconscientemente: “nada será como antes”. Na verdade desde as origens do cristianismo aos Padres não importava descer a pactos com o mundo. No debate sobre a Amazônia, se reduziram o celibato e a liturgia a questões internas da Igreja, esquecendo que esses tem finalidade missionária, são dirigidos ao mundo a fim de que receba eficazmente o anúncio do Evangelho. Falamos abundantemente de “palavra de Deus” e esquecemos de acrescentar que nela temos a Revelação do Deus vivo. Agradou-nos remover o Crucifixo do centro das nossas Igrejas, ainda mais o tabernáculo do Santíssimo, e substituir-lhe apressadamente pelo Ressuscitado e com a cadeira do celebrante. Seguramente, depois desta praga, para quem tiver olhos para ver, ouvidos para ouvir, coração para pensar, na Igreja e no mundo nada será como antes. O Senhor mostrou outras vias!

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