GUSTAVE THIBON: A VERDADEIRA LIBERDADE


Gustave Thibon
Tradução: Gederson Falcometa

Definir a liberdade como independência esconde um perigoso equivoco. Não existe para o homem uma independência absoluta (um ser finito que não dependa de nada, seria um ser separado de tudo, eliminado da própria existência). Mas existe uma dependência morta que o oprime e uma dependência viva que o faz transbordar. A primeira destas dependência é a escravidão, a segunda a liberdade. Um homem forçado depende de seus grilhões, um agricultor depende da terra e das estações: estas duas expressões designam realidades bem diversas. Voltemos as comparações biológicas que sempre são mais iluminantes. Em que consiste o “respirar livremente”? Talvez no fato de pulmões absolutamente “independentes”? Nada disso: os pulmões respiram tanto mais livremente quanto mais solidamente, mais intimamente estão ligados aos outros órgãos do corpo. Se esta ligação se afrouxa, a respiração se torna sempre menos livre e, no fim, ela pára. A liberdade é função da solidariedade vital. Mas no mundo das almas esta solidariedade vital recebe um outro nome: se chama amor. A segunda da nossa atitude afetiva em relação a eles, os mesmos vínculos podem ser aceites como vínculos vitais, ou repelidos como grilhões, os mesmos muros podem ter a dureza opressiva da prisão ou a íntima doçura do refúgio. A criança estudiosa corre livremente para a escola, o verdadeiro soldado se adapta amorosamente a disciplina, os esposos que se amam florescem nos “vínculos” do matrimônio. Mas na escola, na caserma e na família são horríveis prisões para o estudante, o soldado ou os esposos sem vocação. O homem não é livre na medida em que não depende de nada ou de ninguém: é livre na exata medida em que depende daquilo que ama, e é prisioneiro na exata medida em que depende daquilo que não pode amar. Assim o problema da liberdade não se coloca em termos de independência, mas em termos de amor. O poder do nosso afeto determina a nossa capacidade de liberdade. Por mais terrível que seja o seu destino, aquele que pode amar tudo está sempre perfeitamente livre, e é neste sentido que se falou da liberdade dos santos. No extremo oposto, estão aqueles que não amam nada, consideram belo quebrar vínculos e fazer revoluções: permanecem sempre prisioneiros. No máximo conseguem trocar uma escravidão por outra, como um doente incurável que se vira em seu leito.

Gustave Thibon, “Ritorno al reale”

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