STEFANO FONTANA: MISSA E BEM COMUM, CATÓLICOS DIVIDIDOS


Do contágio, como de toda outra dificuldade em alcançar o bem comum, nos salvará só a ação humana ou sobretudo aquela divina? No primeiro caso Deus não faz parte do bem comum e as Missas não são necessárias mas se forem úteis, no segundo caso a Missa se torna um ato político irrenunciável. Melhor, para os Bispos, a crítica moderada de Riccardi e Melloni que os louvores de Grillo.


Stefano Fontana
La Nuova Bussola Quotidiana
Tradução: Gederson Falcometa

A suspensão das santas Missas logo após as disposições governativas desencadeou uma interessante discussão sobre o bem comum e relação entre instituições políticas e instituição religiosa. Todos os componentes do mundo católico estão comentando, mas a novidade consiste sobretudo na disputa no círculo interno dos católicos de esquerda onde, se Andrea Riccardi ou Alberto Meloni criticam a suspensão das Missas, Stefano Sodaro e Andrea Grillo criticam as suas críticas.

A diversidade de impostações depende sobretudo da diferente resposta a uma pergunta: as dificuldades que os homens encontram no perseguir o bem comum tem apenas causas materiais ou também espirituais e religiosas? Se elas tem apenas causas materiais, então celebrar as Missas não tem nada a ver. Se ao invés elas tem também causas espirituais e religiosas então a celebração das Missas tem tudo a ver.

A isto segue uma outra pergunta: admitido que não tenham apenas causas materiais mas também espirituais e religiosas, a celebração da Missa será apenas útil ou também indispensável para afrontar-lhes e resolver-lhes? As Santas Missas serão um remédio ou só um integrador? Uma operação cirúrgica ou um paracetamol? Terapia ou cosmético? O coronavírus coloca evidentemente em risco o bem comum. Se explica apenas com a ciência? Ou muitos aspectos da sua difusão tem também a ver com o pecado humano, no sentido de uma desordem nas relações entre os homens e Deus? Do contágio, como de toda outra dificuldade no alcançar o bem comum, nos salvará só a ação humana ou sobretudo aquela divina? No primeiro caso Deus não faz parte do bem comum e culto público a Ele devido não é necessário mas se for só útil, no segundo caso o culto público a Deus se torna um ato político irrenunciável.


Riccardi, Melloni, Enzo Bianchi criticam a suspensão das Missas considerando a religião católica útil mas não indispensável. A culpa dos Bispos seria uma “grande preguiça burocrática” e as Missas, se mantidas, teriam significado de “intercessão, silêncio, fraternidade, compaixão: hábitos virtuosos que são medidos sempre e só pela credibilidade de quem lhes endossa” Melloni. A suspensão das Missas provocou “o esmagamento da Igreja sobre as instituições civis. As Igrejas não estão apenas se reunindo em risco, mas também em um lugar do espírito: um recurso em tempos difíceis, que suscita esperança, consola e recorda que não nos salvamos sozinhos” Riccardi. A parte este último aceno a salvação, a ideia principal é a Missa como alimentadora de confiança social, de colaboração cívica, de esperança laica. Não se lamentam tanto da suspensão da Missa, quanto da suspensão da Missa coram populo, porque deste modo diminuí a sua utilidade social.

Estas posições moderadas são redarguidas pelo teólogo Andrea Grillo, espantado que a sustentar similares teses sejam católicos de esquerda. Grillo teme o retorno ao “primado da graça”, ao desprezo pela ciência e pela medicina, a contraposição entre saúde do corpo e saúde da alma, como se a Igreja devesse se ocupar apenas da segunda, a uma nova contestação ao princípio de sanidade pública independente da Igreja. O seu principal problema é o bem comum que, ele diz, é o bem dos ateus e dos crentes, devotos e agnósticos, religiosos e ateus “todos parte de uma mesma comunidade que encontra na Constituição, não no Evangelho que é referência da fé, a própria identidade”. O seu medo é que se coloque em questão a laicidade do bem comum por parte de um novo clericalismo e que retorne ao princípio de que não se tem autoridade se ela não vier de Deus.

A posição moderada de Riccardi e Melloni se contrapõe então aquela radical de Grillo. Para os primeiros a questão do coronavírus não tem a ver essencialmente com a religião, mas esta pode animar ações sociais úteis a um “espírito de família” pelo significado também cívico. Para o segundo essa não tem nenhuma relação com a religião nem mesmo considerada útil, ao invés disso se tem o perigo de danificar o empenho laico e secular pelo bem comum. Para os primeiros os bispos cederam muito, para o segundo agiram corretamente.

Eis então o quadro das três principais posições católicas. Para alguns a ação dos bispos acerca da suspensão das Missas é louvada enquanto respeitosa do bem comum entendido como a exclusão de qualquer significado religioso. Outros exprimem uma crítica moderada porque as Missas teriam ajudado a esperança civil e o cristianismo perdeu a ocasião de ser útil, mesmo se não deve ser considerado indispensável. Enfim existem as críticas mais radicais para recordar que os jogos do bem comum se fazem na terra mas sobretudo no Céu e a fé católica não é apenas útil mas também indispensável.

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