VIDA: INSTRUÇÃO PARA O USO


Anônimo
Radio Spada
Tradução: Gederson Falcometa

«Seríamos todos heróis, se colocássemos ao serviço da verdade e do bem a força que a cada dia dispensamos em perseguir o mal e a mentira, se fizéssemos para ser, aquilo que fazemos tão fácil e espontaneamente para parecer» Gustave Thibon
 
Escrevia Ortega y Gasset em 1930 «se a impressão tradicional dizia: “viver é sentir-se limitado e, por isso mesmo, dever fazer as contas com aquilo que nos limita”, a voz moderníssima grita: “viver não é encontrar alguma limitação, é portanto abandonar-se tranquilamente a si mesmo. Na realidade, nada é impossível, nada é perigosos e, por princípio, ninguém é superior a ninguém”». Eis descrito, em quatro linhas, a enfermidade do mundo moderno: o absolutismo individual, que faz com que o homem mediano se sinta livre de qualquer tipo de dever.

Se uma marca bem conhecida de relógios se orgulha de ser “no limits”, nós afirmamos que somos orgulhosos de ter limites,  enquanto representam o ponto em que chegamos e do qual somos capazes de prosseguir no caminho para ir além: «toda vida é luta, esforço para ser si mesma. As dificuldades com que me embato para realizar a minha vida são, precisamente, aquelas que despertam e colocam em movimento as minhas atividades, as minhas capacidades». É das dificuldades - dos limites impostos pelo real - que nasce a nobreza, entendida como contínuo desejo de melhorar: «para mim, a nobreza é sinônimo de vida corajosa, disposta sempre a superar a si mesma, a transcender aquilo que é, para aquilo que se propõe como dever e exigência».

Gustave Thibon, o filósofo camponês, elenca três características fundamentais da nobreza: o amor pelo trabalho, aquele pelo risco e a distância nos confrontos de si mesmo: «se o homem nobre coloca a razão da sua existência e a fonte de suas ações em uma fé, um ideal, um código de honra que se eleva enormemente acima do seu mesquinho eu». Por este motivo, «não há para ele sentido na vida se não a faz consistir a serviço de algo transcendental». O homem verdadeiro, portanto, não é aquele que é livre para fazer aquilo que quer - não é o homem que não deve exigir mais -, mas é o homem que deve continuar a exigir sempre mais de si mesmo. É aquele que vive «uma incessante disciplina. Disciplina - askesis». O homem nobre é o asceta. 

Nobreza significa aceitar o próprio destino: «viver significa ter algo específico a fazer - equivale a cumprir um encargo - e na medida em que nos iludimos em não submeter a uma tarefa a nossa existência, danificamos a nossa vida». Catolicamente falando, diremos que cada um de nós tem uma vocação precisa, estabelecida por Deus, que devemos levar a cumprimento no melhor dos modos. «Dado que a nobreza é definida como fidelidade a um chamado que nos supera, lhe segue existem tantas variedades de nobreza, quantas são as verdadeiras vocações». Nobreza no sacerdócio e na família, no trabalho e no estudo.

Ancorados em terra, alcemos o olhar para o céu, porque - lá de cima - os nossos mortos nos indicam «o caminho justo que é aquele do dever e do sacrifício».

Texto anônimo encontrado por Piergiorgio Seveso 

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