STEFANO FONTANA: NOVOS PADRES: SINODAIS, "MODERNOS", TUDO MENOS SANTOS




 Stefano Fontana
Tradução: Gederson Falcometa


Repensar o sacerdócio, este é o objetivo do Simpósio Teológico Internacional idealizado pela Congregação dos Bispos e apresentado à imprensa no dia 12 de abril pelo Cardeal Marc Ouellet. O simpósio realizar-se-á de 17 a 19 de fevereiro de 2022 e terá como tema geral “Por uma teologia fundamental do sacerdócio”. O simpósio - disse Ouellet - deve buscar a “conversão sinodal” e “oferecer uma visão renovada, um sentido do essencial, uma forma de valorizar todas as vocações, respeitando o que é específico de cada uma”.

Neste momento particular (e difícil) da vida da Igreja, iniciativas deste tipo suscitam interesse e, ao mesmo tempo, apreensão. Lendo as declarações do purpurado à imprensa, perguntamo-nos o que poderia surgir deste novo caminho e a possibilidade de novos saltos que nos afastam da tradição não nos deixam calmos. O esquema proposto por Ouellet joga em dois níveis que se referem um ao outro: o das novas necessidades dos tempos atuais, com a consequente urgência de atualização, e o do retorno às origens muitas vezes definidas como "essenciais". O risco é que, assim, o que está no meio, que costuma se chamar tradição, não seja levado em conta ou considerado de segundo plano, quando se estão em um meio no qual se dá subitamente o nome de tradição. Naturalemte, a tradição já existia no início e ainda existe, mas o padrão dos dois pólos - o de agora e o do futuro - corre o risco de esmagá-la ou superá-la através de uma longa ponte ou um longo parêntese.

Na apresentação do Cardeal Ouellet, emergem as exigências da sinodalidade que devem caracterizar o novo repensar do sacerdócio. Mas existe talvez um conceito mais confuso hoje do que este? O Sínodo da Amazônia e o atual da Igreja da Alemanha baseavam-se no princípio da sinodalidade. Ambos deram e estão dando frutos verdes e, em muitos casos, indigestos. A Igreja italiana também se prepara para o seu próprio sínodo, mas mesmo neste caso os motivos de preocupação superam em muito aqueles de entusiasmo e confiança. Num clima teológico confuso e fragmentado, sem uma orientação certa, como a atual, em um sínodo tudo pode acontecer.

O cardeal Ouellet define a sinodalidade desta forma: “Sinodalidade significa basicamente a participação ativa de todos os fiéis na missão da Igreja”. A expressão "participação ativa" tem os mesmos limites que a "actuosa participatio" dos fiéis durante a missa, que é a base da reforma litúrgica pós-conciliar e que pode ser facilmente compreendida - como de fato aconteceu em grande parte - no sentido de um protagonismo externo. Isto indicado pelo purpurado é um fundamento fraco para o novo simpósio sobre o sacerdócio e não oferece garantias sólidas de um bom resultado, antes nos induz a antever o contrário.

O "caminhar juntos", expressão habitualmente utilizada para definir a sinodalidade, nada tem de externo ou sociológico, mas exprime a adesão íntima ao Corpo de Cristo que é a Igreja no seu caminho histórico para a Consumação. Se, por outro lado, é usado neste sentido externo e sociológico, surge o perigo de considerar também o sacerdócio com estas chaves de leitura. Este perigo existe no simpósio pretendido pela Congregação dos Bispos? Existe, visto que, por exemplo, o cardeal Ouellet fala de "reajustes pastorais" para adaptar o sacerdócio às novidades do nosso tempo, como "questões ecumênicas" ou o "lugar da mulher na Igreja". A estas necessidades do nosso tempo, a teóloga Michelina Tenace, falando na apresentação na sala de imprensa, acrescentou os temas do celibato sacerdotal e a relação entre o sacerdócio comum e o sacerdócio universal

Nem para o fazer propositalmente, os órgãos de imprensa, a começar pelo Vatican News e a Agência Sir - ou seja, agências da mesma Igreja -, ao darem as notícias, centraram-se nestes temas: o papel da mulher e também o celibato. como na onipresente “conversão sinodal”, da qual puderam emergir novos impulsos no simpósio para padres casados ​​e as mulheres sacerdotes. Também é espontâneo imaginar uma reconsideração da ordem sagrada com respeito ao sacerdócio universal, tanto para atender às necessidades "ecumênicas" das relações com o mundo protestante a que Ouellet se referia, e que seriam acentuadas pelas migrações, quanto para dar novos fôlego para uma sinodalidade que evita o “clericalismo”, outra palavra, esta, hoje muito abusada.

Por ocasião da apresentação do simpósio na sala de imprensa, ninguém falou da “santidade” do sacerdote, que, afinal, é a única coisa que interessa e que é também a base da solução do assim chamados de problemas concretos. Um deles é considerado pelos organizadores do simpósio o da solidão dos padres. Mas Bento XVI disse que “quem tem fé nunca está só”. A solidão dos sacerdotes não se resolve com inovações sociológicas, ainda que todos os aspectos devam ser sempre considerados, mas antes de tudo com uma vida santa centrada em Jesus Cristo. O sacerdote não será menor só porque encontrará mais pessoas e não será ator de comunhão por causa de suas capacidades externas de socialização, mas porque e na medida em que exprimirá a santidade em sua conformação a Cristo.

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